Colômbia e ELN chamam Brasil para atuar como garantidor de negociações de paz

Conversas do governo com representantes da guerrilha foram retomadas sob a gestão de Gustavo Petro

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Caracas | Reuters e AFP

O governo da Colômbia e a guerrilha ELN (Exército de Libertação Nacional) decidiram chamar nesta sexta-feira (25) os governos do Brasil, do Chile e do México para que também atuem como garantidores das negociações de paz que procuram encerrar seis décadas de conflitos. As partes propuseram ainda uma participação dos Estados Unidos.

As conversas, que estavam suspensas desde 2019, foram retomadas na segunda-feira (21) em Caracas, na Venezuela, como parte de promessas feitas na campanha por Gustavo Petro, que assumiu a Presidência em agosto. Sob seu governo, a Colômbia retomou os laços diplomáticos com o país do ditador Nicolás Maduro, e a volta das negociações com o ELN faz parte da mesma lógica.

A partir da esq., o dirigente do ELN Pablo Beltrán, o representante do regime venezuelano Carlos Martínez Mendoza e o alto comissário para a paz de Bogotá, Iván Rueda, em entrevista coletiva após a retomada das negociações, em Caracas
A partir da esq., o dirigente do ELN Pablo Beltrán, o representante do regime venezuelano Carlos Martínez Mendoza e o alto comissário para a paz de Bogotá, Iván Rueda, em entrevista coletiva após a retomada das negociações, em Caracas - Leonardo Fernández Viloria/Reuters

Após cinco dias de discussões, o governo colombiano e o ELN divulgaram comunicado em que relatam, com tom otimista, avanços em um "ambiente de confiança" entre as partes. Representantes de Brasil, Chile e México devem se juntar a Cuba, Noruega e Venezuela no papel de fiadores do processo e da fiscalização de compromissos assumidos.

Não está claro quando o convite será feito nem se a participação brasileira se daria sob atribuição do governo de Jair Bolsonaro (PL) ou do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que assume em janeiro e é próximo de Petro.

Washington também será encorajado a nomear um enviado especial para participar da mesa. "Concordamos em realizar ações diplomáticas com o governo dos EUA para saber sua disposição de participar desse processo", informou nota divulgada pela Noruega.

Antes, na terça (22), Pablo Beltrán, chefe da delegação do ELN, havia chamado de nefasta a participação americana nas negociações iniciadas no governo do ex-presidente Juan Manuel Santos (2010 a 2018).

"O papel dos EUA na América Latina foi nefasto para os processos de paz. O que foi instalado na Colômbia, em 2016, teve a oposição de várias agências americanas", afirmou Beltrán. Desta vez, disse esperar que Washington tenha atitude "proativa e de apoio".

Já os europeus Alemanha, Suécia, Suíça e Espanha serão chamados para participar no processo como acompanhantes. Sem divulgar detalhes, o governo colombiano e o ELN também se comprometeram a promover ações de ajuda humanitária.

Durante a campanha eleitoral, Petro prometeu buscar a "paz total" na Colômbia, promovendo avanços em relação ao acordo firmado em 2016 com as Farc. A ideia do esquerdista é que todos os envolvidos no conflito colombiano sejam ouvidos e tenham a possibilidade de cumprir penas reparatórias em troca de relatos sobre suas ações, o compromisso de não repeti-las e serviços às vítimas.

A estratégia recupera em certa medida a que havia sido adotada pelo então presidente Santos em 2016, ao estabelecer as negociações, baseadas no Equador. O político dizia acreditar que não haveria como reduzir os níveis de conflito no país apenas com a desmobilização das Farc.

Em 2019, porém, o ataque a uma escola de cadetes em Santander, no qual 22 estudantes morreram e mais de 70 pessoas ficaram feridas, desencadeou a interrupção das conversas com o ELN, já no governo de Iván Duque —que pensava diferente do antecessor e reforçou o discurso punitivista.

Considerada a última guerrilha em atividade no país, o ELN nasceu nos anos 1960 e é conhecido por ter, desde então, apego mais sistemático a ideias marxistas. Sua atuação se concentrou em sequestros, extorsões e participação no narcotráfico. O fim das Farc abriu novas rotas, facilitando a entrada da guerrilha em território venezuelano, onde hoje possui quartéis e acampamentos de treinamento.

Tentativas anteriores de negociação com o ELN, que tem cerca de 2.400 combatentes e foi fundado em 1964 por padres católicos radicais, não avançaram em parte por causa da dissidência dentro de suas fileiras. Os líderes daquela que é conhecida como última guerrilha da Colômbia dizem que o grupo está unido, mas não está claro quanta influência os negociadores têm sobre as unidades ativas.

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