Descrição de chapéu petrobras Governo Lula

Fábrica de fertilizantes que Petrobras quer reabrir tem prejuízo acumulado de R$ 3,5 bilhões

Retomada de projeto rachou diretoria e é alvo de minoritários; empresa diz que negócio é rentável

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Rio de Janeiro

A volta da Petrobras ao setor de fertilizantes, em que o Brasil é deficitário, é uma das prioridades do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mas o primeiro projeto anunciado pela estatal é polêmico e gerou questionamentos tanto no conselho de administração quanto na diretoria da empresa.

A Ansa (Araucária Nitrogenados SA), que será reaberta após quatro anos, acumula prejuízo de R$ 3,5 bilhões desde 2013, quando foi comprada pela Petrobras. Nesse período, só não teve resultado negativo em três anos, dois deles após a suspensão das atividades.

A retomada das operações foi aprovada pela diretoria da Petrobras há duas semanas, sem maiores informações sobre a viabilidade financeira do projeto. Em nota enviada à Folha, a empresa disse que estudos comprovam a viabilidade econômica das operações.

A proposta de reabertura da Ansa começou a ser negociada ainda na gestão Jean Paul Prates, mas acabou sendo aprovada como o primeiro ato relevante de sua sucessora no comando da estatal, Magda Chambriard. Teve voto contrário de três diretores e é criticada por acionistas minoritários.

No histórico de resultados da Ansa, dois dos três anos de lucro ocorreram após o fechamento da unidade, em 2020, após tentativa frustrada de venda para a russa Acron. "Todo ano dava prejuízo", justificou na época o então presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco.

Em nota para informar a decisão de hibernar as instalações, a estatal disse na ocasião que a matéria-prima usada pela unidade, resíduo asfáltico, era mais cara do que os produtos finais, amônia e ureia.

A Folha pediu entrevista à Petrobras para entender que mudanças no cenário justificariam a reabertura, mas recebeu uma nota dizendo que a decisão "passou por estudos de viabilidade econômica, indicando que sua retomada é rentável para a companhia".

Fontes da empresa argumentam que a Ansa usa como matéria-prima um resíduo da Refinaria Presidente Getúlio Vargas, sua vizinha, que não teria valor de mercado. Ao vender esse resíduo para produzir fertilizantes, a estatal estaria melhorando o lucro da refinaria, segundo esse argumento.

A nota da empresa diz ainda que "o setor de fertilizantes tem alta demanda no país e importância estratégica para a Petrobras, possibilitando diversificação dos negócios, integração da cadeia do gás natural e ações de descarbonização em linha com a transição energética".

"A Petrobras ressalta que somente atuará no setor sob condição de viabilidade econômica, conforme apontado no Planejamento Estratégico", conclui.

Petroleiros protestam no Rio de Janeiro contra demissões em fábrica de fertilizantes da Petrobras do Paraná
Petroleiros protestam no Rio de Janeiro contra demissões em fábrica de fertilizantes da Petrobras do Paraná, em 2022. - Nicola Pamplona/Folhapress

Esta semana, durante cerimônia de sua posse, Magda voltou a prometer que a empresa seguirá "lógica empresarial" em seus investimentos. Sua gestão, afirmou, está "totalmente alinhada" com o governo Lula, mas também com a visão de mercado.

"Ninguém quer que nenhum acionista tenha um centavo de prejuízo. Se investiu, tem direito a ter seu retorno do investimento", reforçou o presidente da República, também em discurso na posse da presidente da Petrobras.

Lula frisou que o setor de fertilizantes é uma prioridade, para "ajudar o Brasil a enfrentar os efeitos da Guerra na Ucrânia", que reduziu a disponibilidade global dos insumos. Afirmou ainda que a Petrobras deve destinar mais gás para esse setor, "fundamental para a nossa tão poderosa e respeitada agricultura".

A Ansa tem capacidade para produzir anualmente 720 mil toneladas de ureia e 475 mil toneladas de amônia, além de 450 mil metros cúbicos de Arla 32, um componente que reduz emissões de motores a diesel.

A Petrobras entrou na empresa em 2010, adquirindo fatia da Ultrafértil. Em 2013, comprou a participação da Vale, se tornando a única sócia.

A reabertura da unidade é comemorada por sindicatos. "Este é um fruto colhido depois de quatro anos da segunda maior greve da categoria petroleira", disse, em nota, o coordenador-geral da FUP (Federação Única dos Petroleiros), Deyvid Bacelar.

Ele se refere a paralisação iniciada logo após as demissões na unidade, em 2020, que acabou se tornando a mais longa da história da categoria e incluiu em sua pauta protestos contra a privatização de refinarias e outros ativos da estatal.

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