Voto de mulheres negras derrota aliado de Trump acusado de ass�dio
O voto de mulheres negras e o impulso da campanha #metoo, que trouxe � luz casos de ass�dio e agress�o sexual no showbiz e na pol�tica dos EUA, deram ao Partido Democrata sua primeira vit�ria em 25 anos em uma disputa para o Senado travada no Estado do Alabama.
Na ter�a-feira (12), o promotor federal Doug Jones, 63, derrotou o juiz federal Roy Moore, suspeito de estupro de vulner�vel por causa de sua rela��o com adolescentes nos anos 80 (incluindo com uma de 14 anos), por pouco mais de 20 mil votos, segundo resultado divulgado na madrugada desta quarta.
Marvin Gentry/Reuters | ||
Eleitora comemora vit�ria de Doug Jones no Alabama; 98% das mulheres negras votaram no democrata |
Moore, 70, nega as alega��es e at� a noite de quarta n�o admitira a derrota.
No ano passado, o Estado sulista, tradicional reduto republicano, preferira Donald Trump para a Presid�ncia por uma margem de 28 pontos sobre Hillary Clinton. Mas as den�ncias de cunho sexual contra Moore derreteram a vantagem de 20 pontos percentuais que o juiz conservador mantinha nas pesquisas.
Pouco adiantou o apoio declarado por Trump ao correligion�rio no fim de novembro, ap�s alguma hesita��o, para tentar manter a maioria de 52 cadeiras no Senado.
A derrota de Moore se soma � aposentadoria ou ren�ncia nos �ltimos dias de tr�s congressistas acusados de ass�dio ou agress�o sexual e mostra a for�a do movimento #metoo ("eu tamb�m"), em que mulheres expuseram em redes sociais e p�ginas de jornal a viol�ncia sexual que sofreram.
O pr�prio Trump est� no alvo de uma campanha de congressistas mulheres que pedem que ele renuncie em raz�o de 16 den�ncias de ass�dio sexual contra o presidente surgidas desde a elei��o. A embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley, a mulher mais proeminente do governo Trump, defendeu a investiga��o das alega��es.
"Ante as op��es, os eleitores do Alabama fizeram o impens�vel: elegeram um democrata", escreveu o analista John Hudak, da Brookings Institution. Para ele, a escolha se deu para afastar um suposto predador sexual da tarefa de representar o Estado.
ELEI��O PARA SENADOR NO ALABAMA
VOTO NEGRO
Moore pediu a recontagem dos votos —Jones recebeu 49,9%, e ele, 48,4%. "Fomos pintados de forma desfavor�vel e irrealista nesta campanha", afirmou o republicano.
O ex-juiz saiu-se mal com o eleitorado do pr�prio Trump: analistas estimam que ele obteve s� 49% dos votos que o presidente teve no Estado, prejudicado por uma alta absten��o nesse grupo. No Alabama, brancos s�o 75% do eleitorado; nesta ter�a, por�m, corresponderam a 66% dos votantes (dos quais 68% preferiram Moore, indicou a boca de urna da CNN).
O voto nos EUA n�o � obrigat�rio. O comparecimento tende a ser menor em elei��es legislativas, e mais baixo ainda em elei��es extempor�neas como esta, marcada para preencher a vaga do hoje secret�rio da Justi�a Jeff Sessions. Desta vez, ficou em 40%.
O que se provou crucial foi o eleitorado negro. Embora perfa�am 26% das pessoas aptas a votar no Estado, eles responderam por 29% dos votos desta vez —e 96% escolheram Jones. Mulheres negras foram 17% dos que votaram (98% delas, no democrata; entre as mulheres em geral, Jones venceu com 57%).
O n�mero impressiona se considerado que, no sul dos EUA, grande parte da popula��o negra se abst�m por acreditar que seu voto n�o ter� peso ou por obst�culos legais como a exig�ncia de um documento com foto. Nos EUA, n�o h� RG, e a maioria usa carteira de motorista ou passaporte, mais raros entre a parcela mais pobre (e negra).
A vantagem de Jones apareceu sobretudo nas �reas de concentra��o de afro-americanos. Em alguns desses condados, o democrata chegou a receber 80% dos votos.
Parte da explica��o est� na campanha de Moore. Conservador e contr�rio aos direitos LGBT, ele chegou a afirmar que as fam�lias eram mais unidas na �poca da escravid�o. J� Jones, promotor, processou integrantes da organiza��o racista Ku Klux Klan.
"Moore � um constrangimento", disse o ex-jogador de basquete Charles Barkley, do Alabama. "Se qualquer outro homem fosse acusado de abuso sexual por oito mulheres, falasse de escravid�o e de homossexuais na cadeia, nem estaria na elei��o."
Al�m dos republicanos que ficaram em casa, muitos preencheram a c�dula com um nome de fora da disputa em protesto. Houve 22.810 votos assim —mais que a margem de Jones, de 20.715 votos.
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