An�lise: Ch�vez catalisou rea��o latina contra os EUA
Uma r�pida retrospectiva dos anos em que Ch�vez foi uma pe�a de destaque no tabuleiro latino-americano mostra o efeito catalisador desta presen�a.
N�o se pode negar o sentido de beira de precip�cio e alto risco que a polariza��o ideol�gica imp�e a qualquer cen�rio, seja nacional, regional ou global. No caso do chavismo na Venezuela, este foi um instrumento crucial de coes�o interna que --num marco pol�tico-institucional pr�prio-- replicou experi�ncias como a de Cuba com Fidel ou da Argentina com Per�n.
Um olhar menos preocupado em personalizar o relato hist�rico, que procura compreender os processos de mudan�a, ver� que, para a Am�rica Latina --e, especialmente a Am�rica do Sul--, este foi o momento de esgotamento da condi��o de inser��o internacional como esfera de influ�ncia dos Estados Unidos.
C�ncer p�e fim a 14 anos de governo de Hugo Ch�vez
Ch�vez sofreu tentativa de golpe em 2002; veja cronologia
Sucessor de Ch�vez � motorista de �nibus de sorriso f�cil
Tamb�m se ver� que o governo de Bush filho contribuiu com igual ou maior estrid�ncia que o presidente da Venezuela para esticar um cord�o umbilical que, ao final, se rompeu, permitindo que se virasse uma p�gina aberta desde os anos 40 do s�culo passado.
Este foi um avan�o hist�rico, impulsado pela sinergia pol�tica espontaneamente produzida entre vis�es de mundo defendidas pela Venezuela, pela Argentina e pelo Brasil. Enquanto Ch�vez vociferava contra os EUA em diferentes palanques, a Argentina oferecia o cen�rio mais expressivo da debacle do neoliberalismo e o governo Lula implodia a negocia��o da Alca --o �ltimo suspiro da noite de ver�o dos termos assim�tricos que condicionaram por d�cadas o v�nculo EUA-Am�rica Latina.
A partir de ent�o uma dobradinha n�o declarada entre Venezuela e Brasil permitiu que fossem dados passos largos para a condu��o de um projeto sul-americano pr�prio, com express�o pol�tica e institucional, que atualmente se configura como a Unasul (Uni�o de Na��es Sul-Americanas).
N�o foram de todo superadas as diferen�as entre os governos da regi�o, mas passou a prevalecer o primado da conviv�ncia pac�fica e, pouco a pouco, ganhou corpo a coordena��o em temas essenciais como a defesa, o combate ao narcotr�fico, a governan�a global e a coopera��o para o desenvolvimento.
Tamb�m se caminhou na reconfigura��o de um tabuleiro �nico latino americano-caribenho com a cria��o da Celac, que alavancou o retorno de Cuba ao multilateralismo regional. Mais uma vez, Caracas e Bras�lia trabalharam numa mesma dire��o.
SUL-SUL
A Venezuela de Ch�vez tornou-se tamb�m um dos principais motores da expans�o da Coopera��o Sul-Sul regional. Al�m das parcerias estimuladas por via da Alba (Alian�a Bolivariana para os Povos da Nossa Am�rica), desde 2004, o governo venezuelano espalhou sua assist�ncia petroleira pelo Caribe e Am�rica Central.
Deve-se sublinhar aqui a ajuda oferecida ao Haiti nos �ltimos oito anos atrav�s de generosas doa��es de petr�leo. A Venezuela, da mesma forma que Cuba, sempre criticou a Minustah --tropa da ONU comandada militarmente pelo Brasil--, percebida como um novo epis�dio de interven��o externa imposta ao pobre pa�s caribenho. Esta posi��o, entretanto, n�o impede que venezuelanos, cubanos, brasileiros e muitos outros tenham se somado num "pool" solid�rio para a reconstru��o haitiana.
A atua��o de Ch�vez foi ainda um fator favor�vel para avan�ar em dire��o da paz colombiana. O canal de comunica��o mantido com as Farc constituiu um elemento facilitador crucial para que a Col�mbia pudesse arquitetar uma mesa de di�logo entre as partes em conflito. O recente agradecimento p�blico do presidente Juan Manuel Santos deixa registrado este reconhecimento.
Em resumo, com estrid�ncia e dramatismo pr�prios da cultura venezuelana, Hugo Ch�vez j� deixou uma marca na hist�ria recente latino americana.
Trata-se de uma figura que somou altivez e aud�cia ao momento de recupera��o da soberania pol�tica da Am�rica do Sul. Um momento em que o continente consolida seus marcos institucionais democr�ticos que, se bem diversos, compartilham o compromisso com pol�ticas de inclus�o social e a valoriza��o da paz regional.
MONICA HIRST � professora da Universidade Nacional de Quilmes e bolsista do Ipea
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