Como Stephen Bannon ganhou milh�es e ajudou Trump a vencer
Stephen Bannon estava implorando a seus ouvintes que assistissem ao filme rec�m-lan�ado "Clinton Cash" (Dinheiro dos Clinton). Ele mal conseguia concluir suas senten�as.
Era 20 de julho, na reta final da campanha presidencial de 2016, e Bannon estava descrevendo Bill e Hillary Clinton como "cafajestes" e "bandidos" que tinham faturado milh�es de d�lares gra�as a seus contatos pol�ticos.
"Hillary e Bill Clinton s�o os dois maiores trapaceiros que j� se candidataram � Presid�ncia em toda a hist�ria dos Estados Unidos", disse Bannon a seu convidado Peter Schweizer, autor do livro no qual o
filme foi baseado.
Mike Theiler - 23.fev.2017/AFP | ||
O estrategista-chefe da Casa Branca, Stephen Bannon, fala em confer�ncia de conservadores em fevereiro |
Bannon, que hoje � o estrategista chefe do presidente Donald Trump, apresentou seu programa de r�dio nesse dia como um esfor�o urgente para divulgar informa��es importantes para os eleitores. Mas a verdade n�o se resumia a isso.
O programa de r�dio e o filme "Clinton Cash" eram elementos em uma m�quina multim�dia complexa composta por organiza��es sem fins lucrativos e empresas privadas alavancadas por Bannon para beneficiar sua agenda populista conservadora e arrecadar milh�es de d�lares. Esse esfor�o acabou ajudando a conduzir Donald Trump � Casa Branca e levar Bannon a ganhar destaque nacional.
Um olhar mais atento sobre os bastidores da transmiss�o de r�dio de Bannon naquele dia proporciona uma vis�o do funcionamento dessa m�quina multim�dia.
As pesquisas � base de "Clinton Cash" foram financiadas pelo Government Accountability Institute (GAI), organiza��o p�blica sem fins lucrativos, isenta da obriga��o de pagar impostos, criada por Bannon alguns anos antes e que, conforme mostram documentos, havia pago centenas de milhares de d�lares a ele em sua condi��o de presidente executivo dela.
"Clinton Cash" foi produzido pela Glittering Steel e a Bannon Film Industries, duas empresas pertencentes a Bannon, tamb�m um dos roteiristas do filme.
Bannon era tamb�m propriet�rio da ARC Entertainment, a distribuidora do filme.
E ele estava recebendo um sal�rio de seis algarismos como presidente executivo da emissora Breitbart News, que divulgou o filme intensivamente atrav�s de seu pr�prio site controverso e do programa de r�dio de Bannon.
� imposs�vel saber quantos membros do p�blico do programa entenderam todas essas conex�es. Muitas destas liga��es est�o espalhadas por documentos de empresas, judiciais e tribut�rios, al�m de um relat�rio de informa��es financeiras de 2016 divulgado pela Casa Branca na semana passada.
Na transmiss�o de r�dio em julho, Bannon apenas deu alguns ind�cios dessas liga��es todas, dizendo: "Agora vamos exibir este filme para o mundo inteiro ver, a partir deste fim de semana".
Uma investiga��o do "Washington Post" revelou que Steve Bannon p�de produzir mais de uma d�zia de document�rios conservadores nos �ltimos dez anos, lan�ando m�o de uma rede de duas d�zias de organiza��es sem fins lucrativos e empresas particulares. Bannon ajudou a organizar doa��es de republicanos ricos �s organiza��es sem fins lucrativos que lhe pagavam por filmes e outros trabalhos, mostram os documentos. Ao mesmo tempo, Bannon e suas firmas receberam pelo menos US$2 milh�es das organiza��es sem fins lucrativos e outros US$5 milh�es das empresas privadas.
Bannon, que j� tinha ganhado milh�es de d�lares em Wall Street, muitas vezes recebia de m�ltiplas fontes por cada projeto -uma pr�tica comum em Hollywood, onde trabalhara como financista de entretenimento. Pelo fato de ser pago por meio de empresas privadas e de entidades sem fins lucrativos, que t�m obriga��o apenas limitada de divulgar detalhes sobre suas atividades, os valores totais pagos a Bannon n�o s�o conhecidos.
