Grammy volta a ter plateia em meio a mudanças e pode consagrar Olivia Rodrigo

Cantora disputa os quatro prêmios principais na cerimônia, que muda de lugar e de formato após edição pandêmica

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mulher jovem vestida de miss com os olhos borrados de lágrimas

A cantora americana Olivia Rodrigo em imagem de divulgação de seu álbum 'Sour' Nick Walker/Divulgação

São Paulo

O Grammy, que acontece neste domingo, está em transformação. Depois de ser adiado em alguns meses, o prêmio mais importante da indústria fonográfica americana este ano voltará a ter público e apresentações mais elaboradas. No ano passado, o evento teve poucos convidados e performances intimistas em razão da pandemia.

Se a última cerimônia trouxe o Grammy de volta aos eixos, valorizando a música em detrimento da falação exagerada e do excesso de homenagens sem propósito, agora a premiação encara um novo desafio, o de voltar a ter a relevância de outrora para a indústria. Este será o primeiro ano do novo comando —formado por Harvey Mason Junior à frente da Academia de Gravação e Ben Winston, da cerimônia— num evento com público.

E já de cara eles mudaram o Grammy de lugar. Em vez do tradicional Staples Center, em Los Angeles, agora a festa vai até Las Vegas, no MGM Grand Garden Arena. Se o ano passado já trouxe novidades no formato, a 64ª edição da premiação promete aprofundar todas essas transformações.

Entre os indicados, todos os olhos estão em Olivia Rodrigo. Aos 19 anos, ela é a única que disputa as quatro categorias principais —álbum, música e gravação do ano, além de artista revelação— e deve abocanhar pelo menos uma delas.

Mesmo com apelo diante do público e a forma espontânea e debochada com que retrata a primeira frustração amorosa da artista, o álbum "Sour", da estrela da Disney, não traz grandes revoluções estéticas. Até por isso, é difícil imaginar que ela seja uma nova Billie Eilish, a cantora que aos 18 anos, em 2020, varreu a premiação, levando os quatro prêmios mais cobiçados com o disco "When We All Fall Asleep, Where Do We Go?".

Eilish, aliás, volta a concorrer a alguns dos prêmios principais, com seu segundo disco, "Happier Than Ever", que, apesar de expandir os horizontes conceituais da artista, não tem a urgência do antecessor. Mas ela já virou queridinha do Grammy, tendo ganhado em gravação do ano —hoje, o prêmio mais cobiçado— no ano passado com a esquecível "Everything I Wanted". A própria Eilish admitiu ao vivo que quem merecia a estatueta era a rapper Megan Thee Stallion.

O episódio de Eilish com Megan, aliás, foi uma lembrança de como o Grammy ainda pena para reconhecer artistas e a música negra de maneira adequada. Kanye West, por exemplo, concorre a cinco prêmios, incluindo álbum do ano, com "Donda" —um disco que não teve nem de longe o reconhecimento que a discografia do rapper carrega.

A presença de West na cerimônia, aliás, gera alguma expectativa. Isso porque ele teve sua performance cancelada como retaliação ao comportamento errático nas redes sociais, especialmente nos conflitos com Pete Davidson, comediante que namora a ex-mulher do rapper, Kim Kardashian. Depois do tapa de Will Smith em Chris Rock, e considerando o histórico de West, não é difícil imaginar que alguma coisa fora do roteiro aconteça.

Se as indicações a "Donda" soam como uma tentativa de reconciliação da Academia com West —que, vale lembrar, chegou a publicar um vídeo fazendo xixi num Grammy—, a relação da premiação com o mundo do rap continua turbulenta.

Drake, um dos grandes da música mundial que têm criticado sistematicamente o Grammy nos últimos anos, retirou suas faixas que já haviam sido indicadas em categorias de rap. Apesar de não ter dado explicação, o recuo reverbera uma crítica recorrente de artistas negros —eles são indicados a prêmios setorizados, mas raramente concorrem nas categorias gerais, que independem do gênero musical.

Isso é algo que ficou evidente no ano passado, quando Beyoncé bateu o recorde de mulher com mais gramofones da história, um total de 28, mas em duas décadas de carreira ganhou apenas uma vez um prêmio dos chamados "big four", em 2009. Além de tudo isso, há a ausência pesada e significativa de The Weeknd, aclamado por público e crítica nos últimos anos, mas que desde o ano passado boicota o evento e ataca a Academia.

