Após meses de tensão no Leste Europeu, com tropas russas estacionadas na fronteira da Ucrânia e potências ocidentais acusado o presidente Vladimir Putin de querer invadir o país vizinho, enfim a reportagem com o título "Rússia invade a Ucrânia" viu a luz do dia na imprensa internacional.
Detalhe: isso, ao menos até agora, não aconteceu, e a publicação foi fruto de um erro da Bloomberg News, que até já pediu desculpas. Na sexta (4), o veículo americano divulgou uma nota na qual reconhece o engano, afirma ter removido o conteúdo e anuncia uma investigação para entender a causa do problema.
O próprio comunicado da empresa, porém, parece esclarecer o motivo: "Preparamos manchetes para diferentes cenários, e o título 'Rússia invade Ucrânia' foi inadvertidamente publicado no nosso site. Lamentamos profundamente o erro". Ou seja, uma prática recorrente no jornalismo, de preparar textos para publicação tão logo um evento com chances consideráveis de acontecer se concretize, virou motivo de chacota em redes sociais e provocou até mesmo críticas do governo russo.
Neste sábado (5), o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, descartou o ocorrido como uma provocação —"Não há necessidade de exagerar o que aconteceu"—, mas viu o erro como uma mostra de quão perigosa é a tensão em torna da Ucrânia, algo que segundo ele, é provocado pelo Ocidente.
"Dificilmente foi uma provocação", afirmou ele à agência estatal russa Tass, acrescentando que a Bloomberg News pediu desculpas pelo engano. "No entanto, essa situação deixa claro o quão perigosas são essas tensões, que foram desencadeadas por declarações agressivas diárias que continuamos a ouvir de Washington, de capitais europeias e de Londres. Porque são essas declarações, além do envio de tropas para perto de nossas fronteiras e das atividades diárias para abastecer a Ucrânia com armas, que levam a essas tensões, e qualquer faísca é perigosa em meio a tensões", disse Peskov.
A crise no Leste Europeu foi desencadeada após o Kremlin mobilizar de 100 mil a 175 mil soldados em zonas próximas às fronteiras com a Ucrânia. Os EUA e aliados da Otan, a aliança militar ocidental, acusam Putin de preparar uma invasão do país vizinho, como fez em 2014, quando anexou a Crimeia.
Moscou, por sua vez, rejeita a expansão da Otan sobre territórios próximos à Rússia e quer a garantia de que a Ucrânia jamais fará parte do grupo. Putin nega qualquer intenção de promover uma invasão militar.
Se de um lado da crise estão os EUA e as principais potências ocidentais, como Alemanha, Reino Unido e França, além da Otan, a aliança militar criada na Guerra Fria para se contrapor à antiga União Soviética, a Rússia se aliou formalmente à China nesta sexta, com uma reunião entre Putin e Xi Jinping em Pequim.
Ambos os líderes concordaram num comunicado em denunciar a expansão da Otan e os pactos militares americanos na região do Indo-Pacífico. Esses são os exemplos mais vistosos, mas não únicos, do texto divulgado pelo Kremlin, do que Putin e Xi chamaram de "amizade sem limites" entre Rússia e China.
O encontro ocorreu antes da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, na capital chinesa, evento boicotado diplomaticamente pelo Ocidente, em mais uma mostra da Guerra Fria 2.0 atualmente em curso.
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