Em um relat�rio financeiro pessoal divulgado pela Casa Branca na semana passada, Bannon divulgou sua fortuna l�quida como sendo deUS$11,8 milh�es a US$53,8 milh�es.
Bannon, a Casa Branca e Peter Schweizer n�o responderam a reiterados pedidos de declara��es.
Especialistas tributaristas disseram ao "Washington Post" que algumas das atividades de Bannon deixam d�vidas no ar em rela��o � sua obedi�ncia �s restri��es impostas pela Receita americana ao uso de entidades beneficentes, isentas de pagar impostos, para atacar um candidato pol�tico ou para auferir benef�cios financeiros pessoais excessivos.
"A impress�o que se tem � que um grupo coeso de amigos e aliados pol�ticos colabou para prover benef�cios, em especial a Stephen Bannon", disse David Nelson, especialista em organiza��es sem fins lucrativos e ex-s�cio tributarista na firma de auditoria cont�bil Ersnt & Young, que estudou os registros dos v�nculos complexos entre Bannon e as entidades sem fins lucrativos.
O emprego incorreto de entidades desse tipo para finalidades financeiras e pol�ticas se generalizou, mas essas transgress�es raramente resultam em san��es importantes, segundo especialistas consultados pelo "Post".
"O sistema dessas entidades est� sendo manipulado para fins impr�prios", comentou Paul Streckfus, ex-advogado tributarista da Receita americana e editor da "EO Tax Journal". "� uma farsa."
Em entrevista ao "Washington Post", David Bossie, que comanda duas organiza��es sem fins lucrativos que colaboraram com Bannon em alguns dos filmes deste, teceu elogios a Bannon.
"Damos apoio total a Steve Bannon e a nossos produtos. Temos grande orgulho de todos nossos filmes", falou Bossie, presidente da entidade sem fins lucrativos Citizens United e da funda��o filiada a ela. "A Primeira Emenda constitucional � uma coisa maravilhosa."
Bannon, 63 anos, acumulou milh�es de d�lares entre a d�cada de 1980 e os anos 2000 como financista em Wall Street e Hollywood, onde mergulhou fundo nas nuances da produ��o e distribui��o de filmes.
Ele tinha talento para criar filmes e era capaz de isolar-se por dias ou semanas para redigir roteiros ou propostas de filmes, contaram antigos colegas seus. Aproveitando o que aprendera em Nova York e Hollywood, Bannon recebia honor�rios altos de consultoria de empresas ao mesmo tempo em que atuava como assessor em tempo parcial em trabalhos financeiros e criativos.
Em 2004 ele produziu um document�rio de teor pol�tico, "In the Face of Evil: Reagan's War in Word and Deed" (Enfrentando o mal: a guerra de Reagan com palavras e atos), baseado em um livro de Peter Schweizer sobre o 40� presidente americano. Durante a divulga��o do filme, Bannon conheceu um astro em ascens�o da m�dia conservadora chamado Andrew Breitbart.
Por�m, mais importante para a carreira de Bannon como autor de document�rios movidos por uma agenda pol�tica foi David Bossie, que se lan�ou como ativista e investigador pol�tico fazendo oposi��o a Bill Clinton e seus aliados democratas. Bossie passara um per�odo pol�mico como investigador chefe do Comit� da C�mara dos Deputados para a Reforma e Fiscaliza��o do Governo, sob a dire��o do deputado republicano Dan Burton, do Indiana.
Em meados dos anos 2000, Bossie era presidente da entidade conservadora isenta de impostos Citizens United, cuja miss�o era informar ao p�blico sobre a import�ncia de "uma defesa nacional forte, um governo constitucionalmente limitado, a economia de mercado, a cren�a em Deus e nos valores judaico-crist�os, e o reconhecimento da fam�lia como a unidade social fundamental de nossa sociedade".
