A imagem de um pai segurando a mão da filha morta sob escombros rodou o mundo, causando forte comoção. O momento foi captado pelo repórter fotográfico Adem Altan, em Kahramanmaras, perto do epicentro do terremoto que devastou cidades e matou mais de 44 mil pessoas na Turquia e na Síria.
Quase três semanas após a tragédia, Altan voltou a se encontrar com o turco Mesut Hancer. Pai de quatro filhos, entre os quais a adolescente Irmak, que morreu aos 15 anos sob os escombros de um prédio de oito andares, ele deixou recentemente Kahramanmaras, no sudeste turco, e foi morar na capital, Ancara.
"Também perdi minha mãe, meus irmãos e meus sobrinhos no terremoto. Mas não há nada comparável a enterrar um filho. É uma dor indescritível", afirma Hancer. Sua família tenta agora reconstruir a vida longe de Kahramanmaras, localizada perto do epicentro do tremor de magnitude 7,8.
A foto de Hancer, indiferente ao frio e à chuva e vestindo um casaco laranja, simbolizou a tragédia vivida por milhares de pessoas e gerou uma onda de solidariedade. Um empresário de Ancara ofereceu-lhe uma casa e propôs contratá-lo como funcionário administrativo em sua rede de televisão privada.
Na sala de sua casa nova, ele pendurou um quadro, presente de um artista, no qual Irmak é retratada com asas de anjo ao lado do pai. "Não consegui soltar sua mão. Minha filha dormia como um anjo", diz Hancer.
Quando o terremoto ocorreu, às 4h17 de 6 de fevereiro (22h17 do dia 5, em Brasília), Hancer trabalhava em sua padaria. Imediatamente, ele ligou para a família e soube que sua casa tinha sofrido danos, mas que não havia desmoronado, e sua mulher e três de seus quatro filhos estavam sãos e salvos.
Mas a família não tinha notícias da filha caçula, Irmak, que naquela noite dormiu na casa da avó para passar mais tempo com as primas de Istambul, que foram visitá-las. Então, Hancer, muito preocupado, foi rapidamente para a casa da mãe e ali se deparou com o imóvel transformado em uma montanha de escombros. Em meio às ruínas, encontrou o corpo da filha.
Nenhuma equipe de socorristas apareceu na área nas 24 horas que se seguiram à catástrofe. Hancer e outros moradores tiveram que usar seus próprios meios para tentar encontrar familiares nos escombros.
Ele tentou retirar o corpo da filha morta, erguendo blocos de concreto com as mãos. Mas era uma tarefa impossível. Desesperado e frustrado, sentou-se ao lado do corpo de Irmak. "Peguei a mão dela, acariciei seu cabelo e beijei suas bochechas." Minutos depois, viu o repórter fotográfico que retratava as consequências do terremoto. "Faça fotos da minha filha", disse ele, com a voz embargada.
Após o terremoto no início do mês, a região convive com tremores secundários. Nesta segunda (27), pelo menos uma pessoa morreu e 69 ficaram feridas após um terremoto de magnitude 5,6 e profundidade de 6,15 km atingir o leste da Turquia, de acordo com a Afad, órgão de gestão de emergências e desastres.
Vários prédios já danificados desabaram com o novo sismo.
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