O vinho, do alto de seu pedestal, muitas vezes luxuoso (luxo esse incentivado por uma elite consumidora alienada), sai de seu lugar primordial de alimento para o corpo e a alma, para dar palco a monstruosidades como uso incessante de veneno nas plantações e, agora, veja bem, trabalho escravo.
Como podemos contribuir para uma produção ética?
Sendo o vinho a segunda bebida alcoólica mais consumida do mundo, um produto que provém de uma fruta e que, portanto, depende da agricultura, depende de pessoas, depende de uma cadeia enorme, depende do clima, depende da água, da terra.
O vinho traz tudo isso em si, todos esses vieses. Campo, biodiversidade, regeneração, manejo, clima, geologia, cultura, economia, política, antropologia, arqueologia, tecnologia, pesquisa científica, ética, saúde, gastronomia, bem viver.
É importante que o consumidor saiba diferenciar a forma de fabricação dos vinhos, entendendo as diferenças nas cadeias produtivas de cada marca. Entender a importância do manejo do solo, o ciclo das plantas, o terroir, o respeito à adaptabilidade das espécies e o respeito por quem nela trabalha.
Entender a diferença entre agricultura familiar e agricultura em larga escala. A diferença entre produção artesanal e produção em larga escala.
Esse diálogo é mais urgente do que nunca. Descobrir pessoas em situação análoga à escravidão envolvidas na cadeia produtiva de reconhecidas empresas vinícolas brasileiras é uma situação vergonhosa, horrorosa e urgente para o setor se mobilizar em torno de soluções sistêmicas para a prevenção, monitoramento, rastreamento e punição dos responsáveis.
É preciso se responsabilizar. Estar mais próximo de todas as frentes, da produção ao consumo, como um elo das diferentes cadeias. Promover um olhar mais lúcido em torno do vinho e agir com responsabilidade, ambiental e social, diante da complexidade de um produto, que é resultado de uma das maiores atividades agrícolas do mundo.
Não há escapatória se queremos consumir uma bebida de forma mais ética. É preciso cuidar.
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