Trump anuncia retirada dos EUA do Acordo de Paris sobre o clima
Kevin Lamarque/Reuters | ||
O presidente dos EUA, Donald Trump, durante discurso sobre o Acordo de Paris na Casa Branca |
Sob a justificativa de colocar os Estados Unidos "em primeiro lugar" -seu lema de campanha-, o presidente Donald Trump anunciou nesta quinta-feira (1�) que o pa�s deixar� o Acordo de Paris sobre o clima, assinado em dezembro de 2015 por 195 partes.
Segundo Trump, a decis�o representa uma "reafirma��o da soberania americana", j� que, na sua leitura, o acordo "paralisa os EUA enquanto empodera algumas das na��es mais poluidoras do mundo". Ele disse que iniciar� conversas -inclusive com democratas- para apresentar uma proposta que tenha "termos justos" em rela��o ao pa�s.
"Os Estados Unidos v�o se retirar do Acordo de Paris sobre o clima, mas v�o come�ar negocia��es para entrar novamente no Acordo de Paris ou em um acordo completamente novo", disse Trump em declara��o nos jardins da Casa Branca. O plano, por�m, j� enfrenta resist�ncia de outros pa�ses. Em comunicado conjunto, Alemanha, Fran�a e It�lia disseram que o acordo n�o pode ser renegociado.
A decis�o era aguardada com ansiedade em todo o mundo, j� que os EUA s�o o segundo maior emissor de g�s carb�nico do mundo, atr�s apenas da China.
O compromisso assumido pelo pa�s era de reduzir de 26% a 28% as emiss�es de gases causadores do efeito estufa at� 2025.O governo de Barack Obama foi um dos fiadores do tratado.
Trump repetiu v�rias vezes que tomou a decis�o pensando nos empregos do pa�s e em acabar com a "tremenda e debilitante desvantagem" que o tratado impunha aos trabalhadores americanos, segundo ele.
"Fui eleito para representar os eleitores de Pittsburgh [cidade industrial no Estado da Pensilv�nia], n�o de Paris", disse.
Segundo Trump, o acordo de Paris � uma "redistribui��o maci�a da riqueza dos EUA para outros pa�ses".
"Os mesmos pa�ses que nos pedem para ficar no acordo s�o os pa�ses que, coletivamente, custam trilh�es aos Estados Unidos", disse.
O republicano ainda argumentou que, com um crescimento maior prometido por ele no pa�s, os EUA v�o precisar "de todas as formas de energia americana dispon�vel".
"Com um crescimento de 1%, as fontes renov�veis de energia podem atender a nossa demanda dom�stica. Mas com um crescimento de 3% ou 4%, que � o que eu espero, precisamos de todas as formas de energia dispon�vel para o nosso pa�s", afirmou.
Mike Theiler/Reuters | ||
Manifestante fantasiado de Trump simula jogar golfe com uma bola que representa a Terra, em abril |
REA��ES
O presidente da Fran�a, Emmanuel Macron, descartou qualquer renegocia��o do acordo e disse que seu hom�logo americano "cometeu um erro para os interesses de seu pa�s, seu povo e um erro para o futuro de nosso planeta".
"A Fran�a acredita em voc�s [EUA], o mundo acredita em voc�s, mas n�o cometam um erro com o clima, n�o h� plano B porque n�o h� planeta B", afirmou, chamando os cientistas americanos para trabalharem na Fran�a.
A chanceler alem�, Angela Merkel, criticou a decis�o de Trump e disse que o pa�s continuar� com "todos os esfor�os de pol�tica clim�tica para salvar nossa Terra", em comunicado de seu porta-voz, Steffen Seibert.
O secret�rio-geral da ONU, Ant�nio Guterres, disse em nota que a sa�da do acordo foi "uma grande decep��o" e que tem confian�a nas a��es de cidades, empresas e Estados para combater as mudan�as clim�ticas.
Em comunicado conjunto dos minist�rios das Rela��es Exteriores e do Meio Ambiente, o governo brasileiro afirmou ter "profunda preocupa��o" com a decis�o de Trump de deixar o Acordo de Paris.
"Preocupa-nos o impacto negativo de tal decis�o no di�logo e coopera��o multilaterais para o enfrentamento de desafios globais", diz a nota, que ainda cita a disposi��o em continuar o di�logo sobre as mudan�as clim�ticas.
Enquanto Trump ainda falava, Obama divulgou comunicado no qual diz que o atual governo est� se unindo a um "pequeno punhado de pa�ses que rejeita o futuro". Os dois que n�o assinaram foram S�ria e Nicar�gua.
O governador do Estado de Nova York, Andrew Cuomo, tamb�m criticou a decis�o e disse que seu Estado est� comprometido em seguir as metas do Acordo de Paris "independentemente das a��es irrespons�veis de Washington".
Durante a campanha eleitoral, Trump j� havia amea�ado retirar o pa�s do acordo, enquanto defendia que o aquecimento global era uma "farsa". No entanto, havia diverg�ncias dentro da pr�pria equipe do presidente sobre o destino do compromisso assumido na gest�o Obama.
Enquanto o administrador da Ag�ncia de Prote��o Ambiental (EPA, na sigla em ingl�s), Scott Pruitt, e o estrategista-chefe de Trump, Steve Bannon, defendiam que o pa�s abandonasse o acordo, outro grupo, liderado pela filha do presidente, Ivanka, e seu marido, Jared Kushner, e pelo secret�rio de Estado, Rex Tillerson, advogava pela perman�ncia, prevendo que o acordo d� margem para ajustes nas metas assumidas.
Ivanka e Jared n�o estavam presentes ao an�ncio. Segundo a CNN, um funcion�rio da Casa Branca disse que a filha do presidente n�o participou do evento porque estava em casa, respeitando o feriado judeu do Shavuot, e que Kushner tinha um encontro.
Segundo um levantamento do Programa de Yale em Comunica��o sobre Mudan�as Clim�ticas, apenas 28% dos eleitores de Trump acham que os EUA n�o deveriam fazer parte do Acordo de Paris.
TRATADO
O tratado de Paris � a principal iniciativa global para frear as mudan�as clim�ticas, criando o compromisso de manter o aquecimento da Terra abaixo de 2�C (em rela��o � era pr�-industrial) at� o fim do s�culo, tentando limit�-lo a 1,5�C.
Na c�pula do G7 (grupo das sete principais economias desenvolvidas) na semana passada na It�lia, Trump fora pressionado por l�deres mundiais a manter os EUA no pacto.
A sa�da dos EUA deve comprometer metas do acordo e mudar a forma como outros governos, sobretudo os de pa�ses em desenvolvimento como China e �ndia, tratam o compromisso.
Durante as negocia��es, esses pa�ses arrogaram-se o "direito de poluir" por mais tempo, j� que sua industrializa��o e sua consequente a��o poluidora � mais tardia.
No entanto, a China anunciar� nesta sexta (2) um acordo com a Uni�o Europeia para tomar medidas que "acelerem o processo irrevers�vel de reduzir o uso de combust�veis f�sseis".
Tal entendimento e o consequente engajamento chin�s no processo poderiam, segundo analistas, mitigar parte do efeito da sa�da dos EUA do Acordo de Paris.
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