Quando o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos terminou seus cálculos, no mês passado, os resultados foram surpreendentes: 2022 foi um desastre para o algodão upland no Texas, a principal área de cultivo dessa fibra no país, e de onde ela é mais tarde vendida para o mundo inteiro na forma de absorventes higiênicos, fraldas de pano, compressas de gaze e outros produtos.
Na maior perda já registrada, os agricultores do Texas no ano passado tiveram de abandonar 74% das culturas que plantaram —quase 15 milhões de hectares— devido ao calor e ao solo ressecado, o que representa o efeito de uma seca especialmente intensa, agravada pela mudança no clima.
Essa queda ajudou a empurrar uma alta de 13% nos preços dos absorventes higiênicos nos Estados Unidos, nos últimos 12 meses. O preço das bolas de algodão subiu em 9% e o das ataduras de gaze em 8%.
É um exemplo de como a mudança no clima está afetando o custo da vida cotidiana de maneiras que os consumidores talvez não percebam.
O oeste do Texas é a principal fonte de algodão upland no país, que por sua vez é o terceiro maior produtor e o maior exportador mundial da fibra. Isto significa que o colapso da cultura desse algodão terá efeitos que vão além dos Estados Unidos, dizem os economistas, e se fará sentir nas prateleiras das lojas em todo o planeta.
"A mudança do clima é um motor secreto da inflação", disse Nicole Corbett, vice-presidente da NielsonIQ. "À medida que o clima extremo continua a afetar safras e a capacidade de produção, o custo dos produtos de primeira necessidade continuará a aumentar".
Até 2040, metade das regiões em que o algodão é cultivado, em todo o planeta, enfrentará "risco climático alto ou muito alto", devido a secas, inundações e incêndios, de acordo com o Forum for the Future, uma organização sem fins lucrativos.
O algodão do Texas oferece um vislumbre do futuro. Os cientistas projetam que o calor e a seca, exacerbados pela mudança do clima, continuarão a promover uma redução no rendimento das safras no sudoeste dos Estados Unidos. Um estudo de 2020 revelou que o calor e a seca, agravados pela mudança no clima, já haviam reduzido a produção de algodão upland no Arizona, e projetou que o rendimento futuro das plantações de algodão na região poderia diminuir em 40% entre 2036 e 2065.
O algodão é uma cultura termômetro, disse Natalie Simpson, especialista em logística de cadeia de suprimentos na Universidade de Buffalo.
"Quando o clima a desestabiliza, vemos mudanças quase imediatamente", disse Simpson. "Isto vale para qualquer lugar onde ele seja cultivado. O fornecimento futuro do qual todos dependem vai ser muito diferente do atual. A tendência já está presente".
Tradução de Paulo Migliacci
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