Embraer quer dobrar produção do KC-390 até 2030; veja fotos e vídeo

Se negócios com Arábia Saudita e Índia forem fechados, empresa precisará de nova fábrica no exterior

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Gavião Peixoto (SP)

A ser mantido o ritmo atual de novas encomendas, a Embraer pretende dobrar a produção anual do seu principal produto de defesa, o avião de transporte multimissão KC-390 Millennium, até 2030.

Hoje, a linha de montagem de Gavião Peixoto (SP) trabalha com capacidade de entregar seis aeronaves por ano, meta para 2025. "Nossa meta é entregar um por mês em 2030", disse responsável pelos programas da Embraer, Walter Pinto Junior.

Linha de montagem final do KC-390 em Gavião Peixoto, interior paulista
Linha de montagem final do KC-390 em Gavião Peixoto, interior paulista - Saab/Divulgação

As pretensões da empresa para o avião, contudo, poderão alterar os planos. A capacidade da fábrica no interior paulista é de montagem de até 18 KC-390 por ano, com aumento de pessoal e de maquinário, o que pode absorver encomendas no ritmo atual.

Mas a Embraer negocia o fornecimento do avião para dois mercados potencialmente grandes, o da Arábia Saudita, reino que deverá fechar um pedido de até 33 unidades, e da Índia, onde é especulada a necessidade de qualquer coisa de 40 a 80 aeronaves.

Em ambos os casos, os brasileiros firmaram contratos de parceria com grupos locais, um fundo saudita e a corporação indiana Mahindra, para estudar a possibilidade de abertura de fábricas nos próprios países.

Pinto Junior não detalha isso, mas no mercado a avaliação é de que a Embraer está mais próxima de fechar negócio com os sauditas, tornando o país do golfo um centro de produção do KC-390 —inclusive, se isso ocorrer, para um eventual contrato indiana.

Há, por óbvio, enormes desafios logísticos envolvidos, mas não é uma operação inédita: a Embraer já monta aviões executivos nos EUA e produz seu caça leve Super Tucano em uma fábrica da americana Sierra Nevada.

Como todo programa do tipo, o KC-390 enfrentou diversos atrasos —pelo plano inicial, em 2019 já haveria cinco voando pela FAB, mas aquele ano registrou só a primeira entrega. De lá para cá, só foram entregues 6 aviões para a FAB e 1, para o Esquadrão Rinoceronte, da Força Aérea Portuguesa.

A Folha integrou uma visita à linha de produção na quarta (5), onde foi possível constatar a aceleração desse ritmo. Nela, 2 aviões estavam na chamada montagem estrutural. Em um enorme hangar, dois robôs trabalham na elaboração das asas, suspensas em estruturas metálicas.

Eles fazem 60% dos 60 mil furos de fixação de partes das peças, que pesam 3,5 t cada uma. As máquinas também fazem medições a laser e empregam materiais selantes. As fuselagens, que pesam 8 t cada, também são trabalhadas no local.

Depois, os conjuntos vão separados para serem unidos na montagem final, que tem três grandes etapas, na quais sucessivamente são instalados todos os cabos elétricos, recheio eletrônico, trens de pouso, estabilizadores verticais, central de ignição independente, motores e asas.

Quando a reportagem lá esteve, havia quatro KC-390 nesta etapa. Fora dos hangares, dois aviões da FAB, um da Hungria e outro, de Portugal, estão em fase de testes, enquanto um segundo para Budapeste está prestes a ser entregue.

O trabalho mobiliza um número não revelado de empregados, mas Pinto Junior conta que a empresa como um todo fez mais de mil contratações recentes. A área de defesa da Embraer foi a que mais cresceu em 2023, 21% respondendo por cerca de 10% do resultado da companhia: lucro de US$ 164 milhões.

Dos 181 aviões entregues no ano, 2 eram KC-390, que também é vendido como C-390, sem o K que designa a capacidade de ser um avião-tanque.

Na linha de montagem de um dos modelos, havia quatro grandes tanques de combustível para serem acomodados no compartimento de carga do avião, servindo para o reabastecimento de outras aeronaves por meio de sondas colocadas nas asas. A fábrica ostenta penduradas bandeiras dos quatro países com compras do modelo seladas: Brasil, Portugal, Hungria e Coreia do Sul.

O avião de transporte, que nasceu de um pedido da FAB em 2008 para substituir os velhos C-130 Hércules americanos de sua frota e teve investimento do governo em seu desenvolvimento, tem vivido uma fase de grande exposição comercial, cortesia do ambiente de insegurança da Guerra Fria 2.0, particularmente com a invasão russa da Ucrânia.

Após ver reduzida sua encomenda brasileira de 28 para 19 aeronaves, um processo traumático ora superado, passou a acumular sucessos. Foi comprado por Portugal (5 aviões) e Hungria (2 unidades), e está selecionado por outros dois países da aliança militar ocidental, a Otan: Holanda (5 aviões) e República Tcheca (2).

Ainda no continente europeu, que tem mais de 130 antigos C-130 para serem substituídos, o KC-390 foi escolhido pela Áustria (4 aviões). Fora dele, além do Brasil, há a primeira encomenda asiática, da Coreia do Sul —talvez 3 aeronaves.

O Uzbequistão deverá anunciar em breve a aquisição de outros 2 cargueiros, abrindo o mercado ex-soviético ao modelo, e uma decisão de compra pela Suécia é aguardada para este ano.

Os preços variam muito, não havendo um valor "de prateleira" do avião porque isso depende do pacote e da escala da venda. Os húngaros, por exemplo, compraram cada KC-390 pelo equivalente hoje a R$ 900 milhões. Já cada um dos 19 modelos brasileiros sai por, deflacionado o valor do contrato de 2014, R$ 650 milhões.

As aeronaves que vão para países da Europa são enviados para a Ogma, empresa da Embraer em Portugal, para a configuração específica da aliança.

Além disso, nesta quinta (6) a Embraer anunciou que irá avaliar a expansão da rede de treinamento na Europa para atender clientes do KC-390 e do C-390. A parceria será feita com a alemã Rheinmetall. Hoje, a instrução de pilotos e operadores ocorre no Brasil.

O jornalista viajou a convite da Saab

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