À medida que dimensiona os danos deixados por chuvas torrenciais em agosto, o Paquistão realça ao mundo um alerta dos efeitos da emergência climática. Relatórios oficiais divulgados nos últimos dias mostram que o número de mortos em meio às inundações passa de 1.500 —ao menos 528 são crianças.
Entre os sobreviventes, o principal desafio tem sido o controle de doenças infecciosas, facilmente transmissíveis devido às aglomerações intensificadas por ondas de deslocados. Só na quinta-feira (15) 90 mil pessoas receberam tratamento em hospitais. O país tem 225 milhões de habitantes.
Números da província de Sindh, uma das quatro que formam o país, confirmam 588 casos de malária e outros 10,6 mil suspeitos, além de quase 18 mil de diarreia e 20 mil de doenças de pele. Desde 1º de julho, quando as chuvas tiveram início, 2,3 milhões de pacientes foram tratados em hospitais de campanha móveis.
O premiê Shehbaz Sharif, falando no Uzbequistão durante encontro da Organização de Cooperação de Xangai, grupo criado em 2001 para debater interesses mútuos na Eurásia, chamou a atenção para a situação de seu país. "Crianças estão pegando malária, todos os tipos de doença; milhões de pessoas vivem a céu aberto", relatou.
Chuvas recordes nas monções no sul do país, potencializadas pelo derretimento de geleiras ao norte, desencadearam as enchentes que afetaram 33 milhões de pessoas, destruindo plantações e infraestrutura urbana. A água acumulada pode levar meses para ser escoada, segundo o governo.
Calcula-se que os danos cheguem a US$ 30 bilhões (R$ 158 bi). O cenário reduzirá o crescimento do PIB para cerca de 3% —a estimativa inicial era de 5%. O país já enfrentava uma grave crise econômica, com desvalorização da rupia paquistanesa e inflação que superava 27%.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) descreveu a situação local como "muito mais do que sombria". "Muitas mães estão anêmicas e desnutridas e têm bebês de muito baixo peso", relatou Abdullah Fadil, representante da agência no país. "As mães estão exaustas ou doentes e não conseguem amamentar."
"Milhões de famílias foram forçadas a deixar suas casas, agora vivendo com pouco mais do que trapos para se proteger do sol escaldante, já que as temperaturas em algumas áreas passam de 40°C."
As chuvas registradas de julho a agosto somaram 190% do volume médio ao longo dos últimos 30 anos para o período de monções, que, desta vez, começou mais cedo que o usual e se estendeu por mais tempo. Na província de Sindh, as chuvas atingiram 466% da média.
O Acnur, Alto Comissariado da ONU para Refugiados, calcula que cerca de 16 milhões de crianças foram afetadas e pelo menos 3,4 milhões delas continuam precisando de apoio emergencial.
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