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Ucrânia decreta estado de emergência, e Zelenski diz que Rússia aprovou ofensiva

Presidente teme ação militar russa de larga escala; EUA dizem que tropas de Moscou esperam sinal para ação

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São Paulo

O Parlamento da Ucrânia aprovou nesta quarta-feira (23) uma declaração de estado de emergência válida para todo o país, exceto para as duas regiões no leste, onde já há uma medida do tipo em vigor desde 2014.

Nessa situação, o governo pode impor restrições de deslocamento, na distribuição de informações e no que é divulgado na mídia, além de introduzir conferência de documentos de cidadãos. O presidente Volodimir Zelenski propôs a introdução do estado de emergência mais cedo, diante de uma possível ofensiva militar russa de larga escala.

Soldado do serviço de controle de fronteira ucraniano faz guarda na divisão de área com rebeldes pró-Moscou, em Lugansk
Soldado do serviço de controle de fronteira ucraniano faz guarda na divisão de área com rebeldes pró-Moscou, em Lugansk - Gleb Garanich/Reuters

Em pronunciamento de 10 minutos divulgado à noite pelo aplicativo Telegram, o mandatário disse que a "Rússia aprovou uma ofensiva contra a Ucrânia" e acusou o presidente Vladimir Putin de não responder a seus pedidos por reuniões. "A resposta foi o silêncio", disse, em tom emocionado, falando em russo.

Segundo Zelenski, seu país está cercado por até 200 mil soldados de Moscou, e o que ele busca não é o conflito. "O povo ucraniano quer paz. O governo da Ucrânia quer paz e está fazendo tudo o que pode para alcançá-la", afirmou.

Ele ainda atacou a declaração de Putin de que Kiev nunca constituiu um Estado verdadeiro. "Vizinhos sempre enriquecem culturalmente uns aos outros", disse. "No entanto, isso não os torna um único todo. Não nos dissolve em você. Somos diferentes, mas isso não é motivo para sermos inimigos."

A tensão na Ucrânia, que vinha aumentando desde novembro com o deslocamento de tropas russas em sua fronteira, chegou a um novo patamar nesta semana após Putin reconhecer duas autoproclamadas províncias étnicas russas.

O mandatário havia também anunciado o envio de tropas para esses locais, mas voltou atrás no dia seguinte. Houve relatos, porém, de que militares de Moscou estariam na região.

Em entrevista coletiva nesta quarta, o porta-voz do Pentágono, John Kirby, reafirmou o que o governo americano já vinha dizendo: que a iniciativa envolvendo Donetsk e Lugansk marca o início de uma invasão russa na Ucrânia. "Eles estão se movimentando para essa região, não para além dela, mas não conseguimos especificar os números [do contingente] e sua capacidade."

Kirby também voltou a declarar que os EUA acreditam que os russos estão prontos para invadir, mas que só Putin sabe quando isso ocorrerá. "Continuamos a vê-lo formar suas capacidades de forma que nos leva a acreditar que estamos potencialmente próximos a uma ação", pontuou. O porta-voz afirmou ainda que há uma movimentação contínua na fronteira, que seria uma preparação para invadir —imagens de satélite de uma empresa americana mais uma vez reforçaram essa informação.

Nesse sentido, um funcionário do Pentágono disse ao jornal The New York Times, sob condição de anonimato, que na mais recente avaliação do departamento, 80% dos estimados 190 mil soldados e forças separatistas dentro ou próximo à Ucrânia estão prontos para uma ação, apenas aguardando a ordem de Moscou.​

Mais à noite, à NBC News, o secretário de Estado, Antony Blinken, disse que a invasão poderia acontecer "antes de essa noite acabar" (em referência ao fuso americano), mas que ainda via uma chance de evitar uma agressão russa.

Diante da ameaça, Kiev também pediu que seus 2,5 milhões de cidadãos morando na Rússia deixem o país vizinho, dado o clima de animosidade —horas depois, a França fez o mesmo. Na noite anterior, a Rússia havia dito que retiraria diplomatas da Ucrânia, apesar de os países manterem ainda relações.

As Forças Armadas ucranianas anunciaram ainda a mobilização de seus reservistas, contingente que conta com cerca de 200 mil pessoas de 18 a 60 anos e ao qual se somaram centenas de civis ao longo dos últimos meses, com a escalada da tensão.

Por ora, Putin mantém a iniciativa na crise, iniciada por ele com a mobilização de talvez 150 mil tropas em torno da Ucrânia desde novembro. Além de querer resolver o status das áreas recém-reconhecidas, que têm 800 mil de seus quase 4 milhões de habitantes com passaporte de Moscou, o presidente manteve suas demandas.

As principais são vetar Ucrânia, Geórgia, Moldova e outros países ex-soviéticos na Otan (aliança militar ocidental); recuar as forças ofensivas nos 14 países que já foram incorporados; negociar questões de segurança como posicionamento de mísseis e transparência de manobras bélicas.

Apenas o último tópico foi aceito pelo presidente americano, Joe Biden e pela Otan, o que levou ao impasse atual. Tanto Putin quanto Zelenski se dizem abertos a negociar, mas mantêm, ao mesmo tempo, posições que contradizem o discurso. O ucraniano mobiliza a população para o risco de uma invasão, e o russo segue o tom militarista.

Um alegado ataque hacker atribuído aos russos afetou o funcionamento de vários sites da Ucrânia nesta quarta, segundo o vice-primeiro-ministro do país, Mikhailo Fiodorov. A ofensiva teria começado no início da tarde e atingido servidores de bancos e de órgãos do governo. Moscou, como de costume, nega o envolvimento.

Em janeiro, Kiev já havia sido alvo de um grande ataque cibernético, que posteriormente foi ligado a grupos da Belarus, aliada do Kremlin.

Na noite desta quarta, a Rússia fechou parcialmente seu espaço aéreo próximo à fronteira com a Ucrânia, na região de Rostov, especificando algumas rotas a serem evitadas.

Do lado ucraniano, o monitor Safe Airspace mudou sua recomendação para "não voe", o alerta máximo para evitar a região. A plataforma foi criada depois que um avião da Malaysia Airlines foi abatido em meio à guerra civil justamente no leste ucraniano, em 2014, para informar linhas aéreas sobre zonas de conflito potencialmente perigosas para voos comerciais.

Enquanto isso, o Ocidente trabalha em sanções. Os EUA impuseram uma nova rodada de sanções, impedindo o governo da Rússia de fazer transações financeiras envolvendo títulos de sua dívida com empresas americanas e europeias.

Na Europa, os parlamentares da Duma que aprovaram o reconhecimento das repúblicas estão banidos dos países da União Europeia e tiveram seus ativos na região congelados, enquanto bancos que financiaram atividades separatistas também são alvo das medidas. A Alemanha, individualmente, congelou a certificação do gasoduto Nord Stream 2.

Com Reuters

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