Papa Francisco enfrenta revolta de conservadores na It�lia
Apesar do carisma do papa Francisco, diversos grupos est�o contestando algumas decis�es do l�der da Igreja cat�lica. Eles reivindicam regras claras dentro da institui��o e acusam o pont�fice jesu�ta de confundir a defesa dos direitos dos pobres com a promo��o do pauperismo.
Recentemente foram colados centenas de cartazes em diversos bairros de Roma com uma foto do papa com uma express�o fechada. Abaixo da imagem, uma lista reclama��es, em dialeto romano: "Francisco, voc� destituiu os chefes das congrega��es, removeu sacerdotes, decapitou a Ordem de Malta e a dos Franciscanos da Imaculada, ignorou cardeais. Onde est� a sua miseric�rdia?"
Max Rossi - 05.fev.2017/Reuters | ||
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Trabalhador encobre cartaz contr�rio ao papa Francisco com papel que diz "p�ster ilegal" |
Ao mesmo tempo em que os cartazes surgiam nos muros da cidade, diversos cardeais receberam pelo correio uma vers�o fict�cia do jornal do Vaticano, o "L'Osservatore Romano". Na capa, havia uma lista de perguntas ao papa feitas por um grupo de cardeais conservadores. Como resposta, "sic et non" (sim e n�o em latim), zombando do papa em seu pr�prio territ�rio.
ACUSA��ES
As acusa��es contra Francisco se referem aos problemas que ele teve com os setores mais conservadores da Igreja Cat�lica e da C�ria Romana, o governo central da Igreja. O cartaz cita a briga com a Ordem Soberana e Militar de Malta, uma organiza��o que remonta h� quase mil anos, formada hoje por laicos de fam�lias nobres dedicados a trabalhos humanit�rios.
O Gr�o-Mestre, Matthew Festing, acabou destitu�do pelo pr�prio pont�fice porque, segundo a imprensa italiana, esta ordem distribu�a preservativos na �sia. Mas os dizeres do cartaz citam tamb�m a aposentadoria for�ada do ultraconservador Stefano Manelli, 83, fundador em 1970 da ordem dos Frades Franciscanos da Imaculada.
Al�m disso, criticam o fato de que o papa "ignora cardeais", em alus�o aos quatro cardeais ultraconservadores que em setembro passado pediram publicamente em uma carta que Francisco corrija os "erros doutrinais" de sua enc�clica Amoris Laetitia, em rela��o ao tema da comunh�o dos divorciados que se casaram de novo.
A pol�cia est� investigando quem est� por tr�s da campanha dos cartazes e falsos jornais, mas at� agora n�o descobriu quem comandou a a��o. Uma das hip�teses � que se trate de um grupo conservador com dinheiro porque custou caro imprimir os cartazes, sem contar que tiveram que pagar v�rias pessoas para colar esses cartazes por toda a cidade.
REA��O
O grupo de cardeais encarregados pelo pont�fice pelo estudo e o projeto das reformas da Igreja, o chamado C9, reuniu-se na semana passada. Normalmente estes encontros ocorrem sem a divulga��o de grandes an�ncios, mas desta vez eles divulgaram um breve texto dizendo: "Em rela��o aos recentes acontecimentos, o Conselho de Cardeais expressa o pleno apoio ao papa, assegurando, ao mesmo tempo, a ades�o e o apoio pleno � sua pessoa e ao seu magist�rio".
O cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congrega��o dos Bispos, conhecido por suas posi��es conservadoras, condenou, em um programa de televis�o, "os m�todos an�nimos, inspirados pelo diabo, que querem semear a divis�o".
O papa n�o fez uma refer�ncia direta ao caso, mas falou de "difama��o e cal�nia" entre os cat�licos. "Estas sementes arru�nam a nossa comunidade, que deveria brilhar por sua acolhida, solidariedade e reconcilia��o", disse Francisco durante o Angelus do �ltimo domingo (19).
OPOSITORES DE FRANCISCO
O papa tem v�rios opositores ultraconservadores, entre jornais, sites da internet e outros. O pont�fice foi eleito para reformar a Igreja cat�lica depois dos esc�ndalos que sacudiram o Vaticano e culminaram na ren�ncia de Bento XVI. As reformas de Francisco incomodam muita gente. Por exemplo, o presidente da Funda��o Lepanto, Roberto De Mattei, declarou ao jornal italiano La Stampa que "A Igreja vive um dos momentos de maior confus�o em sua hist�ria, e o papa Francisco � uma das causas. Segundo Mattei, a oposi��o tem se expandido para bispos e te�logos fi�is aos pont�fices predecessores, Bento XVI e Jo�o Paulo II.
O ataque ao papa Francisco � global. Segundo Agostino Giovagnoli, professor de Hist�ria Contempor�nea na Universidade Cat�lica e especialista em di�logo com a China, na gal�xia da dissid�ncia contra Francisco h� um forte componente geopol�tico. De acordo com esses cr�ticos, o papa deve afirmar a liberdade de religi�o como um argumento pol�tico contra Pequim, em vez de buscar o di�logo atrav�s da diplomacia.
O pesquisador Flavio Cuniberto, autor de um livro cr�tico com a doutrina social do papa, afirmou que "Francisco n�o atualizou a doutrina, mas demoliu esta doutrina". Segundo Cuniberto, "o papa confunde a pobreza com o pauperismo dogm�tico."
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