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Filme sobre Sidney Magal acerta no musical, mas roteiro é preguiçoso

Oscilações da história, direção rotineira e elenco desigual tiram força dos bons momentos de 'Meu Sangue Ferve por Você'

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Meu Sangue Ferve por Você

  • Quando Estreia nesta quinta (30), nos cinemas
  • Classificação 12 anos
  • Elenco Filipe Bragança, Giovana Cordeiro e Caco Ciocler
  • Produção Brasil, 2023
  • Direção Paulo Machline

De vez em quando parece que "Meu Sangue Ferve por Você" será um filme realmente bom, dentro daquilo que se pretende. A intriga começa bem lançada, embora manjadíssima —cantor famoso se apaixona por fã e vice-versa.

O problema do filme está longe de ser esse. O musical se alimenta de convenções —e por que não essa? E "Meu Sangue Ferve por Você" se endereça a fãs de Sidney Magal, não aos apreciadores de "Acossado" ou algo assim. Além disso, os números de dança são bem coreografados. Então, de cara, pode-se esperar o melhor.

Pôster do filme 'Meu Sangue Ferve por Você', cinebiografia do cantor Sidney Magal - Divulgação

Primeiro temos Magal perseguido por fãs; em seguida, uma garota, Magali, que pula a janela da própria casa para fugir da mãe e se divertir. Depois essa garota pega o táxi da tia e, com esse táxi, salva Magal da perseguição implacável das fãs.

Acontece que Magali nem sabe quem ele é, não lhe dá a menor bola e, justamente por isso, o cantor famoso fica babando por ela.

É um início bem animador, convenhamos. O problema é que, como acontece com frequência, o roteiro deixa de parecer um roteiro. Parece mais a primeira versão do roteiro que, por engano, foi parar na mão de um financiador, ele gostou e ficou por isso mesmo. De repente a intriga se torna preguiçosa e óbvia.

Pode-se esperar algo como Magal fazendo o seu empresário rastrear a cidade —Salvador— atrás da moça, por exemplo, coisas do tipo. Nada disso. Vamos à casa de Magali, a garota do táxi. Ela tem uma mãe que, para evitar qualquer romance com o cantor (em detrimento do ex-noivo amado pela mãe, mas não por ela), instala barras de ferro na janela do quarto da garota.

Estamos, portanto, diante da vilã da história, aquela que impede o amor da filha com Magal? Não. Ela não é tão vilã assim, faz tudo porque precisa defender a filha, é boa pessoa no fundo etc.

Então não temos vilão na história? Daí Magal improvisa seu empresário, que também não acreditava que a paixão dele por Magali fosse tão profunda assim e trata de defendê-lo. Faz mais ou menos o mesmo que a mãe da garota. Em dado momento a mulher oficial do cantor entra em cena e parece que a vilania ficará por conta dela. Mas também isso não rola —ela tem um chilique e sai de cena.

Essa oscilação do roteiro, típica de um ainda embrionário, é um tanto frustrante, seja pela indefinição a respeito dos personagens, seja pelo vaivém inútil que daí decorre.

Acrescentemos a amiga da moça e o ex-noivo —personagens cuja existência é meramente formal; personagens sem personalidade, digamos. Apenas o amigo que à noite se transforma em drag queen tem algum interesse.

Mas esses pontos baixos podem ser compensados pela simpatia e pode-se dizer até mesmo a honestidade que se desprende do filme de Paulo Machline, mesmo naquilo que ele tem de simplório. Me pareceu mais interessante que as cinebiografias de Elis Regina ou Hebe Camargo, para não falar do desastre dedicado a Erasmo Carlos. Fica atrás da de Gal Costa, que é mais harmônica.

Mas são justamente os desequilíbrios, os altos e baixos que se alternam, certa ingenuidade que fazem o filme simpático, e talvez seduza sua plateia. Tanto mais que ele se assume plenamente como musical e, nesse aspecto, não está nada mal.

Inclui até um surpreendente "Nada Além", que não se pode comparar a interpretações como as de Maria Bethânia e Gal (para não falar de Orlando Silva), mas cai no momento certo e está longe de passar vergonha.

Outra evidente virtude do filme consiste em focalizar apenas um momento da vida de Sidney Magal, evitando aquelas fastidiosas fantasias que começam na primeira infância e só terminam quando o personagem se aproxima do túmulo (foi o que se fez com Mussum, por exemplo).

Um roteiro preguiçoso, uma direção rotineira —caramba, certos personagens se movem como se estivessem em 1919, não em 1979, quando se passa o filme— e o elenco desigual fecham o quadro de um filme que busca um público capaz de apreciar a dança e o canto que lhe são oferecidos sem maiores discussões.

Uma aparição do Magal em pessoa, no fim, segue a tradição inaugurada com "Dois Filhos de Francisco", de misturar pessoa e personagem. No fim, um filme que, malgrado os trancos e barrancos, dá para ver sem desgosto.

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