Ao menos 30 pessoas ficaram feridas nesta segunda-feira (28) em confrontos entre partidários e opositores de Evo Morales, na cidade de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, em meio à polêmica sobre a reeleição do líder indígena.
O secretário de saúde local afirmou que há pessoas em estado grave que estão sendo operadas, incluindo um manifestante que sofreu um ferimento a bala.
A Bolívia chega à segunda semana de protestos contra o questionado resultado eleitoral que deu a Evo seu quarto mandato.
"A responsabilidade total das ações de violência é do governo", disse o candidato opositor e ex-presidente centrista Carlos Mesa, em uma publicação numa rede social.
O vice-presidente de Evo, Álvaro García Linera, culpou Mesa pelos atos violentos, que estariam ocorrendo "por decisão de somente um homem, sedento [de poder], mentiroso e falacioso", segundo ele.
"[Mesa] é o responsável, ele é o culpado" pela violência, por não aceitar sua derrota nas urnas, insistiu García Linera, que foi reeleito no pleito deste mês.
Evo, que está no poder desde 2006, considera que as manifestações fazem parte de um plano de golpe de Estado contra sua vitória nas urnas para o período 2020-2025.
O Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), órgão responsável pela votação, alterou o método de contagem dos votos ao longo da apuração, marcada por muitas idas e vindas.
Os opositores do presidente não reconhecem o desfecho do pleito e questionam se a Bolívia avança para um regime autoritário e isolado internacionalmente, como o de Nicolás Maduro na Venezuela.
Nas cidades de Santa Cruz de la Sierra (leste), uma das principais do país, e de Potosí (sudoeste) houve greve geral.
Em La Paz, ruas foram bloqueadas em diferentes bairros. Somente no centro, onde fica a maioria dos escritórios públicos e privados, havia relativa normalidade.
No bairro de Achumani, no sul da cidade, manifestantes fecharam uma avenida principal, mas os motoristas de ônibus tentaram reabrir o trânsito e os dois grupos entraram em confrontos, com agressões e pedras. A polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo para dispersá-los.
Os manifestantes utilizam paus, escombros, cordas e até móveis para viabilizar a greve convocada pela oposição.
As manifestações na capital acontecem nos bairros de classe média e alta da zona sul, embora diariamente milhares de pessoas, entre eles muitos jovens, protestem nos arredores do TSE e realizem encontros na praça San Francisco, no centro.
Até o momento, as camadas populares das zonas altas de La Paz não se envolveram no conflito.
Evo recebeu o apoio de um poderoso sindicato de trabalhadores rurais, que anunciou nesta segunda que bloqueará as estradas do país "contra o golpe de Estado, em defesa da democracia e em defesa do voto indígena".
Diversos países, entre eles os Estados Unidos e o Brasil, questionam o resultado e solicitaram a realização de um novo pleito para esclarecer dúvidas sobre a contagem de votos.
O governo brasileiro disse, em uma publicação do Itamaraty, que não reconhece a vitória por enquanto.
"Pedimos à Bolívia para restaurar a integridade eleitoral procedendo a um segundo turno nas eleições livres, justas, transparentes e confiáveis entre os dois principais ganhadores", tuitou o chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo.
Para driblar a crise, Evo propôs uma auditoria eleitoral por parte da missão de observadores da OEA, da ONU e da União Europeia, organismos que pedem a realização do segundo turno.
Paralelamente, uma influente plataforma que articula os comitês cívicos regionais (Conade), que apoia Mesa, pediu a anulação das eleições, além da formação de um novo tribunal eleitoral, "desta vez, imparcial".
ENTENDA O IMBRÓGLIO DA APURAÇÃO DOS VOTOS
Dois métodos
Após o fechamento das urnas, o Tribunal Supremo Eleitoral começou a apuração usando dois métodos: somando os votos registrados em atas, que traziam os totais de cada mesa, e contando os votos um a um. Apenas os resultados do primeiro foram divulgados
Empate técnico
Às 22h40 de domingo (20), com 89% das urnas apuradas, Evo tinha 45,7% contra 37,8% de Mesa
—o resultado levaria a um segundo turno, cenário previsto por pesquisas de intenção de votos
Apuração suspensa
Durante a noite, nenhum voto foi computado, e a contagem feita pelas atas foi interrompida. Na segunda-feira pela manhã, o tribunal afirmou que a apuração um a um mostrava resultados diferentes; o jornal oficial El Cambio publicou manchete dando vitória a Evo
Nova contagem
Diante das divergências, a contagem passou a ser feita pelo método um a um
Contagem final
O Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) proclamou Morales ganhador com 47,08%, contra 36,51% para o ex-presidente Carlos Mesa
QUARTO MANDATO
Eleito pela 1ª vez em 2005, Evo concorreu neste pleito graças a uma decisão do mesmo tribunal responsável pela apuração dos votos.
A nova Constituição de 2009 determinou que só poderia haver uma reeleição consecutiva. Evo conquistou seu 3º mandato em 2014 argumentando que seu primeiro governo era anterior à regra. Em 2016, perdeu um referendo para extinguir o limite; e, em 2017, o TSE julgou a seu favor e derrubou a norma
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