Centrista Emmanuel Macron vence elei��es na Fran�a
O centrista Emmanuel Macron, 39, foi eleito presidente da Fran�a neste domingo (7) com 66% dos votos (20,7 milh�es).
Representando o movimento independente Em Frente!, ele governar� pelos pr�ximos cinco anos a s�tima maior economia do mundo e um dos cinco pa�ses com direito o veto no Conselho de Seguran�a da ONU.
Ap�s o resultado, em discurso transmitido pela TV, Macron disse que vai trabalhar para diminuir as profundas divis�es na Fran�a, que resultaram em grandes pontua��es para a extrema-direita e extrema-esquerda, al�m de tentar aproximar as institui��es europeias das popula��es da Europa.
"Eu sei das divis�es na nossa na��o, que levaram alguns a votar por partidos extremistas. Eu os respeito", afirmou. Trabalharei para recriar a conex�o entre a Europa e suas popula��es, entre Europa e cidad�os."
Macron disputava as elei��es, com impacto no restante da Uni�o Europeia, contra a ultranacionalista Marine Le Pen, da Frente Nacional, que recebeu 34% (10, 6 milh�es).
Em seu discurso de derrota, Le Pen focou na elei��o legislativa de junho. "Estarei � frente desse combate. Mais do que nunca precisamos de voc�s", disse. Ela voltou a ressaltar o que chamou de recomposi��o entre "patriotas e globalistas", ressaltando as for�as tradicionais da pol�tica francesa que apoiaram Macron. Le Pen disse que telefonou para o presidente para parabeniz�-lo e desejar-lhe sucesso.
O impacto imediato do resultado ser� o refor�o do projeto de integra��o europeu, do qual Macron � entusiasta. Le Pen defendia erguer barreiras protecionistas, retirar a Fran�a do bloco econ�mico e possivelmente retomar o franco como moeda, em vez do euro.
A elei��o de Macron, comemorada por militantes diante do Museu do Louvre, marca ademais transforma��es hist�ricas no pa�s.
O an�ncio foi recebido com a Marselhesa pelos militantes agitando a bandeira vermelha, branca e azul. Uma menina, dependurada num poste, gritava ininterruptamente: Vive la France!
"A vit�ria dele � uma forte mensagem para a Europa e para o mundo: um candidato de centro ainda pode vencer elei��es", diz Elliott Bernard, 23, eleitor de Macron presente nas comemora��es no Louvre.
"Ele ser� um bom presidente para representar a Fran�a e a Europa, afirma Jeremy Bonh, 24. "Ele � jovem e � liberal, e votei nele."
"Espero que esse resultado signifique que a Fran�a est� mais unida e que a Frente Nacional est� mais desunida", diz Jean Philippe Besson, 26, diante do Louvre.
No extremo leste de Paris, no Chalet du Lac, no bosque de Vincennes, militantes pr�-Le Pen iam embora cabibaixos. "Estou muito decepcionado. Foi o debate, � triste, mas acho que foi isso", disse Karim Idjuban, 30. Ele disse acreditar que a maioria dos votos por Macron n�o foram por convic��o. "N�o � poss�vel que 66% dos franceses aclamem Macron, o sucessor de Hollande", exasperou-se.
Nas elei��es legislativas, o militante disse acreditar que a FN e a esquerda radical, ambas antiglobaliza��o, v�o se destacar. O local onde a candidata ultranacionalista admitiu sua derrota estava fortemente policiado. Os agentes afastaram um homem que tentou entrar � for�a gritando insultos contra Le Pen.
Esta foi a primeira vez em que os dois principais partidos franceses —socialistas e republicanos— n�o concorreram no segundo turno. � tamb�m a primeira vit�ria de um candidato sem a estrutura de uma sigla tradicional.
Ele ser� o presidente mais jovem do pa�s.
O movimento Em Frente!, de Macron, foi fundado h� um ano nos moldes de uma start-up, assentado em uma rede de 260 mil militantes, parte deles inexperientes.
A uma popula��o desencantada com a atual divis�o entre direita e esquerda, buscou se vender como algu�m al�m dessa divis�o. Acena ora com o afrouxamento das leis trabalhistas, que dever� ter dura oposi��o dos influentes sindicatos, ora com medidas de prote��o social, tema caro aos franceses.
BIOGRAFIA
Com porte de gal� e autor de um romance �pico in�dito —"Babil�nia, Babil�nia"—, Macron personifica uma vers�o bastante espec�fica da renova��o pol�tica. Ele � at� certo ponto um candidato contr�rio ao establishment, mas simultaneamente representa esse mesmo sistema.
