Mesmo sem pol�tica do filho �nico, chineses receiam ter mais filhos
O abandono da controversa pol�tica de filho �nico na China, anunciado nesta quinta-feira (29) pelo Partido Comunista do pa�s, ter� efeito direto sobre Andrea Zhao, 30, moradora da capital e m�e de um menino de quatro meses.
Pela pol�tica ainda em vigor, Zhao s� pode ter um segundo filho caso pague um pre�o proibitivo em multas e servi�os como sa�de e educa��o. Com a mudan�a, ainda a ser colocada em pr�tica, o caminho est� aberto para uma nova gesta��o.
Diego Azubel-25.nov.13/Efe |
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M�es passeiam em parque em Pequim |
"Eu quero um outro beb�. Se tivermos mais dinheiro, acho que terei sem hesitar", diz a chinesa, que tem tr�s irm�s e um irm�o. "Eu e meu marido achamos que uma crian�a � algo muito solit�rio, mas � dif�cil. Somos do campo, sem ajuda de ningu�m na cidade, � mais dif�cil em Pequim."
A preocupa��o com custos de um apartamento maior e educa��o de qualidade, e a necessidade de mais benef�cios sociais para a maternidade n�o � exclusiva de Zhao, mas um fator que faz muitos chineses ponderarem sobre a op��o pela segunda crian�a -e especialistas se questionarem sobre o impacto da nova permiss�o de dois filhos para todos os casais.
Uma fam�lia de Xangai que n�o quis se identificar disse � Folha que deseja um segundo filho, mas se preocupa com pre�os de moradia nas grandes cidades. "Ser� que podemos ter um outro filho, para que nossa crian�a n�o fique t�o sozinha quanto a gente?", disse a chinesa de 31 anos, m�e de um garoto de 3 anos.
O casal, ambos filhos �nicos, diz que h� muitas quest�es a serem resolvidas antes de ampliar a fam�lia. "Por exemplo, precisamos de um apartamento maior. Hoje vivemos em um apartamento muito pequeno, queremos muito dar um bom ambiente para as crian�as. Se insistirmos no segundo filho, talvez tenhamos um grande custo", diz ela.
Mas o benef�cio da exist�ncia de irm�os tamb�m est� claro para o casal: "Crescemos com nossos primos, mas estamos muito ocupados e n�o temos muito tempo para eles. Quando temos algo para contar para algu�m, s� temos um ao outro".
Outro fator levantado como problem�tico � o fato de muitas fam�lias migrarem do campo para a cidade, mas se manterem registradas na cidade de origem -sistema que fixa a pessoa na cidade natal, encarecendo servi�os b�sicos, como escola e hospitais, na cidade para onde migra.
O limite de um filho por casal est� em vigor h� 35 anos na China e �, provavelmente, a mais dura pol�tica p�blica de redu��o da natalidade no mundo. A regra � complexa e j� permitia mais de um filho a depender de determinados fatores: se a fam�lia mora no campo ou na cidade, se os pais t�m irm�os, se trata-se de minorias �tnicas e se o primeiro filho foi uma menina.
Gr�fico: Envelhecimento da popula��o chinesa
Estima-se que 150 milh�es de fam�lias, cerca de um ter�o do total, tenham apenas um filho, estrutura familiar conhecida como "quatro av�s, dois pais, uma crian�a".
Uma flexibiliza��o da pol�tica foi anunciada no final de 2013, permitindo o segundo filho para fam�lias em que pelo menos um dos pais era filho �nico -at� essa data, ambos deveriam ser filhos �nicos para ter o direito.
Essa flexibiliza��o atraiu interesse de 14% dos 11 milh�es de casais eleg�veis, segundo Yuan Xin, professor do instituto de popula��o e desenvolvimento da Universidade de Nankai, em Tianjin. Mas, continua ele, estudos indicaram que 60% das fam�lias aptas t�m interesse na segunda crian�a, e que mais de 80% dos casais chineses v� dois filhos como um n�mero ideal.
Al�m de derrubar uma pol�tica impopular e mal vista no exterior, a China pretende ampliar a for�a de trabalho e reduzir o impacto do envelhecimento da popula��o. De acordo com Yuan Xin, 15,5% da popula��o chinesa tinha 60 anos ou mais no final de 2014, propor��o que pode atingir 35% em 2053.
O professor diz que a permiss�o de dois filhos por fam�lia � efetiva para minimizar o impacto do envelhecimento, mas tem efeito limitado no curto prazo, com um "baby boom" modesto por dois ou tr�s anos, at� voltar a uma taxa de natalidade abaixo da reposi��o das pessoas que morrem.
"[Esperamos] mais fam�lias com duas crian�as, mas n�o uma grande onda, pois o padr�o mudou tanto que a maioria das fam�lias n�o quer mais crian�as", avalia Joan Kaufman, diretora da Columbia Global Centers para o leste da �sia e especialista em sa�de p�blica. "N�o creio que haver� grandes mudan�as na sociedade chinesa."
ABORTOS
Um c�lculo oficial, feito no passado, credita � pol�tica de filho �nico a redu��o de 400 milh�es de nascimentos na China nas �ltimas tr�s d�cadas. Esse n�mero impactante, no entanto, � contestado por especialistas, que identificaram redu��es de natalidade tamb�m importantes em outros pa�ses no per�odo, e na pr�pria China nos anos anteriores � ado��o da pol�tica.
Frederic J. Brown - 1�.dez.2008/AFP |
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Rec�m-nascidos chineses em Pequim |
Al�m de impedir a livre decis�o das fam�lias sobre o planejamento familiar, o modelo for�ado de um filho deu origem a pr�ticas condenadas, como abortos e abandono de meninas, abortos for�ados e crian�as n�o registradas. E a um contexto social particular, em que as crian�as s�o mimadas e, ao mesmo tempo, pressionadas para serem bem sucedidas e se casarem cedo.
Andrea Zhao diz admirar os filhos �nicos, que tiveram acesso a uma educa��o melhor e mais aten��o dos pais. "Mas os filhos �nicos tamb�m me admiram, por eu ter irm�os com quem pude brincar e compartilhar momentos."
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