Guerra dos Seis Dias ainda frustra palestinos
Israeli Government Press Office/Reuters | ||
![]() |
||
Militares israelenses ocupam a Cidade Velha de Jerusal�m em 1967; ao fundo, o Domo da Rocha, sagrado para o isl� |
A "Naksa" (rev�s, em �rabe). Para os palestinos, esse � o nome da chamada Guerra dos Seis Dias, que completa 50 anos nesta segunda (5). Longe da narrativa israelense de vit�ria e euforia, o conflito foi, na �tica palestina, uma derrota aguda e humilhante, in�cio de meio s�culo de ocupa��o e controle militar das terras que almejam como Estado independente.
Por todo esse tempo, tentativas fracassadas de acordos de paz e a viol�ncia marcaram o relacionamento entre os dois lados. Houve duas "intifadas" (revoltas generalizadas contra Israel) e in�meros ciclos de brutais atentados palestinos contra civis e militares israelenses permeados por respostas truculentas do Ex�rcito de Israel.
Para muitos, uma terceira intifada est� prestes a estourar, com o potencial de levar a regi�o a mais uma rodada de derramamento de sangue. A nova revolta contaria com participa��o do grupo radical Hamas, que controla a faixa de Gaza h� uma d�cada e, desde ent�o, j� se engajou tr�s vezes em confrontos com Israel (2008, 2012 e 2014).
A influ�ncia do Hamas na Cisjord�nia � inversamente proporcional � popularidade do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, no cargo desde 2005, mas que n�o consegue criar um Estado por meio da diplomacia internacional.
Em 2012, por exemplo, ele conseguiu que a Assembleia Geral da ONU admitisse a Palestina como "Estado-observador n�o-membro". Hoje, 136 pa�ses no mundo -incluindo o Brasil - reconhecem a Palestina. Mas trata-se de algo simb�lico.
"Abbas atua por esfor�os diplom�ticos, mas suas conquistas s�o m�nimas. Sem press�o interna, nas ruas, nada vai acontecer. Uma nova revolta est� prestes a ocorrer. Os palestinos deveriam usar todos os meios para pressionar Israel, dentro da lei internacional", diz Sair Zeedani, professor de Filosofia da Universidade Al Quds.
Em 10 de junho de 1967, ao fim de menos de uma semana de combates com as for�as de Egito, Jord�nia e S�ria, Israel triplicou seu territ�rio, tomando o controle de Jerusal�m Oriental e da Cisjord�nia (da Jord�nia); da Faixa de Gaza e do deserto do Sinai (do Egito); e das Colinas de Gol� (da S�ria). O mapa regional foi redesenhado, com cerca de 1 milh�o de �rabes sob controle israelense. Algo em torno de 380 mil fugiram ou foram expulsos.
Editoria de Arte/Folhapress |
![]() |
Como foram os seis dias de guerra em 1967 |
Ap�s a guerra, Israel deixou que voltassem, mas s� cerca de 15 mil aceitaram. Quando anexou Jerusal�m Oriental, ofereceu um documento de identidade a quem ficou, mas a maioria n�o quis.
Dos 300 mil palestinos em Jerusal�m, hoje, s� 12% t�m esse documento, mas n�o s�o considerados cidad�os, apenas "residentes permanentes". T�m direito a morar e trabalhar em Israel, a plano de sa�de e educa��o gratuitos. Mas n�o podem votar para o Knesset (o Parlamento) nem t�m passaporte.
Paralelamente, foram criadas mais de 200 col�nias israelenses nos territ�rios apossados —o que, para a ONU, infringe a Conven��o de Genebra. Hoje, mais de 500 mil israelenses moram nesses assentamentos, considerados por palestinos como o maior entrave � paz.
"Embora a comunidade internacional tenha saudado a solu��o de dois Estados, tornou-se claro que a fragmenta��o de territ�rios palestinos ao longo dos �ltimos 50 anos tem como objetivo tornar imposs�vel um Estado palestino soberano", diz Amal Ahmad, da ONG Al-Shabaka.
Em 1987, explodiu a 1� Intifada. Seis anos depois, em 1993, com os Acordos de Oslo, firmados pelo ex-premi� israelense Yitzhak Rabin (1922-1995) e o ex-l�der palestino Yasser Arafat (1929-2004), parecia que os anos de disc�rdia acabariam. Foi criada a Autoridade Palestina, entidade tempor�ria at� a cria��o de um Estado.
Mas o assassinato de Rabin por um extremista judeu, em 1995, e uma nova onda de ataques palestinos levaram a uma nova Intifada, em 2000.
Para a palestina crist� Noura Kurt, 73, fundadora de um Cento Cultural na Cidade Velha de Jerusal�m, o tratamento israelense � insuport�vel. "Minha fam�lia est� aqui desde a �poca de Jesus. Mas, em 1967, me tornei uma alien�gena na cidade onde nasci. Quer dizer: n�o sou cidad�. N�o tenho passaporte. Sou tratada como um v�rus no aeroporto. Sou desprovida de meus direitos humanos mais b�sicos", diz Noura. "O que aconteceu em 1967 foi uma "nakba", uma cat�strofe".
No entanto, para o historiador e bibliotec�rio Khader Salameh, cuja fam�lia fugiu da aldeia natal em 1967, o conflito deveria ser visto de outra forma. "N�s, como palestinos, n�o usamos nossas cabe�as. Temos que, antes de nos revoltar, construir nossa sociedade, nos educar. Sei que h� ocupa��o. Mas por que fazer revolu��o, se podemos aprender? No mundo, sempre houve conquistas. � a vida. � a Hist�ria".
Livraria da Folha
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenci�rio
- Livro analisa comunica��es pol�ticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
![Muro na fronteira do México com os EUA – Lalo de Almeida/Folhapress Muro na fronteira do México com os EUA – Lalo de Almeida/Folhapress](https://cdn.statically.io/img/f.i.uol.com.br/folha/homepage/images/17177107.jpeg)
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis