Uma publicação feita pelo site Jornal da Cidade Online associa o pedido de recuperação judicial da empresa de turismo 123milhas a políticas econômicas do governo Lula (PT), mas a própria empresa admite que a crise foi provocada pela alta nos preços das passagens e do combustível de aviação, além de outros fatores, como as mudanças feitas pelas companhias aéreas para restringir a negociação de passagens por meio de milhas.
Como verificado pelo Projeto Comprova, o pedido de recuperação da empresa foi acatado pelo TJ-MG (Tribunal de Justiça de Minas Gerais) em 31 de agosto de 2023. Em nenhum momento o nome de Lula ou qualquer política do governo federal é mencionada no requerimento.
À reportagem, a Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor), órgão ligado ao Ministério da Justiça, afirmou que "não possui qualquer relação com o pedido de recuperação judicial apresentado pela empresa 123milhas ao Poder Judiciário".
Na petição que fundamenta o pedido de recuperação judicial, as empresas do grupo afirmam que estão "enfrentando a pior crise financeira" desde suas respectivas fundações, decorrente da "cumulação de fatores internos e externos" que impuseram um aumento considerável dos passivos das companhias nos últimos anos.
Entre as razões que levaram à crise elencadas estão fatores como o aumento dos preços das passagens após a pandemia de Covid-19, acompanhado da alta no combustível de aviação, o que impossibilitou a emissão das passagens já adquiridas pelos clientes.
A dificuldade de cumprir com os serviços prometidos no programa Promo123 e a alta taxa de juros sobre as suas dívidas também são apontadas como razões que desencadearam o pedido de recuperação.
"Por exemplo, se acreditava que para cada voo vendido, o cliente também adquiriria outros produtos atrelados à viagem (reservas de hospedagem, passeios etc.), mas isso acabou não ocorrendo na prática", argumenta o grupo.
O documento enviado à Justiça explica que a 123milhas estimava uma redução do preço das passagens diante de um esperado aumento na oferta de voos pelas companhias aéreas após o período de restrições impostas pela pandemia.
"Isso, contudo, infelizmente não se concretizou, havendo, na verdade, um aumento significativo da demanda (muito maior do que a oferta) por voos nacionais e internacionais, o que, aliado ao aumento do preço do combustível de aviação, ocasionado pela queda do real em relação ao dólar e a alta da inflação, fez com que o preço das passagens e pacotes se elevasse, fazendo com que a 123milhas não conseguisse adquirir tais produtos nos termos contratados com seus clientes".
Segundo o Poder360, a empresa ainda cita a Azul Linhas Aéreas na lista de razões da crise econômico-financeira. De acordo com a agência de viagens, a Azul rescindiu um contrato que lhe dava vantagens competitivas aos preços das passagens e isso "inviabilizou o cumprimento de suas obrigações".
Por fim, as empresas alegam que o modelo de aquisição das passagens, por meio de pontos e milhas, deixou de ser vantajoso diante de fatores como: "(i) precificação das passagens pelas companhias aéreas, que passaram a exigir maior quantidade de pontos/milhas para se emitirem passagens; e (ii) criação de novas regras pelas companhias aéreas em seus programas de fidelidade, que restringiram de forma drástica a utilização de pontos/milhas pelos seus participantes".
Ainda segundo a petição, todos esses elementos afetaram as operações da companhia e resultaram na suspensão dos pacotes promocionais já adquiridos, decisão que desencadeou uma enxurrada de reclamações e processos.
Não há, no decorrer do documento, qualquer menção a políticas do governo Lula que poderiam ter influenciado no cenário de crise.
No Twitter do Jornal da Cidade Online, usuários deixaram comentários responsabilizando o governo atual pela situação que levou a empresa a pedir a recuperação judicial. Por email, a administração do site em que o texto foi publicado disse que o "Jornal da Cidade Online em momento algum diz que a 123milhas pediu recuperação judicial por conta de um ‘cerco’ do governo Lula". "O que fizemos foi a constatação de que no ano de 2023 houve um aumento exponencial de pedidos de recuperação judicial. A fonte é o Serasa", complementou.
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