Mais cinco países europeus anunciaram nesta terça-feira (5) a expulsão de diplomatas da Rússia em retaliação contra a guerra na Ucrânia.
O movimento ganhou especial força após a descoberta de uma série de corpos de civis em Butcha, nos arredores de Kiev, jogados pelas ruas e em valas comuns, o que ensejou acusações contra os russos de crimes de guerra e pedidos de investigação.
O governo ucraniano afirma que entre 150 e 300 corpos foram encontrados em apenas uma cova coletiva ao lado de uma igreja. A Rússia nega atacar civis e chama as imagens de farsa e de provocação de Kiev.
Em retaliação, nesta terça, Itália, Espanha, Dinamarca e Suécia anunciaram a expulsão de dezenas de diplomatas. "A medida está em acordo com outros parceiros europeus e do Atlântico e é necessária por razões ligadas à nossa segurança nacional", disse o chanceler italiano, Luigi Di Maio, sobre a determinação que atingiu 30 diplomatas russos.
O ministro das Relações Exteriores espanhol, Jose Manuel Albares, afirmou que o país despacharia 25 russos que, em suas palavras, "representam uma ameaça aos interesses e à segurança" do país.
Na Dinamarca, 15 diplomatas foram enviados de volta a Moscou. O chanceler, Jeppe Kofod, se referiu aos acontecimentos em Butcha como "outro exemplo de brutalidade, crueldade e crimes de guerra" e justificou a expulsão como "um sinal claro para a Rússia de que espionagem em solo dinamarquês é inaceitável".
Na Suécia, a espionagem também foi o motivo alegado para a expulsão de três diplomatas. A Eslovênia, por sua vez, anunciou a expulsão de 33 representantes de Moscou.
Na segunda-feira (4), Alemanha e França já haviam anunciado medidas semelhantes. O número exato de diplomatas afetados não foi divulgado, mas, segundo a agência de notícias AFP, foram 40 de Berlim e 35 de Paris.
Moscou reagiu aos anúncios. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, descreveu as decisões como lament��veis e sinais de uma miopia dos países europeus, dizendo que inevitavelmente levarão a respostas recíprocas.
O Kremlin nega ter atacado civis em Butcha. Nesta terça, Peskov afirmou que as imagens dos cadáveres são "uma farsa que busca difamar o Exército russo e não vai funcionar". Ele pediu que a comunidade internacional se "desapegue de percepções emotivas e pense com a cabeça". "Comparem os fatos e entendam a farsa monstruosa com a qual vocês estão lidando", disse.
Imagens de satélite publicadas na segunda-feira pelo jornal americano The New York Times mostraram que corpos de civis estariam nas ruas de Butcha já durante a ocupação russa. Moscou argumenta que suas tropas teriam deixado a cidade em 30 de março e que os cadáveres foram colocados lá para incriminar o país.
No Brasil, em audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado nesta terça, o embaixador russo, Alexei Kazimirovitch, questionou as imagens. "Pessoalmente não tenho confiança nenhuma nas fotos distribuídas ontem e hoje, porque o fato é que as tropas russas deixaram essa cidade no dia 30, no dia seguinte das conversações de Istambul", disse. "Eu não tenho confiança no New York Times."
Nesta terça, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, cobrou, em discurso ao Conselho de Segurança da ONU, atitudes para punir a Rússia pelo que ele chama de crimes de guerra.
"Estamos lidando com um Estado que transformou seu [poder de] veto no Conselho de Segurança da ONU no direito à morte", disse Zelenski. Por ser membro permanente da entidade, a Rússia tem direito de barrar resoluções do órgão, ao lado de China, França, EUA e Reino Unido. "A Rússia quer transformar os ucranianos em escravos silenciosos."
O líder ucraniano ainda voltou a dizer que Putin precisa ser julgado por crimes de guerra, comparando as ações russas às de grupos terroristas. "Como isso é diferente do que os terroristas do Estado Islâmico fazem nos territórios ocupados?", questionou. "Isso nega o direito de um povo à autodeterminação e a um Estado independente; insiste em uma política de destruição da diversidade étnica e religiosa."
Mais cedo, ao falar sobre as negociações com os russos, Zelenski havia dito que era "difícil conversar" depois de ver o cenário de massacre, sinalizando que só haverá avanços nas negociações com um reconhecimento por Moscou do que suas tropas fizeram.
O embaixador russo na ONU, Vassili Nebenzia, reagiu afirmando que o país não ataca civis e chamando as acusações de mentirosas.
No conselho, o embaixador da China, parceira estratégica da Rússia, afirmou que as imagens são "muito perturbadoras", mas acrescentou que as circunstâncias das mortes devem ser verificadas e que qualquer acusação deve ser baseada em fatos.
Em reação às imagens do massacre em Butcha, os EUA e países aliados devem ampliar as sanções econômicas contra a Rússia. A proposta da União Europeia é barrar o comércio de uma série de produtos, entre semicondutores e computadores, que somariam 9 bilhões de euros em importações e 10 bilhões de euros em exportações.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que o bloco trabalha para proibir também a importação de combustível russo. "Todos vimos as horríveis imagens de Butcha e de outras regiões de onde as tropas russas saíram recentemente. Essas atrocidades não podem e não vão ficar sem resposta", escreveu no Twitter.
Proibir a importação de carvão russo teria um impacto de 4 bilhões de euros nas importações da Rússia, segundo ela. O valor, no entanto, é pouco significativo perto dos 100 bilhões gastos em 2021 com combustível e gás natural da Rússia —um terço do gás natural usado pela Europa vem dos russos.
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