Ao menos 43 presos morreram nesta segunda (9) em novo confronto entre facções criminosas no Equador. Desta vez, o incidente ocorreu na prisão de Bellavista, em Santo Domingo de los Tsachilas, a cerca de 80 km de Quito. Há pouco mais de um mês, conflito semelhante deixou 20 detentos mortos.
Segundo o ministro do Interior, Patricio Carrillo, o motim começou ainda na madrugada, quando membros da gangue conhecida como Los Lobos entraram em confronto com os de outra facção —a transferência do líder de um dos grupos é apontada como um motivo para o tumulto. A maioria das mortes, de acordo com a pasta, foi proveniente de esfaqueamentos ou perfurações com outros objetos cortantes.
Ao perceber a agitação, a polícia atuou primeiro nos pavilhões comuns e depois realizou ações para controlar a área de segurança máxima. Cerca de 220 presos conseguiram fugir do presídio, mas, segundo o governo equatoriano, 112 já foram recapturados pelas forças de segurança.
Os feridos, muitos dos quais devido a espancamentos, foram transferidos em vans e ambulâncias para receber atendimento médico —parentes dos presos se aglomeraram ao redor da prisão atrás de notícias.
Depois de controlar a situação, as autoridades planejam realizar uma vistoria no prédio à procura de armas. Os líderes das gangues envolvidas deverão ser transferidos para uma prisão na província costeira de Guayas, no sudoeste do país, local que também registrou massacres recentes; lá, um motim em setembro deixou ao menos 116 mortos.
Confrontos em presídios têm se tornado frequentes no Equador, o que o governo atribui ao enfrentamento a quadrilhas ligadas ao tráfico de drogas. Desde o início de 2021, 350 detentos foram assassinados.
De acordo com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, o sistema carcerário no país é prejudicado pelo abandono do Estado e pela ausência de uma política abrangente, além de condições precárias para os presos. Hoje, segundo a agência de notícias Reuters, as prisões equatorianas abrigam 35 mil pessoas, cerca de 15% além da capacidade máxima.
Fora das penitenciárias, o clima também é de insegurança: nos primeiros quatro meses do ano, 1.255 mortes violentas foram registradas no país. Em todo o ano de 2021, foram cerca de 2.600.
No final de abril, o presidente Guillermo Lasso voltou a decretar estado de exceção, citando justamente a violência impulsionada pelo narcotráfico. Com a medida, as províncias de Guayas, Manabí e Esmeraldas terão maior policiamento e toque de recolher por 60 dias. Lasso disse que 4.000 agentes da polícia e outros 5.000 das Forças Armadas seriam distribuídos entre as três regiões para "impor a paz e a ordem".
Lasso já havia decretado estado de exceção em todo o país em outubro passado. À época, o equatoriano, um ex-banqueiro envolvido no caso Pandora Papers, chegou a ameaçar decretar o mecanismo conhecido como "morte cruzada", que permite que o presidente dissolva a Assembleia Constitucional.
Com ele, em sete dias a partir da publicação do decreto o Conselho Nacional Eleitoral deve convocar eleições para todos os cargos do Legislativo e para a Presidência. Até lá, Lasso governaria por decreto.
Nesta segunda, Lasso lamentou em um post no Twitter as mortes no presídio e enviou suas "mais profundas condolências às famílias e entes queridos daqueles que morreram". "Este é um resultado infeliz da violência das gangues", afirmou. O presidente equatoriano está em viagem diplomática a Israel.
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