Ap�s ataque em Dallas, centenas de pessoas se candidatam a ser policiais
Dakota Leierer, 22, trabalha h� dois anos em turnos quinzenais nos campos petrol�feros do oeste do Texas, dormindo em um trailer e dirigindo quatro horas para ver sua mulher e seus dois filhos pequenos.
Mas no �ltimo 7 de julho, quando um atirador matou cinco policiais em Dallas, Leierer decidiu que precisava mudar de trabalho. Resolveu que queria ser policial em Dallas.
"Tudo o que est� acontecendo no mundo —crises, comunidades que n�o se entendem, protestos", disse Leierer. "Isso mexeu comigo."
As rela��es entre a pol�cia e o p�blico est�o especialmente dif�ceis, marcadas por tens�es pol�ticas e raciais. Mesmo assim, a morte de oito policiais no Texas e na Louisiana no m�s passado lan�ou algumas pontes sobre a divis�o entre a pol�cia e a popula��o.
Policiais em todo o pa�s relataram ter sido objetos de gestos de bondade —pessoas que lhes pagam caf�s e refei��es, agradecimentos e ora��es espont�neas.
O ataque a policiais em Dallas gerou outro resultado: um aumento do interesse em ingressar nas fileiras deles.
EMPREGO FIXO
Leierer, cuja fam�lia vive a uma hora de Dallas, enviou seu formul�rio de candidatura no dia seguinte � emboscada dos policiais.
Foi uma das 467 candidaturas que inundaram o Departamento de Pol�cia de Dallas nas duas semanas seguintes ao ataque —mais de tr�s vezes o n�mero recebido em um per�odo semelhante, um m�s antes.
A pol�cia informou que as candidaturas continuam a chegar, dando ao departamento, que tem 3.500 policiais, um pool de candidatos maior que o comum para encher sua academia de pol�cia, que nos �ltimos meses vem tendo dificuldade em encontrar recrutas.
Para algumas pessoas, o an�ncio de que a cidade est� contratando policiais oferece uma oportunidade de um emprego fixo, com benef�cios, apesar do sal�rio modesto, do hor�rio de trabalho variado e dos riscos.
Mas para a prefeitura e a pol�cia, a enxurrada de candidaturas e telefonemas de poss�veis recrutas s�o sinais de resili�ncia e apoio popular � pol�cia, como se centenas de pessoas, horrorizadas com o ataque seletivo contra policiais, estivessem se mobilizando para oferecer backup.
"Nossos policiais correram para o incidente", comentou o prefeito, Mike Rawlings. "E � isso o que estes jovens est�o fazendo: est�o correndo para c�, para tomar o lugar dos policiais que morreram. � uma grande homenagem � vida dos policiais que tombaram."
O vice-chefe de pol�cia Jeff Cottner, que comanda o treinamento de policiais, disse que o aumento nas candidaturas ilustra o ditado sobre levantar-se de novo e seguir adiante quando voc� leva uma rasteira da vida.
Foi um tema reiterado por Hillary Clinton, que, no discurso que fez na conven��o do Partido Democrata, na semana passada, disse que o aumento do n�mero de candidatos a ingressar na pol�cia de Dallas mostra "como os americanos respondem quando � lan�ado um pedido de ajuda".
EMBOSCADAS
A rea��o acontece em um momento particularmente dif�cil para a pol�cia. As mortes de policiais aumentaram 8% em rela��o ao ano passado, com um aumento de 78% nas mortes de policiais por armas de fogo, incluindo mortes cometidas em emboscadas, como aconteceu em Dallas.
No discurso que proferiu na conven��o republicana no m�s passado, Donald Trump disse que a Am�rica "est� chocada at� o �mago" com os assassinatos de policiais em Dallas e meia d�zia de outros Estados.
Alguns dos candidatos disseram que querem ajudar a pol�cia. Outros falaram que gostariam de trabalhar em bairros onde os casos de jovens negros desarmados baleados por policiais endureceram anos de raiva e desconfian�a. Eles admitiram que est�o querendo entrar para o mundo da pol�cia em um momento conturbado.
