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'Cidade Pássaro' mostra São Paulo de imigrantes sob olhar de nigeriano

Filme de Matias Mariani apresenta enquadramentos que exploram relação dos personagens com o espaço ao redor

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Cidade Pássaro

Filme brasileiro predominantemente legendado, "Cidade Pássaro", de Matias Mariani, conta a história de um músico nigeriano chamado Amadi, vivido pelo ator, também nigeriano, O. C. Ukeje, que chega a São Paulo à procura do irmão, Ikenna, suposto professor de matemática em uma faculdade.

Amadi descobre que a faculdade não existe, mas uma nova pista o leva ao Jóquei, onde ele aposta num cavalo azarão que termina vencedor e encontra um filho de imigrante húngaro que conheceu o seu irmão.

Encontros, desencontros, acasos, um tanto de sorte e muito de aventura perseguem Adami pelas ruas de uma cidade estranha –a ele e a todos que a habitam– e um tanto assustadora.

Talvez por falar em matemática e estatística, matéria de domínio do irmão procurado, o filme investe bastante na relação dos personagens com o espaço ao redor, em enquadramentos que denotam essa relação ao tirar o humano do centro das imagens ou ao o retratar em reflexões ou distorções.

Ficamos logo seduzidos pela atmosfera de estranheza habilmente construída por Mariani, enquanto Amadi continua sua jornada pelo mundo dos imigrantes que tentam a vida na cidade grande e cosmopolita. Porque o filme também é deles, dos imigrantes de São Paulo.

Talvez todos sejam estrangeiros nesta cidade que ao mesmo tempo acolhe e repele. Amadi é mais um e, nesse sentido, vai se tornando tão paulistano quanto qualquer um que vive na cidade.

Quando se aprofunda no drama familiar, o filme enfraquece. Não porque os irmãos sejam personagens desinteressantes, mas porque o diretor não parece tão hábil na dramaturgia quanto na estilização arquitetônica dos quadros.

A obsessão em descobrir o paradeiro do irmão e dar uma satisfação à mãe distante impede que Amadi invista em sua relação com Emília, companheira de trabalho com quem inicia uma bonita história de amor. E aí ficamos no meio do caminho, sem muita definição entre uma e outra instância do drama.

Também a direção começa a oscilar na busca por um estilo e passa a ser engolida pelo espaço em alguns momentos, quando a arquitetura se torna mais invasiva do que um traço estético.

Felizmente, são poucas essas oscilações e o filme reserva ainda alguns momentos de poesia. A direção, se não volta a encontrar totalmente o rumo, ao menos permite que entremos finalmente no drama do protagonista.

Matias Mariani dirigiu, com Maíra Bühler, a diretora de "Diz a Ela que Me Viu Chorar", o surpreendente "A Vida Privada dos Hipopótamos". Com "Cidade Pássaro", ele faz uma estreia solo de inegável competência.

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