Quem s�o os rohingyas, povo mu�ulmano que a ONU diz ser alvo de limpeza �tnica
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ONU afirma que os Rohingya s�o v�timas de limpeza �tnica |
A migra��o de cerca de 370 mil mu�ulmanos rohingyas de Mianmar para Bangladesh nas �ltimas semanas � mais um cap�tulo de uma hist�ria marcada por d�cadas de persegui��es.
Cerca de um milh�o de pessoas dessa minoria, a maior comunidade no mundo, vivem em Mianmar, pa�s predominantemente budista.
A maioria mora de forma prec�ria no Estado de Rakhine, palco dos epis�dios recentes de viol�ncia que o alto comiss�rio das Na��es Unidas para os direitos humanos, Zeid Ra'ad al-Hussein, classificou de "limpeza �tnica".
O estopim foi em 25 de agosto, quando militantes rohingya atacaram dezenas de postos policiais. Em resposta, o ex�rcito birman�s deu in�cio a uma opera��o militar que, segundo relatos citados pelo alto comiss�rio da ONU, incendiou vilarejos, matou civis e espalhou minas terrestres na fronteira com Bangladesh.
O �xodo em massa dos rohyngias nos �ltimos dias n�o tem precedentes, diz a Organiza��o Internacional para as Migra��es (OIM) da ONU, que estima que outras 100 mil pessoas possam se juntar nos pr�ximos dias aos que cruzaram a fronteira.
Cerca de 60% dos novos refugiados s�o crian�as, de acordo com o chefe de prote��o a crian�as da Unicef em Bangladesh, Jean Lieby.
A crise do povo rohingya � uma das mais longas do mundo e tamb�m uma das mais negligenciadas.
O diagn�stico, feito pelo Alto Comissariado das Na��es Unidas para os Refugiados (Acnur), levou a ONU a aprovar uma resolu��o em dezembro de 2014 que exortava Mianmar a permitir o acesso � cidadania para a minoria, classificada de forma geral como ap�trida.
No pa�s, eles s�o proibidos de se casar ou de viajar sem a permiss�o das autoridades e n�o t�m o direito de possuir terra ou propriedade.
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Refugiados rohingyas em Cox's Bazar, Bangladesh |
O povo representa cerca de 5% entre 60 milh�es de habitantes de Mianmar, e sua origem ainda � amplamente debatida.
Por sua parte, eles afirmam serem ind�genas do Estado de Rakhine, anteriormente conhecido como Arakan, no oeste do pa�s, mas outros apontam que s�o, na verdade, mu�ulmanos de origem bengalesa que migraram para Mianmar durante a ocupa��o brit�nica.
Desde 1948, quando o pa�s se tornou independente, eles t�m sido v�timas de tortura, neglig�ncia e repress�o.
Com as dram�ticas mudan�as pol�ticas e sociais locais nos �ltimos anos, os �nimos das v�rias comunidades que habitam o pa�s entraram em ebuli��o e uma onda de viol�ncia e discrimina��o voltou a emergir contra os rohingyas.
Ap�s ter sido governado por uma junta militar por mais de meio s�culo, Mianmar vinha passando por uma transi��o para a democracia e por melhorias no campo social.
Mas a situa��o n�o melhorou para os rohingyas.
Em 2012, duas ondas de viol�ncia, uma em junho e a outra em outubro, orquestradas por grupos extremistas de maioria budista em Rakhine, deixaram cerca de 140 mortos, centenas de casas e edifica��es mu�ulmanas destru�das e 100 mil desabrigados.
Autoridades e a pol�cia foram acusadas de n�o agir para defend�-los.
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Mu�ulmanos rohingyas n�o s�o reconhecidos como cidad�os em Mianmar |
Como explicou o correspondente da BBC no sudeste da �sia, Jonathan Head, em um relato feito em 2015, "Rakhine � o segundo Estado mais pobre em Mianmar, e este � um dos pa�ses menos desenvolvidos do mundo".
"A pobreza, neglig�ncia e repress�o t�m desempenhado um grande papel na viol�ncia �tnica, diz o rep�rter.
"Adicione a isso as mem�rias hist�ricas amargas e os medos sentidos por comunidades rivais do que poderiam perder ou ganhar no ambiente pol�tico novo e incerto de Mianmar", acrescenta.
Em 2012, 100 mil mu�ulmanos rohingyas ficaram desabrigados.
Tanto as Na��es Unidas quanto as organiza��es de defesa dos direitos humanos pedem que as autoridades de Mianmar revejam a Lei de Cidadania de 1982, de forma a garantir que os rohingyas n�o continuem sem p�tria.
Essa � a �nica maneira, dizem, para combater as ra�zes da longa discrimina��o contra essa etnia.
Contudo, muitos budistas de Mianmar nem sequer reconhecem o termo rohingya. Chamam-nos de "bengalis mu�ulmanos" –uma alus�o � vis�o oficial de que os rohingyas s�o imigrantes de Bangladesh.
Como diz Jonathan Head, cerca de 800 mil rohingyas de Mianmar n�o possuem cidadania. E isso de certa forma incentivou budistas a acreditar que sua campanha de segrega��o e expuls�o for�ada � justificada.
Mas a segrega��o, explica o correspondente da BBC, n�o s� � social.
"As longas d�cadas de isolamento e de injusti�a cr�nica impostas pela junta militar de Mianmar criou um preconceito e ressentimento no Estado de Rakhine. E isso tem fermentado um clima venenoso de desconfian�a e falta de informa��o."
"� claro que, al�m de a separa��o f�sica dos mu�ulmanos e budistas, tamb�m h� uma extrema segrega��o mental."
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