O Exército da Ucrânia sofreu de 10 mil a 13 mil baixas desde o começo da invasão do território do país pela Rússia, admitiu nesta quinta-feira (1º) o governo em Kiev. O conflito se prolonga há mais de nove meses e não tem perspectiva para acabar.
A estimativa, apresentada pelo assessor presidencial Mikhailo Podoliak em uma entrevista à rede Kanal 24, é a primeira divulgada por uma autoridade da gestão de Volodimir Zelenski ao menos desde agosto —à época, o número de soldados mortos segundo o governo era de aproximadamente 9.000.
As informações não podem ser verificadas de maneira independente, e é razoável supor que os números reais sejam maiores. Na guerra de versões entre Moscou e Kiev que caracteriza o conflito travado em terra, o balanço divulgado nesta sexta diverge consideravelmente, por exemplo, do apresentado por autoridades americanas.
O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas dos EUA, general Mark Milley, disse no mês passado que mais de 100 mil soldados russos teriam sido mortos em confrontos na Ucrânia, e que seria semelhante a essa quantidade a de militares ucranianos que perderam a vida.
Outro assessor de Zelenski, Oleksii Arestovich, contestou a informação e nesta quarta (30) ecoou o discurso de lideranças do país ao afirmar que o desempenho militar do país é superior ao do invasor. Sem precisar cifras, ele estimou que o número de mortes russas é sete vezes maior.
Estimativas de baixas civis não foram divulgadas. Nos últimos dias, porém, com o inverno no hemisfério Norte mais próximo e as temperaturas cada vez mais baixas, a preocupação quanto a um aumento no número de mortes aumentou. Kiev estima que metade da infraestrutura do país no setor tenha sido destruída em ataques de Moscou, o que deixou milhões sem fornecimento de eletricidade, aquecimento e água.
Ataques a alvos de infraestrutura são uma tática adotada por Vladimir Putin após os ucranianos alvejarem com sucesso a ponte que liga a Crimeia anexada em 2014 à Rússia.
Na semana passada, Zelenski afirmou que mais de 6 milhões de residências estavam sem luz, impactando cerca de 10 milhões de pessoas —ou um quarto da população que o país tinha antes da guerra. Novos apagões para economizar energia estão programados para todas as regiões, inclusive a capital, Kiev, em uma situação que autoridades dizem que pode se estender por toda a estação mais fria.
As declarações sobre o número de baixas militares se dão em um momento em que há poucos avanços no front de lado a lado. Após apresentar dificuldades militares, com o recuo de tropas para posições defensivas na região anexada de Kherson (sul), Moscou empreendeu ataques com dezenas de mísseis e drones, retomando um padrão não visto desde o começo da guerra.
Analistas veem Putin ganhando tempo para reorganizar suas forças, esperando o efeito da mobilização de cerca de 300 mil reservistas.
Segundo o alto comissário da ONU para Direitos Humanos, o austríaco Volker Türk, milhões de pessoas "foram jogadas em extrema dificuldade". A Rússia, por sua vez, tem tentado pintar a rede energética ucraniana como um alvo militar legítimo, negando intenção de provocar a morte de civis.
Diante do prolongamento da guerra e dos impactos econômicos em escala global, ganha corpo a ofensiva diplomática pelo fim do conflito. Nesta quinta, o presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou pela primeira vez em público que está disposto a conversar diretamente com Putin acerca de uma forma de encerrar a guerra.
A fala é a culminação de semanas de sinalizações por parte de Washington. Ainda que mantenha e reitere o apoio ao esforço de guerra de Kiev contra Moscou, Biden sugere que há limites para sua disposição.
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