A grande aposta do Grammy no rap é Lil Nas X, jovem de 22 anos que é o rei dos memes e da provocação na internet. O álbum e a música "Montero" aparecem indicados nas principais categorias, e sua presença reforça também as tentativas recentes da premiação de rejuvenescer. Somadas, as idades de Olivia Rodrigo, Billie Eilish e Lil Nas X ainda são 35 anos a menos que os 95 anos de Tony Bennett, que tem seu "Love for Sale", com Lady Gaga, na disputa de melhor álbum.

Entre as muitas mudanças, o Grammy acrescentou duas vagas para indicados nas quatro principais categorias, o que aumenta o número de concorrentes e, também, de celebridades presentes na cerimônia. Vão estar lá alguns queridinhos de sempre, como Taylor Swift, Justin Bieber e Ed Sheeran, além de H.E.R., que vem sendo bastante reconhecida nas edições recentes, e Doja Cat, que tocou em março no Lollapalooza Brasil e é cada vez mais relevante para a Academia.

Mas o músico com mais indicações neste ano é Jon Batiste, um nome pouco conhecido no Brasil. Pianista da banda residente do talk show The Late Show with Stephen Colbert, ele concorre em 11categorias, incluindo duas das quatro mais importantes, com o disco "We Are". Batiste também pode ganhar em melhor trilha sonora, já que assina as músicas da animação "Soul" ao lado de Trent Reznor e Atticus Ross.

O Grammy não terá mais a apresentação do Foo Fighters, cujo baterista Taylor Hawkins morreu às vésperas de um show em Bogotá e deve ser homenageado. Olivia Rodrigo, Silk Sonic (duo de Anderson Paak com Bruno Mars), Billie Eilish, J Balvin, Carrie Underwood, John Legend e Lil Nas X, entre outros, subirão ao palco da premiação, que também vai comentar a guerra na Ucrânia e terá novamente Trevor Noah como apresentador.

Mas mais do que superar as baixas audiências recentes, o que o Grammy busca é voltar a ser relevante para o público e para o mercado. Will Page, um economista que estuda a indústria da música, disse ao New York Times que nas duas semanas depois da vitória de Adele há dez anos, as vendas do disco "21" renderam US$ 1 milhão para a artista. Enquanto isso, Taylor Swift teve ganhos em torno de US$ 50 mil no mesmo período e após vencer a mesma categoria que Adele, só que no ano passado, com o disco "Folklore".

São números que refletem o consumo de música disperso e pulverizado pela internet, mas também o quanto o Grammy perdeu a importância em termos de respeito do público pelo mundo afora.

Grammy 2022

  • Quando No domingo (3), a partir das 21h
  • Onde Transmissão da cerimônia no canal TNT

Confira os indicados ao Grammy 2022

Álbum do ano
​'We Are', de Jon Batiste
'Love for Sale', de Tony Bennett e Lady Gaga
'Justice (Triple Chucks Deluxe)', de Justin Bieber
'Planet Her (Deluxe)', de Doja Cat
'Happier than Ever', de Billie Eilish
'Back of My Mind', de H.E.R
'Montero', de Lil Nas X
'Sour', de Olivia Rodrigo
'Evermore', de Taylor Swift
'Donda', de Kanye West

Canção do ano
'Bad Habits ', de Ed Sheeran
'A Beautiful Noise', de Alicia Keys & Brandi Carlile
'Drivers License ', de Olivia Rodrigo
'Fight for You', de H.E.R.
'Happier than Ever', de Billie Eilish
'Kiss Me More', de Doja Cat e SZA
'Leave the Door Open', de Silk Sonic
'Montero (Call Me By Your Name)', de Lil Nas X
'Peaches', de Justin Bieber com Daniel Caesar & Giveon
'Right On Time', de Brandi Carlile

Gravação do ano
'I Still Have Faith In You', de Abba
'Freedom', de Jon Batiste
'I Get a Kick Out of You', de Tony Bennett e Lady Gaga
'Peaches', de Justin Bieber com Daniel Caesar & Giveon
'Right On Time', de Brandi Carlile
'Kiss Me More', de Doja Cat e SZA
'Happier than Ever', de Billie Eilish
'Montero (Call Me By Your Name)', de Lil Nas X
'Drivers License', de Olivia Rodrigo
"Leave the Door Open", de Silk Sonic

Artista Revelação
Arooj Aftab
Jimmie Allen
Baby Keem
Finneas
Glass Animals
Japanese Breakfast
The Kid Laroi
Arlo Parks
Olivia Rodrigo
Saweetie

