A Promotoria sueca reabriu nesta segunda-feira (13) uma investigação contra o australiano Julian Assange por abuso sexual.
A acusação remonta a 2010, mas a apuração do caso havia sido suspensa em 2017 porque o fundador do WikiLeaks pedira asilo na embaixada do Equador em Londres em 2012, e não havia perspectiva de que saísse do edifício.
Em abril, após sete anos, o Equador expulsou Assange de sua representação diplomática e o entregou para a polícia britânica. Ele então foi preso por desrespeitar as condições de sua liberdade condicional e, dias depois, condenado a uma reclusão de 50 semanas (quase um ano) pelo mesmo delito.
Em 2010, duas mulheres acusaram separadamente o australiano de estupro durante uma viagem dele a Estocolmo —o anúncio desta segunda-feira se refere a um desses casos.
Com isso, as autoridades suecas iniciaram uma investigação contra Assange. Além de estupro, ele também era suspeito de abuso sexual e coação, mas estes dois crimes já prescreveram.
No fim de 2010, com o avanço das investigações, o programador se entregou às autoridades do Reino Unido, pagou fiança e logo foi libertado.
Quando esgotou os recursos contra o mandado de extradição emitido pela Suécia, em 2012, ele buscou refúgio na embaixada equatoriana, infringindo os termos de sua condicional.
Segundo a defesa de Assange, o temor era de que a transferência para a Suécia fosse o primeiro passo de uma extradição para os Estados Unidos, onde ele é acusado de vazar documentos diplomáticos e militares secretos —relativos, por exemplo, ao monitoramento de aliados dos EUA pela inteligência de Washington.
Eva-Marie Persson, promotora sueca responsável por anunciar a decisão de reabrir o caso nesta segunda, afirmou que o país também pedirá a extradição do australiano. Ele pode ser condenado a até quatro anos de prisão na Suécia.
Com isso, disse ela, caberá ao Reino Unido decidir qual dos dois países —EUA ou Suécia— tem precedência e, portanto, receberá o programador primeiro.
Se o programador for extraditado primeiro para a Suécia, segundo informa o jornal The New York Times, tanto o governo britânico quanto o sueco precisariam autorizar uma extradição posterior para os EUA.
A mulher que acusa Assange de abuso sexual não teve seu nome divulgado. Sua advogada elogiou a decisão de reabrir o caso e pediu pressa para que a acusação não prescreva, o que deve ocorrer no meio do ano que vem.
"Minha cliente está muito grata e esperançosa de que conseguirá justiça", disse Elisabeth Massi Fritz em uma entrevista coletiva nesta segunda.
Também nesta segunda, o WikiLeaks afirmou que a reabertura da investigação permitirá que Assange prove sua inocência e disse que o caso é alvo de pressão política.
Um dos advogados do programador, Per Samuelson, disse à agência Reuters que a prioridade no momento é impedir que seu cliente seja extraditado para os Estados Unidos e que ele irá cooperar com a Justiça sueca.
O processo contra Assange nos EUA prevê pena de até cinco anos de prisão. O australiano ficou conhecido por criar, em 2006, o WikiLeaks, site dedicado a receber e publicar informações confidenciais, protegendo a identidade de quem vazou os dados.
Em 2010, o site publicou uma série de documentos secretos do governo americano, incluindo comunicações sobre as campanhas nas guerras do Afeganistão e do Iraque. É por este caso que Assange está sendo acusado nos EUA.
Procuradores americanos disseram que o australiano está sendo processado por conspiração e por tentar violar as senhas e invadir um computador do Departamento de Defesa dos Estados Unidos que guardava informações confidenciais, num caso que envolveu a ex-analista de inteligência do Exército Chelsea Manning.
Manning, presa em 2010, foi condenada a 35 anos de prisão por vazar documentos ao WikiLeaks, mas teve a pena reduzida por decisão do então presidente Barack Obama e foi solta em 2017.
Nas eleições de 2016, o site divulgou também e-mails e documentos do partido Democrata que trouxeram problemas para a candidatura de Hillary Clinton, derrotada por Donald Trump. O material foi obtido por militares russos, de acordo com investigadores dos EUA.
Também nesta segunda, o governo equatoriano autorizou a realização de uma operação de busca e apreensão dentro de sua embaixada em Londres.
A medida foi um pedido dos EUA, que querem ter acesso aos documentos e aos equipamentos eletrônicos usados por Assange enquanto ele esteve no local.
Ainda não há data para a realização da diligência. A defesa do australiano afirmou que vai recorrer da decisão e que espera, no mínimo, que o programador possa acompanhar a operação.
Cronologia do caso Julian Assange
7.dez.10
O fundador do WikiLeaks é detido em Londres por causa das denúncias na Suécia de coação, abuso sexual e estupro. Nove dias depois, ele é liberado após pagar fiança
19.jun.12
Assange se refugia na embaixada do Equador em Londres para evitar extradição para a Suécia
16.ago.12
Equador concede asilo político a Assange. Mais tarde, em 12.dez.2017, o país também lhe concede cidadania
19.mai.2018
Promotoria sueca arquiva inquérito contra fundador do WikiLeaks
11.abr.2019
Equador revoga cidadania de Assange e o expulsa de sua embaixada. Ele é preso com base em pedido de extradição dos EUA, que o acusa de participar de vazamentos de dados
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.