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Cooperifa mistura todos os versos e leva at� estrangeiro � periferia
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FABIO VICTOR
DE S�O PAULO
Chamada ao palquinho, dona Efig�nia, 72, de in�cio gaguejou um pouco ao declamar seu poema em homenagem a Pel�, "Jogo de Bola".
Veja galeria de fotos dos saraus de S�o Paulo
Sarau da Cooperifa faz dez anos em momento de alta da poesia
Mas logo pegou o jeito e, como quase todos os que se arriscam ali, foi ovacionada.
"O inimigo me odeia/ mas eu n�o me importo/ minha vida � livre/ e fa�o o que gosto" --estes os �ltimos versos.
Ao final da noite, Efig�nia Rodrigues Pereira, dom�stica aposentada (repetindo: 72 anos), aluna do ensino fundamental de um col�gio do Jardim Guaruj�, zona sul de S�o Paulo, exultava.
"A gente vai se soltando, tendo uma oportunidade de procurar o caminho dos famosos. Foi legal demais."
Ela estava entre as 50 pessoas que declamaram algum texto po�tico no �ltimo sarau da Cooperifa, quarta passada, no bar do Z� Batid�o.
Uma ida ao boteco do Jardim Guaruj�, em frente a uma pra�a de bairro cercada por casas de bairro, na quarta � noite, explica por que, aos dez anos, o sarau virou a mais forte refer�ncia da cena liter�ria da periferia paulistana.
Dona Efig�nia e seus colegas de escola, todos adultos, se misturavam naquele dia a rappers, poetas de cordel e declamadores de todo tipo de versos, pr�prios ou alheios: confessionais, rimados, ing�nuos, revoltados, livres.
Unindo a todos, o gosto de ir ao palquinho declamar.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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Um m�s antes, noutra noite acompanhada pela reportagem, estavam l� dois gringos: a alem� Ingrid Hapke, 32, pesquisadora da Universidade de Hamburgo, e o performer americano Raphi, 30.
"Sarau igual ao da Cooperifa n�o tem igual no mundo. Em Nova York, o Nuyorican tem uma energia parecida, mas aqui a galera escuta, se entrega � poesia. A diversidade � incr�vel --n�o � qualquer lugar da periferia que aceita um gringo", disse Raphi.
Hapke, que estuda literatura perif�rica, endossa. "� algo da comunidade mesmo, coletiva. Tem uma empolga��o pela literatura que n�o conhe�o em outro lugar."
Articulador de tudo e idolatrado ali, o poeta S�rgio Vaz abre os trabalhos, e � amparado por um time de MCs (mestres de cerim�nias) que introduzem os recitadores.
Antes do in�cio, um dos MCs puxa o grito de guerra: "Povo unido. Povo inteligente. � tudo nosso!". Ao que todos respondem: "Uh, Cooperifa, uh, Cooperifa". Enquanto se l�, "o sil�ncio � uma prece", conforme o mantra lembrado a toda hora pelos MCs.
S�o cerca de 200 pessoas todas as quartas. Nada barra o sarau. A audi�ncia ignora grandes jogos de futebol (n�o h� TV no local). Durante os ataques do PCC em 2006, quase tudo na quebrada fechou --o sarau aconteceu.
Mesmo quem come�ou a organizar saraus antes de Vaz, como o poeta Binho, no bairro do Campo Limpo, admite que a Cooperifa "catalisou o que estava por a�".
O escritor Ademiro Alves, o Sacolinha, um dos estilos mais vigorosos entre os nomes surgidos na periferia, conta que at� frequentar o sarau era duro divulgar seu trabalho. "Meu p�blico leitor era minha m�e e uma vizinha. Hoje tenho um ex�rcito".
Ele coordena um sarau em Suzano e avalia que a maior conquista dessa cena perif�rica � o incentivo � leitura.
Na laje acima do bar, S�rgio Vaz, 48, aponta para um terreno perto. � o cemit�rio S�o Luiz, onde nos anos 80, auge da viol�ncia na periferia, eram enterrados os jovens da zona Sul.
"Com a eros�o, os caix�es rolavam morro abaixo. Hoje j� n�o � assim, e por isso � que eu tenho orgulho."
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