Melhor performance solo pop
'Anyone', Justin Bieber
'Right On Time', de Brandi Carlile
'Happier than Ever', de Billie Eilish
'Positions', de Ariana Grande
'Drivers License', de Olivia Rodrigo

Melhor performance em grupo ou dupla de pop
'I Get a Kick Out of You', de Tony Bennett e Lady Gaga
'Lonely', de Justin Bieber e Benny Blanco
'Butter', de BTS
'Higher Power', de Coldplay
'Kiss Me More', de Doja Cat e SZA

Melhor álbum vocal de pop
'Justice (Triple Chucks Deluxe)', de Justin Bieber
'Planet Her (Deluxe)', de Doja Cat
'Happier than Ever', de Billie Eilish
'Positions', de Ariana Grande
'Sour', de Olivia Rodrigo

Mehor álbum vocal tradicional de pop
'Love for Sale', de Tony Bennett e Lady Gaga
'Til We Meet Again (Live)', de Norah Jones
'A Tori Kelly Christmas', de Tori Kelly
'Ledisi Sings Nina', de Ledisi
'That's Life', de Willie Nelson
'A Holly Dolly Christmas', de Dolly Parton

Melhor performance de rock
'Shot in the Dark', de AC/DC
'Know You Better (Live From Capitol Studio A)', de Black Pumas
'Nothing Compares 2 U', de Chris Cornell
'Ohms', de Deftones
'Making a Fire', de Foo Fighters

Melhor performance de heavy metal
'Genesis', de Deftones
'The Alien', de Dream Theater
'Amazonia', de Gojira
'Pushing the Tides', de Mastodon
'The Triumph of King Freak (A Crypt of Preservation and Superstition', de Rob Zombie

Melhor música de rock
'All My Favorite Songs', de Weezer
'The Bandit', de Kings of Leon
'Distance', de Mammoth WVH
'Find My Way', de Paul McCartney
'Waiting on a War', de Foo Fighters

Melhor álbum de rock
'Power Up', de AC/DC
'Capitol Cuts - Live From Studio A', de Black Pumas
'No One Sings Like You Anymore Vol. 1', de Chris Cornell
'Medicine At Midnight', de Foo Fighters
'McCartney III', de Paul McCartney

Melhor álbum alternativo
'Shore', de Fleet Foxes
'If I Can't Have Love, I Want Power', de Halsey
'Jubilee', de Japanese Breakfast
'Collapsed in Sunbeams', de Arlo Parks
'Daddy's Home', de St. Vincent

Melhor performance de R&B
'Lost You', de Snoh Aalegra
'Peaches', de Justin Bieber e Daniel Caesar & Giveon
'Damage', de H.E.R.
'Leave the Door Open', de Silk Sonic
'Pick Up Your Feelings', de Jazmine Sullivan

Melhor performance de R&B tradicional
'I Need You', de Jon Batiste
'Bring It on Home to Me', de BJ The Chicago Kid, PJ Morton & Kenyon Dixon featuring Charlie Bereal
'Born Again', de Leon Bridges featuring Robert Glasper
'Fight for You', de H.E.R.
'How Much Can a Heart Take', de Lucky Daye featuring Yebba

Melhor música de R&B
'Damage', de H.E.R.
'Good Days', de SZA
'Heartbreak Anniversary', de Giveon
'Leave the Door Open', de Silk Sonic
'Pick Up Your Feelings', de Jazmine Sullivan

Melhor álbum de R&B progressivo
'New Light', de Eric Bellinger
'Something to Say', de Cory Henry
'Mood Valiant', de Hiatus Kaiyote
'Table for Two', de Lucky Daye
'Dinner Party: Dessert', de Terrace Martin, Robert Glasper, 9th Wonder & Kamasi Washington
'Studying Abroad: Extended Stay', de Masego

Melhor álbum de R&B
'Temporary Highs in the Violet Skies', de Snoh Aalegra
'We Are', de Jon Batiste
'Gold-Diggers Sound', de Leon Bridges
'Back of My Mind', de H.E.R.
'Heaux Tales', de Jazmine Sullivan

Melhor álbum de rap
'The Off-Season', de J. Cole
'Certified Lover Boy', de Drake
'King’s Disease II', de Nas
'Call Me If You Get Lost', de Tyler, the Creator
'Donda', de Kanye West

Melhor música de rap
'Bath Salts', de DMX featuring Jaz-Z and Nas
'Best Friend', de Saweetie featuring Doja Cat
'Family Ties', de Baby Keem featuring Kendrick Lamar
'Jail', de Kanye West featuring Jay-Z
'My .Life', de J. Cole featuring 21 Savage and Morray