Na �poca, Bannon era presidente do conselho de uma distribuidora de m�dia de Los Angeles chamada Genius Products, voltada � distribui��o de filmes independentes.
"Steve gostava realmente da ideia de ajudar os pequenos cineastas independentes" que n�o ganhavam a aten��o de distribuidoras maiores, disse ao "Post" em entrevista o executivo-chefe da Genius, Trevor Drinkwater.
Tanto Bossie quanto Bannon estavam interessados em usar o cinema para divulgar uma mensagem conservadora. Ambos queriam reproduzir o que o ativista liberal Michael Moore havia feito dois anos antes com "Fahrenheit 11 de setembro", em que arrasou o presidente George W. Bush.
"Quer�amos transmitir uma mensagem", disse Bossie ao "Post".
Em 2006 Bossie idealizou um filme, a ser intitulado "Border War: The Battle Over Illegal Immigration" (Guerra na fronteira: a batalha em torno da imigra��o ilegal), que levaria o espectador dentro dos t�neis sob a fronteira americana usados no tr�fico de pessoas e drogas. Bossie concordou em usar a Genius, sua empresa ent�o rec�m-fundada, para distribuir o filme em DVD.
Foi o in�cio de um relacionamento lucrativo e cada vez mais influente que nos dez anos seguintes o ajudariam a ascender nas fileiras conservadoras -e a aumentar a fortuna acumulada por Stephen Bannon em Wall Street e Hollywood. Segundo documentos do div�rcio apresentados em 2008 por sua terceira esposa, Bannon possu�a bens no valor de US$41 milh�es.
Documentos da empresa mostram que a Genius, empresa de capital aberto, come�ou pagando � consultoria de Bannon, a Bannon Strategic Advisors, US$250 mil por ano. Drinkwater disse que Bannon prestava assessoria a empresas e tinha v�nculos com administradores de hedge funds e bancos de investimentos. "Ele tinha contatos fant�sticos em toda parte. Acho que n�o havia ningu�m com quem n�o conseguisse marcar uma reuni�o", disse Drinkwater.
Ao mesmo tempo em que a Genius passava por dificuldades financeiras, Bannon continuou a receber seus honor�rios -cerca de US$1,5 milh�o ao longo de cinco anos, conforme revelam documentos oficiais. Em maio de 2008 a Genius, em documento enviado ao Comit� de Valores Mobili�rios (SEC), disse: "Temos um hist�rico de preju�zos importante e � poss�vel que nunca consigamos alcan�ar ou manter a rentabilidade". A empresa acabou indo � fal�ncia.
Em 2010, Bannon e Drinkwater lan�aram uma distribuidora de cinema sediada em Santa Monica, Calif�rnia, e chamada ARC Entertainment. Ao mesmo tempo Bannon mergulhava de cabe�a em sua carreira secund�ria de criador de document�rios pol�ticos.
Era uma �poca f�rtil para a cria��o de filmes conservadores. As elei��es parlamentares se aproximavam, o movimento Tea Party estava se formando em oposi��o ao presidente Barack Obama, e os conservadores radicais se viam como estando em guerra com um governo federal que, para eles, queria impor ao pa�s um socialismo destitu�do de Deus.
Em janeiro de 2010 a Suprema Corte votou por cinco a quatro votos em favor da Citizens United em um processo que durou dois anos e no qual a entidade beneficente contestava regras eleitorais que a proibiram de gastar dinheiro para promover um document�rio contra os Clinton durante a temporada das elei��es prim�rias de 2008. A decis�o autorizou novas formas de gastos pol�ticos ilimitados por parte de organiza��es como a Citizens United -uma brecha que foi aproveitada de imediato por megadoadores da direita que faziam oposi��o ao governo Obama.
Quando a Citizens United decidiu produzir mais filmes, Bossie procurou Stephen Bannon para escrever roteiros, dirigir e produzir para a Citizens United Productions, empresa com fins lucrativos lan�ada pela ONG e por um investidor an�nimo cuja identidade Bossie se negou a revelar.
