O ex-primeiro-ministro do Paquistão Imran Khan foi baleado na perna nesta quinta-feira (3), quando ao menos um homem abriu fogo contra o comboio em que ele viajava.
Membros de seu partido, o PTI, alegam que o incidente foi uma tentativa de assassinato planejado pelo sucessor de Khan na liderança do país, Shehbaz Sharif, mas não apresentaram provas disso. "Se o atirador não tivesse sido parado, toda a liderança do partido teria sido morta", disse à Reuters o porta-voz da legenda, Fawad Chaudhry.
O ataque ocorreu em Wazirabad, na província de Punjab, no leste do país. O ex-premiê, que busca retomar o poder após ter sido destituído, viajava em uma caravana de veículos em direção à capital, Islamabad.
Khan foi baleado três ou quatro vezes na região da canela, mas está fora de perigo, tendo sido transferido para um veículo a prova de balas logo após os disparos e depois encaminhado a um hospital em Lahore. Os médicos disseram que os exames iniciais mostraram fragmentos de projéteis na perna do político.
Uma pessoa morreu na confusão e outras nove ficaram feridas.
Assessor-sênior do político, Raoof Hasan afirmou à rede Al Jazeera que um dos supostos atiradores foi morto e outro acabou detido pela polícia. A emissora ainda reportou que, em Islamabad, há relatos de bloqueios de rodovias e pneus incendiados por apoiadores do ex-premiê, intensificando o temor de uma revolta popular maior.
Khan vinha liderando protestos exigindo eleições antecipadas, parte de sua "longa marcha" iniciada na capital de Punjab, Lahore, há menos de uma semana. À medida que o comboio passava por cidades e vilarejos, ele subia em um palanque improvisado em cima de um caminhão para discursar para multidões.
As eleições estão marcadas para agosto do ano que vem, mas o ex-premiê está impedido de participar delas —ele foi proibido pela comissão eleitoral de concorrer a cargos públicos por cinco anos, por suposta venda ilegal de itens estatais e ocultação de bens. Ele recorre da decisão na Justiça.
Ex-campeão de críquete, Khan foi eleito em agosto de 2018, após uma campanha marcada por acusações de manipulação por parte do Exército, considerado uma espécie de "mão invisível" a guiar a política do país, que enfrentou vários golpes de Estado ao longo de sua história.
A oposição acusava Khan de má gestão da economia e da política externa, e sua popularidade estava baixa depois de três anos seguidos de inflação de dois dígitos e da enorme dívida pública.
Desde que foi afastado, em abril, ele alega ter sido vítima de uma conspiração articulada pelos militares, por seu sucessor e pelos EUA —acusações negadas por todos. Em maio, o ex-premiê chegou a gravar um vídeo afirmando correr risco de vida, listando os nomes dos que teriam maquinado contra ele.
Sharif, o atual premiê, condenou o ataque contra o antecessor e ordenou que o Ministério do Interior inicie imediatamente uma investigação. "Rezamos para uma recuperação rápida de Imran e dos demais feridos. A violência não deveria ter lugar na política", afirmou ele em um comunicado distribuído à imprensa.
O caso repercutiu no exterior. A Nobel da Paz Malala Yousafzai, que é paquistanesa, afirmou que "ataques a líderes de quaisquer credos políticos ou partidos são sempre um erro". A Casa Branca condenou o episódio e o premiê canadense, Justin Trudeau, rotulou o episódio de inaceitável e afirmou que incidentes do tipo "não têm lugar na política, na democracia ou na sociedade".
Esta não foi a primeira vez em que a violência assombrou o governo do novo primeiro-ministro. Na semana passada, o jornalista Arshad Sharif, conhecido defensor de Khan que havia fugido do país alegando perseguição estatal, foi morto em circunstâncias mal explicadas em Nairóbi, no Quênia, alvejado por policiais quando o carro em que estava ultrapassou um bloqueio sem parar.
O episódio provocou indignação no Paquistão e pedidos de abertura de uma investigação. O repórter, que era ainda um crítico feroz do Exército, foi por muitos anos âncora de um dos programas de notícias do horário nobre de uma emissora local.
O país tem ainda um longo histórico de violência política, que inclui o assassinato da ex-primeira-ministra Benazir Bhutto, em 2007, e a deposição e o enforcamento do também ex-premiê e pai da política, Zulfikar Ali Bhutto, em 1979.
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