Documentos dos EUA sobre ditadura argentina exibem rela��o com Brasil
As autoridades do Brasil, da Argentina e do Chile do fim da d�cada de 1970 eram "ultraconservadoras" e tinham uma vis�o limitada que podia ser observada em atitudes como "as disputas mesquinhas de um pa�s com o outro".
Foi assim que os Estados Unidos definiram os governos desses pa�ses em seus relat�rios elaborados � �poca.
A informa��o est� em uma das 1.081 p�ginas de documentos americanos sobre a ditadura argentina que se tornaram p�blicos nesta segunda-feira (8).
Os documentos cobrem apenas os anos entre 1977 e 1980, per�odo em que Jimmy Carter estava � frente da Casa Branca e em que os Estados Unidos j� se posicionavam contra as torturas das ditaduras.
Presid�ncia da Argentina/AFP Photo | ||
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O secret�rio de Estado americano, John Kerry, encontra o presidente argentino, Mauricio Macri |
Os relat�rios indicam que os americanos queriam manter-se pr�ximos dos latinos e se preocupavam com a possibilidade de que a press�o pelos direitos humanos pudesse prejudicar as rela��es. Mostram tamb�m que o governo de Carter via o Brasil como um pa�s-chave nessa quest�o.
Em maio de 77, os pa�ses sul-americanos estavam incomodados com as pol�ticas norte-americanas que defendiam os direitos humanos e preparavam um encontro para debater o assunto. "Dado o status internacional do Brasil (...), a presen�a do presidente [Ernesto] Geisel pode fazer a reuni�o potencialmente dif�cil para n�s", diz um dos documentos.
De acordo com os pap�is, um dos principais objetivos de uma viagem do ent�o secret�rio de Estado dos EUA, Cyrus Vance, ao Brasil era combater a tortura e reafirmar o interesse em manter um bom relacionamento com o pa�s.
Para isso, estrat�gias em rela��o a pesquisas sobre energia foram adotadas. No lugar de o governo americano pressionar o Brasil pela n�o prolifera��o de estudos com material nuclear (o que desagradaria o ent�o presidente Ernesto Geisel), o plano foi fechar parcerias de pesquisa na �rea de energia alternativa, garantindo uma boa atmosfera entre os pa�ses.
ARGENTINA
Um dos documentos liberados aborda o "estilo de [Jorge] Videla". De acordo com o relat�rio, o general que presidiu a Argentina entre 1976 e 1981 era um homem moderado, devoto � fam�lia e ao catolicismo e que valorizava tradi��es.
Videla foi o principal s�mbolo da ditadura do pa�s e morreu em 2013, aos 87 anos, em uma base militar onde cumpria pris�o perp�tua.
Para o governo americano, por�m, o general parecia "abominar" o excesso que "alguns" militares cometiam.
Videla evitava confronta��o e, por isso, tinha dificuldade de se opor ao consenso dos l�deres militares de que se devia adotar medidas "�speras contra o terrorismo", diz um dos documentos.
"[O general] provavelmente teria medo de confrontar e de demandar obedi�ncia dos [militares] mais duros", afirmou � �poca o diplomata Henry Owen.
Os registros liberados pelos EUA ainda trazem depoimentos sobre as torturas realizadas na Argentina, explica��es de Videla para Carter sobre presos pol�ticos e um informe sobre a ditadura elaborado pela secret�ria de direitos humanos americana Patricia Derian.
Esse documento, por�m, teve partes apagadas por Henry Kissinger, secret�rio de Estado dos EUA em governos anteriores ao de Carter que tinha conhecimento da Opera��o Condor (alian�a entre os governos militares da Am�rica do Sul formada para reprimir opositores das ditaduras da regi�o).
At� ent�o secretos, os relat�rios americanos foram entregues na semana passada pelo secret�rio de Estado americano, John Kerry, ao presidente argentino, Mauricio Macri.
Barack Obama havia prometido os registros a Macri em mar�o, quando esteve em Buenos Aires para uma visita de retomada de rela��es entre os dois pa�ses. Nos �ltimos 12 anos, sob o kirchnerismo (2003-2015), a Argentina e os EUA haviam se afastado gradualmente.
Durante sua estadia no pa�s, Obama disse ser consciente da pol�mica que existe em torno das pol�ticas dos EUA em rela��o �s ditaduras latinoamericanas e afirmou que, � �poca, seu pa�s demorou para defender os direitos humanos.
Os EUA apoiaram os regimes ditatoriais de pa�ses como Brasil, Argentina e Chile at� 1977.
Cerca de 4.000 documentos americanos sobre a ditadura argentina j� haviam sido liberados no in�cio dos anos 2000.
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