Documentos tribut�rios aos quais o "Washington Post" teve acesso mostram que a Citizens United investiu centenas de milhares de d�lares no primeiro filme, "Generation Zero", do qual Bossie foi co-produtor.
O filme se debru�ou sobre a crise financeira global que come�ara em 2008. Tinha todas as caracter�sticas de uma produ��o de Bannon: edi��o com cortes �geis. M�sica tenebrosa. Imagens de tornados e explos�es nucleares para simbolizar a destrui��o provocada pelo derretimento de Wall Street. Imagens de hippies praticando amor livre, para sugerir que a culpa do que acontecera era da esquerda pol�tica.
Falando de Bannon, Bossie comentou: "Ele � um cineasta incrivelmente vision�rio, algu�m que l� extensamente e mergulha fundo em seus temas. � um roteirista e diretor brilhante."
Os filmes tinham or�amentos restritos, e os custos eram mantidos baixos com a utiliza��o de imagens de arquivo e coment�rios de figuras republicanas destacadas. Os documentos p�blicos n�o deixam claro que parcela dos honor�rios pagos a Stephen Bannon ou suas empresas foi gasta com custos de produ��o ou gerais.
Em 2010 Bannon fez os dois filmes seguintes, "Battle for America", uma cr�tica acirrada da administra��o Obama e do governo grande, e "Fire from the Heartland", sobre a ascens�o das mulheres no movimento conservador. A Citizens United Foundation Productions gastou US$1,7 milh�o nesse ano com a produ��o e distribui��o do que descreveu como "document�rios educativos", enquanto a Citizens United gastou US$1,9 milh�o com a produ��o de filmes, segundo documentos financeiros.
No mesmo ano, a carreira de cineasta de Steve Bannon recebeu um impulso de outra organiza��o beneficente isenta da obriga��o de pagar impostos.
A Young America's Foundation, no norte da Virg�nia, contratou a Bannon Film Industries para come�ar a trabalhar sobre pelo menos tr�s filmes, pagando � empresa quase US$578 mil entre 2010 e 2012, segundo documentos do fisco. Entre eles estavam dois document�rios feitos para o Reagan Ranch, em Santa Barbara, Calif�rnia, administrado pela funda��o, e o curta-metragem de 29 minutos "The Conservatives", cuja finalidade era inspirar lideran�as estudantis conservadoras em universidades.
Em seu site na internet, a funda��o se descreve como "a principal organiza��o do movimento conservador para entrar em contato com a comunidade mais ampla". Ela era liderada por um ativista conservador, Ronald Robinson, que tamb�m integra os conselhos de dire��o da Citizens United e da Citizens United Foundation.
Movido por um manancial de ideias e energia transbordante, Bannon estava se tornando um dos l�deres da vanguarda conservadora insurgente. "Acho que ele trabalhou sobre muitas coisas simultaneamente", disse Drinkwater. "Essa � sua personalidade. Ele n�o deve dormir mais que tr�s horas por noite e deve ser capaz de fazer v�rias coisas bem ao mesmo tempo."
Al�m dos honor�rios que recebia por escrever, dirigir e produzir filmes, Bannon estava ganhando US$22.500 mensais, ou US$270 mil ao ano, em honor�rios de consultoria da ARC Entertainment, sua empresa de distribui��o de filmes. A informa��o est� contida em um pedido de aluguel residencial assinado em 2013 por Bannon e ao qual o "Washington Post" teve acesso.
Kirk Wickstrom, executivo financeiro chefe da ARC Entertainment entre 2010 e 2013, disse que Bannon era o �nico membro do conselho da empresa e exercia um papel de assessoria. "Ele n�o era muito presente na pr�tica", disse Wickstrom. "N�o o us�vamos muito; geralmente, quando os detalhes chegavam, ele dava uma olhada."
Em 2011 Bannon decidiu fazer um filme sobre Sarah Palin, a queridinha do Tea Party e suposta candidata presidencial, a ser intitulado "The Undefeated" (A invicta).
