A senadora Elizabeth Warren, de Massachusetts, anunciou nesta segunda-feira (31) que vai disputar a candidatura democrata à Presidência americana em 2020, tornando-se a primeira adversária forte com chances de enfrentar o republicano Donald Trump, que já indicou que vai concorrer à reeleição.
Em mensagem de Ano-Novo a apoiadores, Warren, 69, afirmou que estava formando um comitê exploratório, o que permite que levante dinheiro e indique assessores antes de um início formal da disputa presidencial.
Ela também divulgou um vídeo de quatro minutos e meio em que aborda os temas que a tornaram famosa nacionalmente e que devem servir de base para sua plataforma presidencial: igualdade econômica, responsabilidade governamental e o controle de grandes corporações.
“A corrupção está envenenando nossa democracia”, afirma a senadora no vídeo, enquanto surgem na tela imagens de republicanos como Ronald Reagan e George W. Bush, além do secretário de Tesouro, Steven Mnuchin, do presidente da Câmara, Paul Ryan, do líder da maioria no Senado Mitch McConnell e de Trump.
“Os políticos olham para o outro lado enquanto grandes seguradoras negam a pacientes cobertura que pode salvar vidas, enquanto grandes bancos exploram consumidores e enquanto grandes petrolíferas destroem este planeta”, diz o texto.
Warren diz que passou a carreira tentando descobrir por que a promessa americana funciona para algumas famílias, enquanto que para outras, que também trabalham duro, leva ao desastre. “E o que descobri é terrível: as famílias não estão caindo em buracos, e sim em armadilhas. A classe média americana está sob ataque.”
“Como chegamos aqui?”, questiona. “Bilionários e grandes corporações decidiram que querem mais do bolo, e eles engajaram políticos para cortar a eles um pedaço mais gordo.”
A senadora defende ainda que esse “caminho sombrio” não precisa ser o futuro dos EUA. “Nós podemos fazer nossa democracia funcionar para todos. Nós podemos fazer nossa economia trabalhar para todos.”
No vídeo, Warren também acena à desigualdade racial, ao dizer que famílias de negros “enfrentam um caminho que é mais íngreme e espinhoso, um caminho que se tornou ainda mais difícil pelo impacto de gerações de discriminação”.
A senadora é o nome mais conhecido do partido Democrata a oficializar a intenção de concorrer à Presidência. Além de Warren, dois políticos menos conhecidos –John Delaney, de Maryland, e Julián Castro, ex-prefeito de San Antonio— também sinalizaram que querem disputar a candidatura.
O anúncio da senadora ocorre em meio a uma paralisação parcial do governo pela insistência do presidente de financiar um muro na fronteira com o México, em decisão que mergulhou os EUA em caos político e provocou preocupação em investidores e no mercado financeiro. Trump não abre mão do dinheiro para a obra, e os democratas já sinalizaram que não vão aprovar os recursos.
A corrida pela candidatura democrata em 2020 deve ser a mais aberta desde 1992, sem que o partido tenha uma liderança conhecida. Warren, apesar de sair na dianteira, enfrenta controvérsias, como a alegação de que possui raízes indígenas, o ceticismo dentro do próprio partido e uma falta de experiência na disputa presidencial.
Dois nomes que já disputaram a candidatura antes, Joe Biden (vice do presidente Barack Obama) e o senador Bernie Sanders, também estão de olho em 2020 e devem anunciar a intenção de concorrer nos próximos meses. No entanto, a idade de ambos –que devem estar no final dos 70 na eleição—joga contra, enquanto muitos democratas querem novos rostos.
Além deles, outros políticos democratas devem disputar a candidatura, como os senadores Cory Booker, de Nova Jersey, Kamala Harris, da Califórnia, Amy Klobuchar, de Minnesota, e Kirsten Gillibrand, de Nova York.
Ao anunciar a intenção de concorrer, Warren se prepara para disputas em estados que têm votação antecipada, como Iowa, onde ocorrerá o primeiro caucus do país, em fevereiro de 2020.
Os caucus são uma espécie de assembleia de eleitores onde o vitorioso é apontado após rodadas de debate e votações entre membros locais do partido. Simpatizantes de um pré-candidato tentam convencer os demais a aderirem ao seu postulante, até que um consiga a maioria.
Warren era professora de Direito em Harvard que nunca teve um cargo público antes de 2013. Ela se tornou a primeira mulher a ser eleita ao senado de Massachusetts após derrotar um candidato republicano moderado, Scott Brown, apostando em uma mensagem populista baseada na defesa de regulações mais rígidas a Wall Street.
Ela é atualmente um dos principais nomes da ala mais à esquerda do partido, ao lado exatamente de Sanders.
Em meados de dezembro, uma pesquisa da universidade Quinnipiac mostrou que Warren tem força como candidata nas primárias, onde ela é mais conhecida e aprovada por democratas do que qualquer outro nome que não tenha concorrido à Presidência antes. Três em cinco democratas tinham uma opinião favorável dela, comparado com 12% que a viam de forma desfavorável –um percentual só equiparável ao de Biden e Sanders.
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