Duas mortes misteriosas ocorridas nos últimos dias escandalizaram a opinião pública e voltaram a jogar luz nas investigações sobre o escândalo da Odebrecht na Colômbia, país em que a empreiteira brasileira teria pago subornos no valor de 84 bilhões de pesos (R$ 87,9 milhões), segundo a procuradoria-geral do país.
Este valor é muito superior ao que a Odebrecht declarou ter pago, entre propina e doações de campanha a políticos colombianos ao Departamento de Justiça dos EUA: US$ 11 milhões (R$ 41,6 milhões).
As mortes que estremeceram o país foram, primeiro, na semana passada, de Jorge Enrique Pizano, que teve um infarto fulminante numa chácara próxima a Bogotá. Ao saber da morte, seu filho, Alejandro Pizano Ponce de León, que estava em Barcelona, viajou imediatamente para a capital colombiana.
Segundo relato da irmã, Juanita, que o acompanhava, ao visitar o local onde o pai havia morrido, Alejandro bebeu água de uma garrafa que estava no escritório. Disse que "o sabor era horrível", e desmaiou. Levado a um hospital, morreu no meio do caminho. A causa: envenenamento por cianeto.
Jorge Enrique Pizano era o interventor responsável pela obra de um trecho da estrada Rota do Sol, que ainda está incompleta. A Odebrecht teria pago, para ficar apenas neste projeto, US$ 28,5 milhões (R$ 107,8 milhões).
O caso da Rota do Sol é a obra mais importante em que a empreiteira brasileira está envolvida no país andino. Há, porém, acusações de pagamentos de caixa 2 a campanhas de distintos candidatos em eleições recentes, inclusive do ex-presidente Juan Manuel Santos. Este já compareceu diante da Justiça para dizer que não tinha ideia da propina e que a responsabilidade por tê-la recebido era de seu chefe de campanha.
Pizano era considerado pela Justiça colombiana como figura essencial para descobrir quais foram as irregularidades cometidas durante o processo de licitação do projeto da estrada. Ele estava envolvido na mesma desde 2010.
O tramo da Rota do Sol que é objeto da polêmica era um dos projetos viários mais importantes do país, pois uniria o interior à costa caribenha do país.
A Colômbia é um dos países que vêm avançando lentamente na investigação dos casos de suborno envolvendo a empreiteira brasileira. O primeiro a ser preso foi o vice-ministro de transporte da gestão Álvaro Uribe (2002-2010), Gabriel García Morales, acusado de receber US$ 6,5 milhões (R$ 24,5 milhões) de propina entre os anos de 2009 e 2010.
Outro que está detido é o ex-senador Otto Bula, acusado de receber US$ 4,6 milhões (R$ 17,4 milhões) por conta de favorecimento em outro projeto.
Há, ainda, outros 28 políticos e empresários colombianos citados nas delações brasileiras, e que estão sendo investigados, alguns já receberam acusações formais e esperam julgamento.
Entre os acusados de receber caixa 2, estão, além do ex-presidente e prêmio Nobel, Juan Manuel Santos, e seu rival na eleição de 2014, o uribista Óscar Iván Zuluaga.
A Odebrecht vem tentando fazer um acordo com o Estado colombiano para retomar as obras paradas. O país já recusou uma oferta de mais de US$ 33 milhões (R$ 124,8 milhões) para que a empresa reinicie suas atividades na Colômbia.
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