Indústria do livro quer garantir imunidade com recuperação de créditos na reforma tributária

Tema já foi polêmica no governo Jair Bolsonaro com projeto de Paulo Guedes

Brasília

Na véspera da votação da regulamentação da reforma tributária na Câmara dos Deputados, a indústria do livro busca apoio de lideranças dos partidos para garantir a recuperação de créditos no projeto analisado.

A emenda constitucional da reforma tributária preservou a imunidade dos livros, mas o setor diz que, sem a recuperação de créditos, haverá um aumento de custo de 16% no país, com impacto no preço final do livro ao consumidor.

O fim da imunidade já foi polêmica no governo Jair Bolsonaro (PL), quando o então ministro da Economia, Paulo Guedes, enviou um projeto de reforma tributária ao Congresso que acabava com o benefício tributário para os livros, mas mantinha para igrejas, sindicatos, partidos políticos, entidades beneficentes e condomínios.

Plenário da Câmara dos Deputados durante sessão de votação

A decisão teve forte reação na época, principalmente porque num documento oficial a Receita Federal justificou a decisão de pôr fim ao incentivo com o argumento de que os livros são consumidos pela faixa mais rica da população (acima de dez salários mínimos) e que, com a arrecadação a mais, o governo poderia "focalizar" em outras políticas públicas, como ocorre em medicamentos, na área de saúde, e em educação.

A proposta de Guedes não avançou, mas a polêmica voltou ao centro do debate na Câmara porque os representantes do setor alegam que a decisão de assegurar a imunidade do livro corre o risco de não gerar os impactos sociais esperados em função do texto do projeto de regulamentação.

Em manifesto, quatro entidades do setor alertam que o impacto negativo, se mantido o texto da regulamentação, também afetará as compras públicas de livros, como é o caso do Programa Nacional do Livro Didático, que atende mais de 30 milhões de alunos.

Hoje os livros não têm nenhuma carga tributária (imunidade de impostos e alíquota zero de Pis/Cofins). As empresas do setor mantêm créditos sobre operações feitas na etapas anteriores da cadeia produtiva, o que reduz o custo final dos livros.

"A reforma tributária preservou a imunidade dos livros frente a IBS e CBS, mas o projeto não garante a manutenção dos créditos para operações anteriores, o que contraria a lógica de desoneração da cadeia produtiva do livro", afirma o manifesto.

O documento é assinado pela CBL (Câmara Brasileira do Livro), Abrelivros (Associação Brasileira de Livros e Conteúdos Educacionais), Abraspe (Associação Brasileira de Sistemas e Plataformas de Educacionais) e Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros).

As entidades do setor do livro defendem que o tratamento atual seja mantido na regulamentação da reforma tributária. "Sem isso, os custos tributários sobre insumos adquiridos pelas empresas do setor aumentarão, elevando o preço dos livros e impactando negativamente a educação, cultura e difusão do conhecimento", afirmam as quatro entidades.

Representantes das entidades estão fazendo uma corpo a corpo junto aos deputados para garantir a alteração no texto. A mobilização também está sendo feita no governo. Eles alertam que a neutralidade tributária do livro cairá por terra se a alteração não for feita e que os orçamentos de educação não serão recompostos em 16%.

De acordo com as quatro entidades, o maior comprador de livros do Brasil é o setor público (governo federal, estados e municípios), que acabaria sendo prejudicado com o aumento.

A previsão de parlamentares é que ao menos o primeiro projeto da regulamentação da tributária seja votado no plenário da Câmara nesta quarta-feira (10). O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), editou ato da presidência para suspender a atividade das comissões temáticas, para que haja um esforço concentrado na análise da proposta.

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