Descrição de chapéu
Televisão

Por que 'Pantanal' erotiza os homens e não as mulheres?

Quem quer ver mulher nua sensualizando já pode desistir de assistir, pois a trama é um caldeirão de testosterona

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Quem estava na expectativa de ver mulheres nuas sensualizando como na primeira versão dos anos 1990 de "Pantanal" já pode desistir de ver a novela. Essa nova versão é a vez dos bofes, os peões suados com camisas abertas e acessórios de couro que dominam o horário nobre da TV Globo.

seis homens de chapéu lado a lado
José Leôncio (Marcos Palmeira), Tadeu (José Loreto), Tibério (Guito), Levi (Leandro Lima), Trindade (Gabriel Sater) e João Zoinho (Thommy Schiavo) - João Miguel Júnior/Globo

Quando anunciaram a novela que entraria no lugar da falecida "Um Lugar ao Sol", que alegrava boa parte do público apreciador de rapazes não com um mas dois Cauãs Reymonds, bateu um desespero de imaginar que só veríamos pássaros, paisagens exuberantes e bois nos pasto, já que a emissora decidiu que não era mais o momento de banalizar —ou alardear— a nudez.

O plano era sepultar, no caso, aquilo que reinou no país em tempos mais despudorados, antes da onda do politicamente correto e do moralismo de fachada da era Bolsonaro.

O oposto, no entanto, vale ser levado em consideração. Em pleno século 21, ninguém aguenta mais ver cenas de sexo tão plásticas quanto estéreis, ensaiadas e coreografadas à exaustão, como em "Verdades Secretas 2", produção que naufragou com takes que mais lembravam sequências tiradas do be-a-bá de um soft porn americano.

Mesmo só tendo mostrado cenas com casais héteros, ficou claro, na última semana, com a transa de Tadeu, papel de José Loreto, e Guta, vivida por Júlia Dalavia, que o que a emissora pretende mostrar mesmo —em vez de explorar mais e mais o corpo feminino, como de praxe em toda a história— é a potência do masculino que a câmera de Walter Carvalho, o diretor de fotografia da novela, abraça e explora.

Nudez, nudez mesmo, não houve ainda e não deve haver, mas a novela compensa com cenas arrebatadoras de peões que parecem ter saído de um desfile de moda fetichista —sedentos por sexo e nem sempre correspondidos.

Casal de pé, um ao lado do outro
Tadeu (José Loreto) e Guta (Julia Dalavia) - João Miguel Júnior/Globo

Leandro Lima, que interpreta Levi, foi modelo, mas o bofe com jeans surrado, bota e camiseta suada dificilmente seria visto numa passarela imaculada. Se na primeira versão do remake, foi o enorme, mas caído, Sergio Reis quem interpretou Tibério, a atual versão deu um bom upgrade com o cantor Guito, de peito peludo sempre à vista, pingando sexo até do bigode.

Até o personagem insosso de Joventino reencarnou de um Marcos Winter sem graça para um Jesuíta Barbosa exuberante, dourado como o pôr do sol pantaneiro, que só precisa aparecer na tela mesmo.

Nesse ponto, a parcela G dos quase 3 milhões de LGBTQIA+ declarados no país, segundo o IBGE, pode contemplar toda a gama de masculinidade explosiva na tela, de um descomunal José Loreto e sua boca carnuda que mal cabe no rosto, ao twink representado por Barbosa, uma figura esguia que também exala sexo.

E é isso o que só melhora nessa novela. Além de corpos malhados e não depilados num cenário natural, é claro, os atores têm uns com os outros uma conexão muito boa, visto o beijo que o cafuçu Tadeu, com a sua boca naturalmente obscena, deu em Guta, cena que sepulta de vez qualquer necessidade de diálogo.

Seria uma prova de que a nova "Pantanal", bem longe dos épicos banhos de rio da Juma Marruá de outrora, hoje se sustenta em sutilezas masculinas. As cenas do remake não raro transbordam de testosterona, com os peões tocando moda de viola em volta de uma fogueira.

Num delírio diante da televisão, poderia evocar até mesmo os calafrios úmidos de uma sauna gay do centro de São Paulo. Mas seria muita audácia esperar uma cena "Brokeback Mountain" pantaneira? Talvez seja isso o que o povo quer mesmo ver na televisão, meninos, meninas e menines.

Se "Pantanal" continuar assim, surpreendendo a cada capítulo, com o público aguardando as prometidas cenas picantes de Alcides, papel de Juliano Cazarré, com Maria Bruaca, vivida por Isabel Teixeira, restará torcer por um remake de outra trama cheia de peões, quem sabe "Ana Raio e Zé Trovão".

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.