Melhor performance de rap
'Family Ties', de Baby Keem featuring Kendrick Lamar
'Up', de Cardi B
'My .Life', de J. Cole featuring 21 Savage and Morray
'Way 2 Sexy', de Drake featuring Future and Young Thug
'Thot Shit', de Megan Thee Stallion

Melhor performance de rap melódico
'Pride is the Devil', de J. Cole featuring Lil Baby
'Need to Know', de Doja Cat
'Industry Baby', de Lil Nas X featuring Jack Harlow
'WUSYANAM', de Tyler, the Creator featuring YoungBoy Never Broke Again e Ty Dolla $ign
'Hurricane', de Kanye West featuring The Weekend and Lil Baby

Melhor gravação dance/eletrônica
'Hero', de Afrojack e David Guetta
'Loom', de Olafur Arnalds e Bonobo
'Before', de James Blake
'Heartreak', de Bonoro e Totally Extinct Dinossaurs
'You Can Do It', de Caribou
'Alive', de Rufus du Sol
'The Business', de Tiesto

Melhor álbum de dance e eletrônica
'Subconsciously', de Black Coffee
'Fallen Embers', de Illenium
'Music Is the Weapon (Reloaded)', de Major Lazer
'Shockwave', de Marshmello
'Free Love', de Sylvan Esso
'Judgement', de Ten City

Produtor do ano, não clássico
Jack Antonoff
Hit-Boy
Ricky Reed
Mike Elizondo
Rogèt Chahayed

Melhor álbum de música urbana
'Afrodisíaco', de Raw Alejandro
'El Último Tour del Mundo', de Bad Bunny
'Jose', deJ Balvin
'KG0516', de Karol G
'Mendó', de Alex Cuba
'Sin Miedo (Del Amor y Otros Demonios) 8', de Kali Uchis

Melhor álbum de folk
'One Night Lonely (Live)', de Mary Chapin Carpenter
'Long Violent History', de Tyler Childers
'Wednesday (Extended Edition)', de Madison Cunningham
'They’re Calling Me Home', de Rhiannon Giddens com Francesco Turrisi
'Blue Heron Suite', de Sarah Jaros

Melhor álbum de jazz latino
'Mirror Mirror', de Eliane Elias com Chick Corea e Chucho Valdés
'The South Bronx Story', de Charles Henriquez
'Virtual Birdland', de Arturo O'Farril e Afro Latin Jazz Orchestra
'Transparency', de Dafnis Prieto Orchestra
'El Arte del Bolero', de Miguél Zeon e Luis Perdomo

Melhor filme musical
'Insidie', de Bo Burnham
'David Byrne’s American Utopia', de David Byrne
'Happier than Ever: A Love Letter to Los Angeles', de Billie Eilish
'Music, Money, Madness… Jimi Hendrix in Maui', de Jimi Hendrix
'Summer of Soul', vários artistas

Melhor clipe
'Shot in the Dark', de AC/DC
'Freedom', de Jon Batiste
'I Get a Kick Out of You', de Tony Bennett e Lady Gaga
'Peaches', de Justin Bieber featuring Daniel Caesar
'Happier than Ever', de Billie Eilish
'Montero (Call Me by Your Name)', de Lil Nas X
'Good 4U', de Olivia Rodrigo

Melhor álbum country
'Skeletons', de Brothers Osborne
'Remember Her Name', de Mickey Guyton
'The Marfa Tapes', de Miranda Lambert, Jon Randall, and Jack Ingram
'The Ballad of Dood & Juanita', de Sturgill Simpson
'Starting Over', de Christ Stapleton

Melhor música country
'Better than We Found It', de Maren Morris
'Camera Roll', de Kacey Musgraves
'Cold', de Chris Stapleton
'Country Again', de Thomas Rhett
'Fancy Like', de Walker Hayes
'Remember Her Name', de Mickey Guyton

Melhor trilha sonora
'Bridgerton', de Kris Bowers
'Dune', de Hans Zimmer
'The Mandalorian: Season 2 - Vol. 2', de Ludwig Göransson
'The Queen’s Gambit', de Carlos Rafael Rivera
'Soul', de Jon Batiste, Trent Reznor, and Atticus Ross

A cerimônia do Grammy 2021 aconteceu em março deste ano, com apresentação do comediante Trevor Noah. A edição foi marcada por transformar Beyoncé na artista mulher com mais gramofones da história –são 28 no total. A cantora Taylor Swift ganhou seu terceiro Grammy de disco do ano, com o álbum "Folklore".

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