Novo premiê italiano ficou órfão aos 15, jogava bem futebol e virou 'Super Mario' ao salvar o euro

Economista italiano Mario Draghi apresentou nesta sexta (12) seu novo gabinete à Presidência

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Bruxelas

Criado numa família de classe média alta em Roma, o novo premiê italiano, Mario Draghi, 73, perdeu os pais aos 15 anos, foi um estudante de destaque e comandou o Banco Central Europeu (BCE, instituição responsável pela política monetária dos 19 países que usam o euro) em uma de suas crises mais graves.

Draghi estudou em escolas jesuítas e teve que assumir as rédeas da família na adolescência, quando seu pai, um dos diretores do Banco da Itália (banco central do país), e sua mãe, farmacêutica, morreram em um intervalo de poucos meses, em meados dos anos 1960.

A emancipação o levou por caminhos diferentes dos de seus colegas. Na onda de contracultura de 1968, Draghi tinha “convicções que você chamaria hoje de socialismo liberal, não adequadas para grupos extremistas”, disse em 2014. “Meu cabelo era comprido, mas não ‘muito’ comprido. Além disso, eu não tinha pais contra os quais me rebelar.”

Homem de cabelo castanho escuro repartido à esquerda em frente a fundo azul com três grandes estrelas douradas
Mario Draghi, em 2013, quando era presidente do Banco Central Europeu e negociou o socorro aos países endividados da União Europeia - Fabrizio Bensch - 25.jan.2013/Reuters

Um amigo de escola e hoje diplomata da ONU, Staffan de Mistura, o descreveu para a britânica BBC como um “garoto de equipe”: “No campo, ele sempre passava a bola. Não era o melhor jogador de futebol que tínhamos, mas um bom jogador. E ele sempre tinha uma estratégia, sabia que caminho seguir".

O bom desempenho nos estudos o levou a um doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) —Draghi foi o primeiro italiano a se doutorar na universidade, em 1976. Seu orientador foi Franco Modigliani, depois premiado com o Nobel de Economia, assim como seu contemporâneo Paul Krugman.

Também foi colega de Stanley Fischer, hoje presidente do Banco Central de Israel. Segundo o italiano, a experiência nos Estados Unidos fortaleceu sua convicção no projeto da União Europeia.

Depois de ensinar economia na Universidade de Florença e trabalhar no Banco Mundial na década de 1980, Draghi entrou para a administração pública como diretor-geral do Tesouro da Itália, em 1991, onde ficou até 2001.

Nesse período, trabalhou pela adoção de uma moeda única na UE (a adesão da Itália ao euro veio em 1999). Em 2006, assumiu a presidência do Banco da Itália, depois de um período no setor privado —como vice-presidente do Goldman Sachs.

Herdou uma grave crise ao assumir o BCE, em 2011. Profundamente endividada, a Grécia ameaçava deixar a União Europeia, o que derrubaria a moeda única. Um discurso contundente em 2012, em que ele prometeu “fazer tudo o que for necessário para preservar o euro”, é apontado como o ponto de virada nas expectativas. “Acreditem, será o suficiente”, completou Draghi.

Após o discurso, os juros cobrados de países da zona do euro começaram a cair. Negociações e políticas de socorro ainda se alongaram por vários meses, mas a Grécia foi socorrida, e a firmeza ao defender o euro garantiu a Draghi o apelido de “Super Mario”. Ao deixar seu mandato no BCE, em 2019, o economista havia deixado também a cena pública. "Pergunte à minha mulher", respondeu ele quando os repórteres questionaram sobre seu próximo passo.

Não se sabe o que teria respondido a especialista em literatura inglesa Serena Cappello —sua mulher desde 1973 e com quem ele tem um filho e uma filha. Nesta sexta (12), Draghi se tornou o 67º primeiro-ministro da Itália desde a Segunda Guerra Mundial, e o sétimo num período de dez anos.

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