Quando Elizabeth 2a assumiu o trono, em 6 de fevereiro de 1952, o Reino Unido se recuperava da Segunda Guerra Mundial e vivia os momentos finais do Império Britânico. Por três séculos o país havia se situado como uma potência militar, econômica e cultural, com territórios espalhados da América à Oceania. Mas os séculos 20 e 21 seriam de um lento processo de declínio.
Ainda que o país deixado pela rainha, morta nesta quinta (8) aos 96 anos, se mantenha entre os mais poderosos do mundo —é a sexta maior economia do planeta—, a resistência de seu protagonismo geopolítico é uma incógnita para as próximas décadas.
Cinco anos antes do começo do reinado de Elizabeth 2a, o Império Britânico havia perdido uma de suas possessões mais valiosas: a Índia; parte de um movimento de descolonização que se espalharia por África, Ásia e Caribe. No fim da década de 1990, Hong Kong, o último dos territórios significativos, foi devolvido para a China.
Simultaneamente, a chefe da monarquia se empenhava pessoalmente para fortalecer a Commonwealth, da qual foi chefe até 2018, quando passou a função para seu filho, o agora rei Charles 3º. A associação voluntária de nações tem 56 membros atualmente, mas quase nenhuma relevância geopolítica.
Essa condição única contribuiu para que o Reino Unido estivesse praticamente alheio ao que acontecia naquela época na sua vizinhança, do outro lado do Canal da Mancha. Menos de dez anos após a criação da Commonwealth moderna surgiu, em 1957, a Comunidade Econômica Europeia, base do bloco político e econômico que se tornaria o mais importante do mundo.
Foi só em 1973 que os britânicos aderiram ao grupo, mas nunca de forma integral. Na virada para o século 21, escolheram, por exemplo, não adotar o euro como moeda única, o que não foi obstáculo para o papel protagonista que dividiam com Alemanha, França e Itália. Uma relação considerada mais horizontal do que a com os Estados Unidos, em que por vezes ocupa o lugar de sócio minoritário.
Mas aí veio o brexit, aprovado em referendo em 2016, para mudar tanto o posicionamento do Reino Unido no jogo internacional quanto as certezas sobre a permanência de sua força global. A saída foi concretizada há mais de dois anos, mas a rainha morreu sem saber quais serão as reais consequências da despedida da UE.
Na tentativa de relançar sua política externa, o governo do Partido Conservador persegue, paralelamente ao brexit, a ambição de formar uma Grã-Bretanha Global, com alianças para além da Europa, notadamente na área dos oceanos Índico e Pacífico. A pandemia e a Guerra na Ucrânia colocaram areia no avanço do projeto, além de terem significados distintos para a imagem do país.
Enquanto a condução inicial da Covid-19 ficou distante daquela adotada pelos vizinhos europeus, a atuação contra a Rússia —com Boris Johnson sendo um dos mais vocais parceiros de Kiev, e a atual primeira-ministra Liz Truss servindo de sua secretária de Relações Exteriores— reaproximou o país da cúpula ocidental.
Para os analistas Jeremy Shapiro e Nick Witney, do Conselho Europeu de Relações Exteriores, em um mundo de crescente competição geopolítica, avanços autoritários e coerção geoeconômica, Londres deveria combinar seus interesses com os de parceiros semelhantes.
"Com os EUA cada vez mais absortos e focados no Indo-Pacífico e na China, a UE é o parceiro geopolítico necessário do Reino Unido", escreveram em artigo publicado em dezembro. "A Grã-Bretanha Global é uma ilusão enraizada em um passado imperial mal evocado."
Após 70 anos de reinado, a rainha deixa um país que entre as maiores economias do mundo, membro do G7, com assento permanente no Conselho de Segurança da ONU e ampla influência cultural. Resta saber o que Charles 3º, a primeira-ministra Liz Truss e companhia pretendem fazer com isso.
Países em que o monarca britânico é chefe de Estado
- Austrália
- Antígua e Barbuda
- Bahamas
- Belize
- Canadá
- Granada
- Jamaica
- Papua-Nova Guiné
- Reino Unido
- São Cristóvão e Névis
- Santa Lúcia
- São Vicente e Granadinas
- Nova Zelândia
- Ilhas Salomão
- Tuvalu
Países que integram o Commonwealth
- África do Sul
- Antígua e Barbuda
- Austrália
- Bahamas
- Bangladesh
- Barbados
- Belize
- Botsuana
- Brunei
- Camarões
- Canadá
- Chipre
- Dominica
- Eswatini
- Fiji
- Gabão
- Gâmbia
- Gana
- Granada
- Guiana
- Ilhas Salomão
- Índia
- Jamaica
- Kiribati
- Lesoto
- Maláui
- Malásia
- Maldivas
- Malta
- Maurício
- Moçambique
- Namíbia
- Nauru
- Nigéria
- Nova Zelândia
- Papua-Nova Guiné
- Paquistão
- Quênia
- Reino Unido
- Ruanda
- Samoa
- Santa Lúcia
- São Cristóvão e Névis
- São Vicente e Granadinas
- Serra Leoa
- Seychelles
- Singapura
- Sri Lanka
- Tanzânia
- Tonga
- Trinidad e Tobago
- Tuvalu
- Togo
- Uganda
- Vanuatu
- Zâmbia
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.