Segundo um colega que exigiu anonimato para falar porque n�o queria ganhar exposi��o nacional, Bannon tinha formulado um conjunto de princ�pios para os filmes que criava. Os filmes seriam movidos por "conte�dos de orienta��o masculina, movidos a testosterona e de orienta��o espiritual". E Bannon "jamais investiria seu pr�prio dinheiro em qualquer projeto".
A produtora do filme sobre Palin era uma empresa de Tallahassee, na Fl�rida, formada por Bannon com alguns outros investidores em 2010. Bannon disse a alguns dos investidores que estava tratando "The Undefeated" como empreendimento com fins lucrativos e que esperava retornos s�lidos. O filme seria distribu�do pela empresa de Bannon ARC Entertainment.
Apesar do otimismo de Bannon, o filme fracassou nas bilheterias depois de Sarah Palin ter desistido de ser candidata � Casa Branca.
Em 2011 Bannon fechou uma alian�a com a rica fam�lia Mercer, em Nova York.
Robert Mercer era um bilion�rio investidor em fundos hedge que estava a caminho de tornar-se um dos doadores pol�ticos conservadorees mais generosos do pa�s.
Ele e sua filha Rebekah Mercer comandavam a Mercer Family Foundation, fonte crescente de recursos para causas conservadoras, com ativos de quase US$38 milh�es em 2012. A funda��o come�ou a procurar a assessoria pol�tica de Bannon.
Este redigiu para a fam�lia um plano financeiro que previa que ela investisse US$10 milh�es na ent�o nascente Breitbart News, comandada por Andrew Breitbart, amigo de Bannon, segundo a revista "New Yorker". Bannon entrou para o conselho de dire��o do site de jornalismo. Documentos indicam que dinheiro da funda��o da fam�lia Mercer come�ou a chegar a algumas das mesmas ONGs que haviam financiado os filmes e outros trabalhos de Bannon.
Em 2012 a funda��o Mercer doou US$2 milh�es � Citizens United Foundation, sem fins lucrativos, que ent�o deu US$300 mil a uma das firmas de consultoria de Bannon, a t�tulo de "honor�rio por levantamento de fundos", segundo documentos da Receita.
Os Estados de Nova York e outros exigem que pessoas f�sicas ou jur�dicas que levantem fundos para organiza��es sem fins lucrativos se cadastrem junto ao Estado. Autoridades estaduais disseram ao "Post" que a firma de Bannon n�o estava cadastrada em Nova York na �poca.
Indagado sobre o honor�rio, Bossie, presidente tanto da Citizens United quanto da funda��o desta, descreveu o r�tulo de "levantamento de fundos" como erro administrativo. Ele disse que, na realidade, o pagamento dizia respeito � consultoria de cinema dada por Bannon. Em comunicado, Bossie disse que o honor�rio "n�o guarda rela��o material com os assuntos financeiros da organiza��o e, em vista do tempo transcorrido desde ent�o, n�o justifica que seja pedida uma corre��o" na declara��o de renda do grupo.
Uma auditoria da Citizens United Foundation realizada nesse ano parece contradizer Bossie. S�o listados gastos de US$301.200 com levantamento de fundos, segundo c�pia do documento examinada pelo "Post".
Quando o "Post" indagou sobre a discrep�ncia, a Procuradoria do Estado de Nova York, na semana passada, enviou cartas � Citizens United e � empresa de consultoria de Bannon, pedindo esclarecimentos.
Bannon receberia mais US$150 mil em honor�rios depois de a funda��o Mercer ter doado US$1 milh�o � funda��o Citizens United, em 2013. Em sua declara��o anual de renda relativa a esse ano, a Citizens United descreveu os US$150 mil como pagamento por consultoria cinematogr�fica e levantamento de fundos, e os auditores identificaram US$150 mil como o valor que o grupo gastou com levantamento de fundos.
Bannon recebeu mais dinheiro por novos document�rios pol�ticos. Trabalhando com a Citizens United, ele escreveu, dirigiu e produziu "The Hope & The Change", uma an�lise dos democratas insatisfeitos com Obama, e "Occupy Unmasked", um ataque � esquerda pol�tica e aos manifestantes contra Wall Street.