Ex-filiado ao Partido Socialista, o novo presidente foi, afinal, ministro da Economia do impopular governo de Fran�ois Hollande, tendo abandonado o barco s� em agosto do ano passado.
O presidente eleito dificilmente poder� se apresentar como mais um entre a popula��o. Ele outrora trabalhou para o banco Rothschild, em que recebeu 2,8 milh�es de euros (equivalente a R$ 10 milh�es) de 2008 a 2012.
Macron foi formado, tamb�m, em uma institui��o que � s�mbolo da elite: a ENA (Escola Nacional de Administra��o), por onde passaram os presidentes Jacques Chirac e Fran�ois Hollande e os principais nomes da administra��o da Fran�a, quer seja � esquerda ou � direita.
Ele ser� acompanhado nos pr�ximos cinco anos no Pal�cio do Eliseu por sua mulher, Brigitte Trogneux.
O casamento � alvo de interesse j� h� algum tempo. Brigitte � 24 anos mais velha do que ele, e ambos se conheceram quando ela era professora em sua escola.
FISSURAS
A elei��es deste ano evidenciaram diversas fissuras na sociedade francesa, ampliadas pela lupa com que foram vistas pelo mundo.
A candidatura de Marine Le Pen, representando um partido populista com hist�rico de ret�rica antissemita, assustava a lideran�a europeia ap�s a elei��o do republicano Donald Trump nos EUA e a decis�o do Reino Unido de deixar a UE, conhecida como "brexit".
A divis�o dos eleitores entre ambos os candidatos � sinal de uma s�rie de temas sobre os quais discordam.
Macron e Le Pen t�m, por exemplo, vis�o distintas da Uni�o Europeia: ele a favor e ela contra. Eles tamb�m enxergam a imigra��o de maneiras diferentes: ele quer uma sociedade mais multicultural, enquanto ela quer interromper o fluxo e expulsar migrantes condenados e suspeitos de radicaliza��o.
H� tamb�m distin��es mais estruturais, como a tend�ncia, comprovada por pesquisas, de que o eleitorado de Macron tenha uma expectativa mais otimista em rela��o ao futuro, em compara��o com o de Le Pen.
A base de Macron � descrita por analistas como a dos "vencedores da globaliza��o", aqueles que se beneficiaram da integra��o � economia mundial. Le Pen representa, por outro lado, as periferias e pequenas cidades onde o fechamento de f�bricas destruiu empregos. O desemprego na Fran�a est� hoje em cerca de 10%.
FUTURO
Rec�m-eleito, Macron ainda n�o pode relaxar na cadeira de presidente. Ele enfrenta j� em junho as elei��es legislativas que dar�o o tom geral de seu governo. Sem a maioria dos legisladores, ser� complicado aprovar as reformas que prop�e.
Ser� determinante, agora, quanto apoio vir� dos tradicionais Partido Socialista e Republicanos, que ele derrotou j� no primeiro turno.
As duas siglas se uniram em torno da candidatura dele contra Le Pen neste domingo, apoiando publicamente o candidato, mas n�o especificamente por concordar com sua plataforma.
A ades�o � campanha de Macron foi vista como maneira de impedir Le Pen de chegar at� a Presid�ncia.
N�o � a primeira vez em que o establishment franc�s lan�a m�o dessa estrat�gia.
Em 2002, quando o pai de Le Pen concorreu ao cargo, formou-se tamb�m a chamada "frente republicana" para fre�-lo. Assim, o conservador Jacques Chirac venceu com 82% dos votos contra Jean-Marie Le Pen, pai de Marine.
O resultado superior da candidata da FN neste ano mostra que, apesar da derrota, o partido ultradireitista avan�a em sua estrat�gia de se "normalizar" aos olhos do eleitorado franc�s, afastando membros mais radicais.
Seu potencial de se tornar a principal voz cr�tica � globaliza��o do pa�s e se cacifar para um desempenho melhor no pleito de 2022 aumentar� � medida em que o governo Macron n�o dirimir o desemprego e o lento crescimento de sua economia.
Estudioso da Frente Nacional, o cientista pol�tico St�phane Wahnich, da Universidade Paris-Est Cr�teil, diz que o crescimento da base de votos dela sinaliza a progressiva vontade do eleitorado de revirar a pol�tica.
Ele argumenta que Le Pen ainda esbarra na hist�ria de seu partido e em sua falta de credibilidade econ�mica, mas que h� potencial para o surgimento de outro candidato antissistema e populista, pois o conceito est� se tornando cada vez mais "respeit�vel" para a popula��o.
"O problema de Marine Le Pen � se chamar Le Pen."
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