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Grávida perde bebê na China após hospital negar atendimento por falta de teste de Covid

Caso acendeu críticas contra estratégia chinesa de combate à pandemia e levou a retratação pública incomum no país asiático

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Pequim | AFP

Um aborto espontâneo sofrido por uma mulher que havia sido impedida de entrar em um hospital da cidade de Xian, capital da província de Shaanxi, levantou duras críticas à estratégia de "Covid zero" adotada pela China e levou a uma rara retratação pública de autoridades ligadas ao regime comunista.

Grávida de oito meses, a mulher teve o atendimento médico recusado porque não tinha um teste negativo para a Covid feito nas últimas 48 horas. O aborto ocorreu na porta do local e foi registrado por um familiar, que compartilhou fotos e vídeos nas redes sociais no último dia 1º. A postagem foi apagada pouco depois, mas chegou a ser visualizada 290 milhões de vezes no WeChat, espécie de WhatsApp chinês.

Funcionários caminham em uma área de quarentena na cidade chinesa de Xian
Funcionários caminham em uma área de quarentena na cidade chinesa de Xian - 22.dez.21/AFP

Xian, cidade histórica com cerca de 13 milhões de habitantes, está sob confinamento estrito desde 23 de dezembro, após registrar um surto de 200 casos de Covid. A população e o governo local afirmam que há dificuldade no abastecimento de alimentos, ainda que o regime liderado por Xi Jinping negue. Voos internacionais e domésticos para o aeroporto local foram suspensos.

Após a repercussão da perda do bebê, o diretor dos serviços de saúde de Xian, Liu Shunzhi, desculpou-se publicamente, durante entrevista nesta quarta (5), por não ter assegurado o acesso ao tratamento médico.

A mídia estatal noticiou nesta quinta (6) que Liu e outro oficial de saúde foram advertidos pelo Partido Comunista Chinês pela má administração das medidas de combate ao surto de Covid. Já o gerente-geral do hospital e outros funcionários foram demitidos, de acordo com comunicado. Uma investigação segue em andamento na Comissão de Saúde da província e na Federação Nacional de Mulheres do país asiático.

Além das punições, autoridades também anunciaram que vão abrir vias rápidas de atendimento nos hospitais para a população de risco, como mulheres grávidas ou pacientes com doenças graves, ainda que não tenham mencionado que a razão para a mudança foi o caso da mulher que sofreu o aborto. Os centros de saúde também não poderão recusar pacientes com base no controle da Covid.

O episódio, como mostram relatos nas redes sociais do país, não é isolado. Outra moradora de Xian afirmou nesta quinta que seu pai, de 61 anos, havia morrido devido a um ataque cardíaco após ter a entrada recusada em vários hospitais por não ter um teste negativo para o coronavírus à mão.

Outra mulher que também estava grávida e perdeu o bebê afirmou que foi recusada em vários hospitais em 29 de dezembro, quando começou a ter sangramentos, segundo o jornal honconguês South China Morning Post. Em uma mensagem no Weibo, espécie de Twitter chinês, ela disse que o primeiro hospital a recusou porque ela morava em uma área onde os habitantes estão proibidos de sair devido à Covid.

Relatou, ainda, que seu marido e os policiais que transportavam o casal telefonaram para outros centros de saúde, para o centro de comando de epidemias e até para uma linha direta do governo em busca de ajuda, mas as ligações não foram atendidas. Quando, enfim, conseguiu ser aceita, ela já havia perdido o bebê. "Eu só sentia que estava sangrando sem parar enquanto tremia e derramava lágrimas", disse. "O médico perguntou por que eu cheguei tão tarde, mas eu não consegui dizer uma palavra."

O volume de casos de Covid na China é baixo quando comparado a outros países, nos quais a variante ômicron levou a um salto nos registros, mas tem crescido nas últimas semanas. O cenário preocupa as autoridades devido à proximidade dos Jogos Olímpicos de Inverno, marcados para fevereiro deste ano.

Números oficiais mostram que o país registrou 103 mil casos de coronavírus desde o início da pandemia e cerca de 4.700 mortes. Nesta quinta, foram 189 diagnósticos em todo o país —63 apenas em Xian. A cidade tem 42 mil pessoas em instalações públicas de quarentena, segundo o vice-prefeito, Xu Mingfei.

Outros episódios também desencadearam críticas à estratégia e à rigidez chinesas no combate à crise sanitária. Na última semana de dezembro, por exemplo, quatro pessoas que supostamente violaram um lockdown foram obrigadas a desfilar pelas ruas de uma cidade do sul do país carregando cartazes com seus nomes e fotos, em uma cena que remete aos castigos de humilhação pública aplicados durante a Revolução Cultural, em meados do século passado.

Com Reuters

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