An�lise: Li��o da Primavera �rabe foi trazer protagonismo � popula��o
� dif�cil apontar quando uma revolu��o come�a. Para muitos, a Primavera �rabe teria iniciado em dezembro de 2010, quando um jovem tunisiano, Mohamed Bouazizi, colocou fogo no pr�prio corpo, desesperado com o desemprego e a viol�ncia policial em seu pa�s.
Por mais simb�lica que seja tal a��o, os protestos nos pa�ses �rabes efetivamente come�aram um pouco adiante, em 25 de janeiro de 2011.
H� cinco anos, completos essa semana, multid�es iniciaram protestos maci�os no Egito, marcando a g�nese das movimenta��es pol�ticas que iriam, meses depois, derrubar o ditador Hosni Mubarak.
Apesar da dianteira da Tun�sia, foi no Egito que os protestos ganharam ampla escala transnacional. A cidade do Cairo —ent�o a capital pol�tica, econ�mica e cultural do et�reo 'mundo �rabe'— gerou imagens, estrat�gias e ideias poderosas que se espalharam rapidamente, modificando todo o norte da �frica e o Oriente M�dio.
A despeito dos protestos nos distintos pa�ses possu�rem din�micas bastante diferentes —muitos n�o clamavam por democracia, por exemplo— as manifesta��es no Egito s�o emblem�ticas pelos seus resultados.
Ap�s o sucesso em depor Mubarak, h� d�cadas acampado no poder, o pa�s teve um pequeno per�odo de governo democraticamente eleito.
Passados pouco mais de seis meses, o presidente rec�m-eleito, Mohammed Mursi, foi derrubado pelas For�as Armadas. A ditadura vivida hoje no pa�s �, em diversos aspectos, ainda mais brutal que a anterior.
Observando a regi�o, as consequ�ncias das revoltas n�o parecem ter trazido melhorias: a L�bia, ap�s interven��o autorizada pelo Conselho de Seguran�a da ONU, se encontra dividida por diversos grupos armados, dentre eles o Estado Isl�mico.
O Bahrein teve seus manifestantes massacrados com ajuda militar da Ar�bia Saudita. A S�ria, que tardiamente registrou protestos, � palco de uma das maiores crises humanit�rias da hist�ria, com centenas de milhares de mortos e milh�es de refugiados e deslocados internos.
Esse tr�gico cen�rio pode gerar um falso dilema: tais pa�ses n�o estariam prontos para a democracia e apenas governos ditatoriais conseguiriam manter a ordem na regi�o.
A afirma��o, pobre intelectualmente, ignora as m�ltiplas vari�veis sociais e pol�ticas que h� d�cadas assolavam tais pa�ses.
Falta de liberdade pol�tica, crise econ�mica, persegui��o de minorias e opress�o em diversos graus, galvanizados por tais governos autorit�rios, foram justamente os principais catalisadores para as manifesta��es.
Os protestos, al�m disso, n�o ocorreram em um v�cuo internacional. Pa�ses europeus e os Estados Unidos atuaram de maneira expressiva em todos os casos.
Na L�bia, como citado, uma interven��o militar derrubou o governo apenas para se retirar posteriormente, deixando o pa�s sem institui��es s�lidas que garantissem sua estabilidade.
A S�ria � ainda mais emblem�tica: o pa�s se tornou o campo em que a R�ssia tenta sustentar antigas �reas de influ�ncia, enquanto Washington articula o apoio contra Bashar Al-Assad sem se comprometer com o envio de tropas.
Muitos criticam o termo 'Primavera �rabe' para descrever as manifesta��es. Apontam que foi cunhado por acad�micos ocidentais, o que denotaria um sequestro do que seria o real significado dos protestos. Essas cr�ticas esquecem que ativistas �rabes abra�aram o conceito, apontando novas valora��es e sentidos.
Modifica��es profundas no tecido social de sociedades n�o s�o feitas em pouco tempo. N�o ser� diferente com o caso desta regi�o. Talvez esteja a� a li��o da inacabada e ainda em curso primavera: que a popula��o �rabe deva ser vista como protagonista do seu futuro e n�o replicadora passiva de ideias externas.
FERNANDO BRANCOLI � professor de seguran�a internacional no curso de defesa e gest�o estrat�gica internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
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