No mesmo ano, Bannon colaborou com uma entidade beneficente conservadora, a Judicial Watch, na cria��o de um filme intitulado "District of Corruption", uma cr�tica � administra��o Obama e ao dinheiro recebido em Washington. A Judicial Watch, que se descreve como organiza��o de responsabiliza��o e fiscaliza��o, pagou US$382.143 ao Victory Film Project, de Bannon, conforme revelam documentos.
Em mar�o de 2012 Bannon formou sua pr�pria organiza��o sem fins lucrativos, o GAI. Em documentos enviados � Receita para pedir status de isen��o de impostos para a entidade, ele disse que o GAI atuaria como "entidade beneficente educativa" para promover a "liberdade econ�mica" e expor a corrup��o.
Esses grupos s�o conhecidos como entidades beneficentes 501 (C), uma refer�ncia � se��o do c�digo tribut�rio em que se enquadram.
O GAI tinha sede em Tallahassee. Bannon era seu chairman e diretor executivo, recebendo estimados US$100 mil ao ano, revelam documentos. Seu colega Peter Schweizer era presidente e ganhava estimados US$200 mil. Robinson, citado como diretor do GAI, n�o era pago, revela o documento.
Bannon, Schweizer e Robinson est�o ligados por meio de organiza��es sem fins lucrativos e trabalho na cria��o de filmes. Bannon e Schweizer tinham feito juntos o filme sobre o presidente Ronald Reagan, em 2004; mais recentemente, tinham sido colegas no Breitbart News. Schweizer integrava o conselho da Young America's Foundation, de Robinson, que em 2010 pagou US$404.904 a Bannon para produzir filmes e em 2012 lhe pagaria quase US$173 mil.
No documento em que pedia isen��o de impostos para o GAI, Bannon assinou declara��es, sob pena de cometer o delito de prestar depoimento falso em ju�zo, atestando repetidas vezes que nenhum deles "tem rela��es familiares ou comerciais com outras pessoas envolvidas no GAI".
Uma porta-voz do GAI disse ao "Washington Post" que as rela��es entre Bannon, Schweizer e Robinson foram divulgadas mais tarde no relat�rio anual do grupo � Receita -enviado em novembro de 2013, nove meses depois de aprovado o status de isento de impostos da entidade.
Organiza��es beneficentes tamb�m t�m a obriga��o de revelar relacionamentos comerciais entre seus diretores em seus pedidos iniciais de isen��o de impostos, para que a Receita possa avaliar se a organiza��o est� sendo formada para finalidades p�blicas de fato.
Robinson disse ao "Post" que n�o viu o documento enviado � Receita.
"Desconhe�o a defini��o de 'relacionamento comercial'", ele disse. "� uma quest�o a ser discutida com quem redigiu o documento."
O GAI teria apenas um punhado de doadores nos anos seguintes. Sua primeira inje��o de dinheiro, US$2 milh�es, veio de outra entidade conservadora beneficente.
A funda��o da Fam�lia Mercer e o Donor's Trust, grupo conservador sem fins lucrativos ligado aos ricos irm�os Koch, doariam mais de US$7 milh�es ao GAI nos tr�s anos seguintes, revelam documentos.
Uma porta-voz do GAI disse ao "Post" anteriormente que a organiza��o "sempre obedeceu totalmente todas as regras que regem as entidades 501".
Ela disse tamb�m que a organiza��o "tem um hist�rico bipartid�rio de trabalhar com importantes unidades investigativas na m�dia sobre reportagens premiadas".
Na manh� de 19 de maio de 2012, no mesmo dia em que a Receita americana deferiu o pedido da GAI, Stephen Bannon assumiu mais um papel de lideran�a: foi nomeado presidente executivo do Breibart News, preenchendo o v�cuo deixado pela morte inesperada de Andrew Breitbart no mesmo m�s.
