Por que o g�s lacrimog�neo � usado em protestos mas proibido na guerra?
Ricardo Moraes/Reuters | ||
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Policial lan�a bomba de g�s lacrimog�neo durante protesto |
Comum em protestos ao redor do mundo para dispersar multid�es, o g�s lacrimog�nio � proibido em guerras.
Ele foi testado pela primeira vez durante a Primeira Guerra Mundial, com o objetivo de for�ar soldados inimigos a deixar suas trincheiras para serem atacados com artilharia ou outras armas.
Com o passar do tempo, foi perdendo seu uso em conflitos armados at� ser proibido em 1997, pela Conven��o Sobre Proibi��o de Armas Qu�micas, firmado por 178 pa�ses.
A Conven��o pro�be seu uso como arma de guerra, tendo em vista o poder letal do g�s quando em alta concentra��o.
"Ele est� proibido na guerra porque supostamente n�o se deve us�-lo como arma ofensiva", explicou � BBC Mundo Anna Feigenbaum, professora da Universidade de Bournemouth, na Inglaterra, que publicou um ensaio sobre a hist�ria do g�s na revista The Atlantic.
Getty Images | ||
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No Reino Unido, pessoas fazem simula��es de lan�amento de g�s lacrimog�neo em 1941, durante a Segunda Guerra |
"A exce��o para o uso pela pol�cia ocorre porque o g�s n�o est� sendo usado como uma arma, e sim como um agente de controle", acrescentou.
O uso do g�s em protestos tem sido criticado porque seu uso indiscriminado pode provocar problemas de sa�de nos manifestantes.
Uma revis�o de estudos sobre os efeitos do g�s lacrimog�neo publicada em 2016 no Annals of the New York Academy of Sciences diz que ele pode causar s�rios danos nos pulm�es, pele e olhos; crian�as, mulheres e aqueles que j� t�m complica��es nessas �reas do corpo t�m riscos maiores de serem afetados.
A GUERRA DOS QU�MICOS
H� diverg�ncias entre os historiadores consultados pela BBC Mundo, o servi�o em espanhol da BBC, sobre quando exatamente o g�s lacrimog�neo do usado pela primeira vez na Primeira Guerra, mas a maioria tende a apontar o m�s de agosto de 1914, pouco depois do come�o do conflito mundial.
Doran Cart, curador do Museu Nacional da Primeira Guerra Mundial, em Kansas City, no Missouri, nos Estados Unidos, diz que embora n�o existam documentos oficiais sobre isso, os franceses podem ter usado granadas lacrimog�neas contra os alem�es nesse m�s. Isso porque a Fran�a vinha fazendo experimentos com os gases em anos anteriores.
O "ponto de virada", segundo o historiador, foi em 1915, quando gases come�aram a ser testados com mais frequ�ncia, ainda que nem sempre de maneira efetiva.
Seu desenvolvimento fez parte de um esfor�o muito maior das pot�ncias para criar armas qu�micas, o que levou a Primeira Guerra Mundial a ser considerada "a guerra dos qu�micos".
Al�m dos lacrimog�neos, tamb�m foram usados agentes como o g�s mostarda, o g�s cloro, g�s fosg�nio, alguns dos quais causaram um "sofrimento agonizante" e quase cem mil mortes, segundo dados das Na��es Unidas.
"Esses gases se converteram na personifica��o de todo o mal da Primeira Guerra Mundial", afirmou � BBC Mundo o historiador Michael Neiberg, professor da Universidade da Guerra do Ex�rcito dos Estados Unidos, na Pensilv�nia.
CONTROLE DE DIST�RBIOS
Poucos anos depois, em 1925, foi firmado o Protocolo de Genebra que, com limita��es, proibiu o uso de armas qu�micas nas guerras.
Na �poca, no entanto, j� estavam sendo testados novos compostos qu�micos de gases lacrimog�neos e se buscava formas de convert�-los em ferramenta para uso rotineiro. Pela sua condi��o n�o letal, seu uso n�o provocava tanta resist�ncia como o de outros gases.
Segundo Feigenbaum, poucos anos depois do armist�cio de 1918, v�rias cidades americanas e territ�rios ao redor do mundo come�aram a comprar o g�s, que foi usado em pris�es, atos de greves e at� em caixas-fortes de bancos para se evitar roubos.
A guerra do Vietn� tamb�m ajudou a mudar a percep��o sobre o g�s lacrimog�neo; tanto o seu uso no Vietn� como nos Estados Unidos - para dispersar protestos - passaram a ser criticados.
Para se distanciar das acusa��es de uso de armas qu�micas, Washington passou a se referir ao g�s como um "agente para o controle de dist�rbios", um termo que passou a ser usado com frequ�ncia cada vez maior, segundo um estudo publicado em 2013 na Yale Historical Review.
No resto do mundo, o g�s se tornou mais habitual e nos �ltimos anos foi usado com frequ�ncia em protestos diversos - como no Brasil, na Primavera �rabe, no Parque Gezi, em Istambul, na Venezuela e no Estado do Missouri (protestos contra a morte de negros pela pol�cia), nos EUA, s� para citar alguns dos casos mais not�rios.
"Tornou-se algo de uso comum porque � uma maneira de dispersar uma multid�o de maneira relativamente barata e f�cil", explica Feigenbaum.
A especialista diz que, usado de maneira adequada, o g�s n�o causa ferimentos com sangue e seus efeitos s�o normalmente superficiais, o que � ben�fico do ponto de vista da pol�cia.
Mas, para Feigenbaum, "a rua � o �nico lugar para onde podemos ir quando nos tiram o poder; se o ar � envenenado, est�o tirando das pessoas a capacidade de protestar".
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