China investe em turismo para controlar os tibetanos
No sagu�o do luxuoso hotel Brahmaputra Grand, o arquiteto chin�s Wang Yizhi mostra o desenho do futuro parque tem�tico em Lhasa, or�ado em US$ 4,7 bilh�es (R$ 9,5 bi) e que ser� inaugurado dentro de cinco anos.
"Haver� um monumento com um elefante, em cima dele, um macaco, depois um coelho e por �ltimo um p�ssaro", aponta Wang a jornalistas brasileiros. "Isso significa conviv�ncia harmoniosa."
Mas a mensagem dos Quatro Amigos, imagem sagrada do budismo local, ainda � um sonho distante entre tibetanos e chineses da etnia majorit�ria han, passados 62 anos da ocupa��o da Regi�o Aut�noma do Tibete por tropas do regime comunista.
Destino de abundantes investimentos estatais, o Tibete atravessa mudan�as numa velocidade sem precedentes, com novas ferrovias, aeroportos e estradas, em meio a uma onda, tamb�m in�dita, de religiosos que ateiam fogo ao pr�prio corpo em protesto contra Pequim.
O carro-chefe das mudan�as � o turismo, a grande aposta para desenvolver a economia da regi�o e integr�-la mais ao restante do pa�s.
O incentivo tem funcionado: no ano passado, foram 8 milh�es de turistas, a maioria chineses han. S�o 2,6 milh�es a mais que o n�mero de visitantes estrangeiros no Brasil no mesmo per�odo.
Dez anos atr�s, apenas 850 mil turistas visitaram o "teto do mundo".
Somente uma pequena parte do territ�rio in�spito e montanhoso � acess�vel, e o frio intenso reduz a temporada de turismo a seis meses.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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Nos quatro dias em que a Folha esteve no Tibete, em julho passado, turistas han eram onipresentes. Em Lhasa, o templo Jokhang, local mais sagrado para os budistas tibetanos, era um formigueiro. Assim como o Pal�cio Potala, antiga resid�ncia dos dalai-lamas (o atual vive no ex�lio na �ndia desde 1959).
Em ambos os locais, poucos tibetanos circulavam, divididos entre os que tentavam orar em meio � turba de turistas, ambulantes e pedintes.
Mais a sudeste, as montanhas e rios em volta dos 400 km de estrada entre Nyintri (Linzhi, em mandarim) e Lhasa eram apreciados por milhares de turistas em �nibus e bicicletas, quase todos vindos de prov�ncias do rico sul.
A mesma rodovia est� pontilhada de tendas de n�mades em busca de pastagens para suas manadas de iaques, o gado tibetano, do qual extraem leite, pele, carne e at� o esterco -principal combust�vel numa regi�o sem �rvores e com temperaturas de at� -40�C.
Nos pequenos povoados da estrada, a maioria das casas era rec�m-constru�da. Por outro lado, havia lixo acumulado pelo caminho.
INVAS�O HAN
"O turismo traz muitas vantagens, como o investimento nas estradas e a melhoria das condi��es sanit�rias", diz uma tibetana, cujo nome traduzido � L�tus da Longa Vida, em entrevista arranjada pelo governo local.
Mulher do chefe da aldeia Gong Zhu, passou a atender turistas e recebe dinheiro de um fundo ambiental.
Cr�ticos da ind�stria do turismo, por�m, afirmam que o aumento de visitantes amea�a o modo de vida tibetano e o ambiente da regi�o.
"O atual modelo de turismo est� destruindo o Tibete", disse � ag�ncia alem� DPA a poeta Tsering Woeser, cr�tica das pol�ticas chinesas para a regi�o radicada na China.
Uma das principais preocupa��es � Lhasa. A capital vem recebendo migrantes de fora do Tibete. Hoje, 20% da popula��o � han. Antes de 1950, praticamente s� havia tibetanos.
H� tamb�m o risco de impacto ambiental. Em junho, uma campanha nos microblogs chineses adiou os passeios de barcos tur�sticos no lago de Yamdrok, a 100 km de Lhasa.
O rep�rter FABIANO MAISONNAVE viajou ao Tibete a convite do governo chin�s
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