"Muita gente me falou 'n�o quero que voc� trabalhe para a pol�cia. Voc� n�o consegue encontrar outra coisa para fazer?", comentou Jamile Owens, que � afro-americano e tinha se candidatado a trabalhar para a pol�cia de Dallas um m�s antes do ataque.
O aumento nas candidaturas foi desencadeado por um chamado lan�ado ao p�blico pelo chefe de pol�cia David Brown. Quatro dias ap�s o ataque, ele falou francamente para o p�blico sobre as dificuldades do trabalho policial e as necessidades do departamento de pol�cia.
"Estamos contratando", ele falou. "Saia desse protesto e envie seu formul�rio para ser candidato. Assim colocaremos voc� no seu bairro e o ajudaremos a resolver alguns dos problemas contra os quais voc� est� protestando."
O aumento do interesse pela pol�cia talvez seja passageiro, do mesmo modo como o n�mero de pessoas que se apresentaram para entrar nas For�as Armadas subiu depois dos ataques de 11 de setembro de 2001 e voltou a cair durante as duas guerras que se seguiram aos ataques.
RECRUTAS
H� anos os departamentos policiais em todo o pa�s v�m tendo dificuldades em encontrar recrutas qualificados —em especial mulheres e candidatos pertencentes a minorias— para empregos na pol�cia, em que mesmo a promessa de pens�es e bons benef�cios pode n�o representar atrativo suficiente.
Depois dos protestos e da aten��o da m�dia voltada aos casos em que policiais dispararam contra homens negros em lugares como Ferguson, Missouri, Minnesota e Louisiana, a pol�cia disse que estava ficando ainda mais dif�cil persuadir civis a vestir uniforme da pol�cia.
"Quem quer trabalhar nesse tipo de ambiente?", falou Cotner. "� um trabalho pouco atraente. � preciso ser realmente engajado com o que voc� faz."
A pol�cia de Dallas vem tendo dificuldades em duas frentes: encontrar recrutas suficientes para a academia de pol�cia e impedir os policiais de migrar para outros departamentos de pol�cia que pagam sal�rios melhores.
Editoria de arte/Folhapress | ||
Os policiais de Dallas recebem sal�rio inicial de US$ 44.658 por ano, segundo o site do departamento na internet, cerca de US$ 10 mil a menos do que pagam alguns departamentos de pol�cia pr�ximos � cidade.
A maioria das 467 pessoas que atenderam ao apelo e que far�o o exame de servi�o civil —o primeiro passo para serem contratadas— provavelmente nunca chegar� a usar distintivo da pol�cia de Dallas.
O departamento informa que contrata apenas 15% dos candidatos que s�o aprovados depois de um m�s de verifica��es de antecedentes, exames de aptid�o f�sica, testes no detector de mentiras e entrevistas.
APELO
O guarda de seguran�a Jaiston Sawyer, 30, disse que se sentiu como se o apelo de David Brown tivesse sido dirigido especificamente a ele.
Apesar de ser internauta afeito a expressar suas opini�es nas m�dias sociais, disse Sawyer, depois do ataque em Dallas simplesmente postar uma resposta lhe pareceu trivial demais.
Ele contou que candidatou-se a trabalhar na pol�cia na cidade onde vive, Denton, a noroeste de Dallas, e pretende se candidatar em Dallas tamb�m.
"Quando voc� protesta on-line ou na rua, isso nunca d� em nada", falou Sawyer, que descreveu sua decis�o � emissora Fox 4 News, em Dallas. "Mas vestir o uniforme policial faz diferen�a, sim."
Sua m�e, Terri, contou que em um primeiro momento ficou apavorada, com a mem�ria dos enterros dos policiais e do ataque no centro de Dallas ainda recente em sua cabe�a. Ela e a namorada de seu filho se preocupam com a seguran�a dele. Perguntaram a Sawyer: "Por que agora?"
"Eu queria ter uma participa��o real", disse Sawyer, que � negro. "Resolvi meter a cara."
Tradu��o de CLARA ALLAIN
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