Wickstrom, o executivo financeiro chefe da ARC Entertainment, contou que estava com Bannon em viagem de neg�cios a Nova York quando Bannon recebeu um telefonema informando-o da morte de Breitbart. Ele contou que Bannon passou o resto do dia ao telefone. "Ele se sentia muito respons�vel pelo Breitbart News."
Bannon imediatamente come�ou a ampliar o alcance do Breitbart News, ao mesmo tempo em que trabalhava com Schweizer e outros para inserir o GAI no mapa pol�tico e jornal�stico.
Em fevereiro de 2013, Bannon disse em um pedido de aluguel de im�vel que o site Breitbart News, financiado pela funda��o Mercer, lhe pagava US$62.500 ao m�s, o equivalente a US$750 mil ao ano. Ele informou tamb�m que recebeu US$377 mil do GAI entre 2012 e 2015 para trabalhar em m�dia 30 horas por semana.
Em 2014 e 2015, Bannon assumiu cargos pagos adicionais em duas empresas financiadas pela funda��o Mercer que estavam se posicionando para desempenhar um papel na elei��o presidencial de 2016.
Bannon tornou-se vice-presidente da Cambridge Analytica, uma empresa de ci�ncia de dados, em junho de 2014. Com Rebekah Mercer, ele co-fundou outra produtora de filmes chamada Glittering Steel LLC e tornou-se seu presidente.
Ao mesmo tempo, ele comandava a opera��o noticiosa 24 horas por dia do Breitbart News e apresentava um programa de r�dio. Bannon frequentemente divulgava o trabalho do GAI e convidava funcion�rios da entidade para participar de seu programa. Como presidente do GAI, ele aprovou gastos de mais de US$200 mil em an�ncios no site do Breitbart News, segundo informes enviados � Receita pela entidade beneficente.
Bannon tamb�m mantinha liga��es com Bossie a partir da Citizens United e frequentemente convidava Bossie para falar em seu programa de r�dio do Breitbart News. Em 2015 o GAI doou US$125 mil � Citizens United Foundation, rotulando a doa��o como "assist�ncia p�blica geral".
A Citizens United e a Glittering Steel, de Bannon, produziram o filme de 2016 de Bannon "Torchbearer", com Phil Robertson, da s�rie de TV-realidade "Duck Dynasty". O Breitbart News descreveu o filme como "um chamado inequ�voco aos crist�os e pessoas de f� na Am�rica a se engajarem com sua cultura antes que seja tarde demais".
Os esfor�os da rede de Bannon culminaram com o lan�amento de "Clinton Cash", o livro escrito por Schweizer com informa��es colhidas pelos pesquisadores do GAI. Bannon, Schweizer e outros converteram o livro em filme com a ajuda da Glittering Steel, que em 2016 pagou US$167.500 a Bannon, como mostram documentos.
Bannon divulgou o filme no per�odo que antecedeu a elei��o presidencial. Ele convidou Schweizer a seu programa de r�dio no dia 29 de abril de 2016 para falar dos Clinton.
"Qual � o segredo da classe pol�tica permanente e como ela rouba do p�blico que ouve este programa e l� o Breitbart todos os dias?", perguntou Bannon.
Schweizer respondeu: "Este filme e 'Clinton Cash'... n�o � um livro sobre coisas que est�o acontecendo no �mbito abstrato. � sobre como uma classe de l�deres pol�ticos, encarnados pelos Clinton, est� sistematicamente traindo os interesses do pa�s para seu lucro pessoal."
No dia 20 de julho de 2016, quando a campanha eleitoral estava se intensificando, Bannon chamou Schweizer novamente para o programa de r�dio do Breitbart News na r�dio SiriusXM, transmitido da Conven��o Nacional Republicana em Cleveland.
"Esse pessoal � corrupto", disse Bannon. "� corrupto de ponta a ponta."
Menos de um m�s mais tarde, Stephen Bannon se tornou o executivo-chefe da campanha de Donald Trump. David Bossie, da Citizens United, entrou como seu vice.
Tradu��o CLARA ALLAIN
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