'Trump deveria ser orientado antes de telefonemas', diz Kerry
Jim Watson/AFP | ||
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O presidente eleito Donald Trump durante encontro com o presidente Barack Obama na Casa Branca |
O secret�rio de Estado americano, John Kerry, afirmou no domingo (4) que o presidente eleito Donald Trump deveria receber orienta��es antes de falar pelo telefone com l�deres estrangeiros. "N�s n�o fomos contatados antes de nenhum desses telefonemas, n�o nos pediram orienta��es", disse Kerry durante palestra. "Mas � aconselh�vel que ele receba recomenda��es (de assessores), para saber quais as quest�es importantes, qual � o atual estado da rela��o (com o pa�s). Isso � importante e eu certamente recomendaria, mas obviamente n�o est� acontecendo."
Trump falou por telefone com a presidente do Taiwan, Tsai Ing-wen, na sexta-feira (2), quebrando uma tradi��o diplom�tica de quase 40 anos e irritando profundamente a China. Desde que os EUA estabeleceram rela��es diplom�ticas com a China, em 1979, um l�der americano n�o falava com Taiwan. A China considera que Taiwan � uma prov�ncia rebelde do pa�s, e n�o uma na��o independente. Ap�s 1979, os EUA deixaram de reconhecer Taiwan como um pa�s, por isso l�deres americanos n�o mant�m conversas oficiais com presidente taiwaneses.
No domingo (4), uma das principais assessoras de Trump, Kellyanne Conway, minimizou a import�ncia do telefonema. "Foi s� um telefonema, ele estava simplesmente respondendo a uma liga��o de felicita��es", disse ela no programa "Fox News Sunday". O vice-presidente eleito Mike Pence tamb�m tentou esfriar a controv�rsia.
A China afirmou que o telefonema foi uma manobra de Taiwan, mas registrou um protesto diplom�tico com os EUA.
O telefonema com Taiwan foi apenas a pior de uma s�rie de quebras de protocolo diplom�ticas de Trump, que nunca ocupou nenhum cargo p�blico.
Na semana passada, o presidente eleito ofereceu ajuda ao primeiro-ministro do Paquist�o, Nawaz Sharif. "Posso ter o papel que voc� quiser para ajudar seu pa�s a solucionar os problemas que o afetam", disse Trump no telefonema. �ndia e Paquist�o vivem em estado de guerra por causa de uma disputa territorial na regi�o da Caxemira e a declara��o poderia ser encarada pelo governo indiano como os EUA tomando partido dos paquistaneses. Trump elogiou o primeiro-ministro Sharif durante telefonema, dizendo que ele � "um cara incr�vel". Os EUA e Paquist�o vivem �s turras porque, na vis�o dos EUA, o governo paquistan�s n�o faz tudo o que deveria para combater terrorismo.
Trump conversou com o pol�mico presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, e a assessoria do filipino afirmou que Trump teria se mostrado compreensivo em rela��o � campanha contra traficantes de drogas no pa�s asi�tico. O presidente Barack Obama tem sido bastante assertivo nas cr�ticas contra viola��es de direitos humanos na repress�o aos traficantes, que j� resultaram em mais de 2 mil mortes nas Filipinas. Duterte chamou Obama de "filho da p..." publicamente.
As liga��es de chefes de Estado e governo a um presidente eleito seguem regras diplom�ticas. A ordem em que s�o feitas e retornadas e o conte�do dos telefonemas se revestem de significado diplom�tico. No Brasil e na maioria dos pa�ses, o presidente eleito ou em exerc�cio recebe um "briefing" antes de conversar com qualquer l�der estrangeiro, onde s�o listadas principais quest�es da agenda bilateral e potenciais pontos sens�veis.
Apesar de o Brasil ser o maior pa�s da Am�rica Latina, Trump ainda n�o conversou por telefone com o presidente Michel Temer. Temer enviou um telegrama felicita��es ao americano e postou no Twitter oficial.
Mas Trump j� conversou com o presidente argentino Mauricio Macri, que conhece h� muitos anos e com quem j� fez neg�cios. Segundo relatos, Trump teria inclusive mencionado a Macri um projeto imobili�rio que ele tem em Buenos Aires e que est� parado por entraves burocr�ticos. A possibilidade de conflitos de interesse por causa de seus neg�cios tem sido uma constante cr�tica contra Trump.
Os brit�nicos ficaram chocados porque Trump conversou com o primeiro-ministro da Irlanda antes de qualquer outro l�der europeu. Apesar de Reino Unido e EUA terem uma "rela��o especial" de afinidades estrat�gicas, a primeira-ministra Theresa May foi a d�cima a ter seu telefonema retornado. Na liga��o, Trump comentou de forma casual: "Se voc� vier para os Estados Unidos, n�o deixe de me avisar".
"Muitas pessoas gostariam de ver Nigel Farage representar o Reino Unido como embaixador nos EUA. Ele faria um �timo trabalho", disse Trump em seu Twitter, referindo-se ao l�der do Partido da Independ�ncia do Reino Unido, legenda de direita e rival do partido de May, al�m de grande defensor do Brexit. Autoridades brit�nicas disseram que o posto est� ocupado e que eles j� t�m um excelente embaixador nos EUA.
No telefonema com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, ele mencionou ter um s�cio turco nas Trump Towers que construiu em Istambul, que disse ser "um grande f�" de Erdogan, cujo governo autorit�rio j� encarcerou milhares de jornalistas, dissidentes e acad�micos no pa�s.
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