“Isso é uma ação do Google?” A pergunta feita por uma jovem ao artista visual Tadeu Jungle, enquanto ele coordenava nesta semana a instalação de um adesivo de 555 metros quadrados com a frase “Você Está Aqui” no parque Ibirapuera, fez com que o autor voltasse duas décadas no tempo.
O ano era 1997. Ele distribuía adesivos com essas mesmas palavras, no mesmo parque, quando um idoso parou e questionou: “Isso é uma campanha de seguros?”.
“É uma frase muito popular, mas que gera estranheza quando está deslocada. As referências dos anos 1990 eram muito diferentes das de hoje, mas o impacto segue parecido”, acredita Jungle.
A ideia da obra “Você Está Aqui” surgiu em 1982, quando o artista viajava pela Europa e não conseguiu se localizar no mapa de uma estação, porque o objeto não trazia a indicação de onde os viajantes e perdidos estavam no meio do emaranhado de ruas e avenidas. Ou seja, não tinha um “você está aqui”.
Ao voltar ao Brasil, Jungle transformou essas três palavras em poesia visual, em um misto de literatura, instalação gráfica e performance. Para isso, já em 1997, imprimiu 10 mil adesivos vermelhos em parceria com Guto Lacaz e colou os papeizinhos com a frase por toda São Paulo e em outras cidades do mundo. No mesmo ano, fez ainda uma exposição com diferentes objetos —todos traziam o tal “Você Está Aqui”.
Neste sábado (25), dia em que a cidade de São Paulo completa 466 anos, a instalação será feita pela primeira vez em uma escala maior.
As três palavras, com o mesmo fundo vermelho dos adesivos dos anos 1990, vão preencher com letras garrafais brancas uma das empenas cegas do MAC, o Museu de Arte Contemporânea, no parque Ibirapuera, em São Paulo.
A negociação teve início ainda em 2016 e levou três anos e meio até obter a aprovação dos órgãos de conservação de patrimônio, já que preenche toda a lateral do edifício tombado e projetado por Oscar Niemeyer.
O museu vai exibir ainda uma linha do tempo do projeto e alguns dos objetos da mostra de 1997. Mas a grande atração é o painel externo, que concretiza a inspiração do artista em Marcel Duchamp e em outros nomes que inseriram coisas do dia a dia no circuito das artes.
“Não é uma obra figurativa, nem abstrata, nem um verso, nem uma frase. É um poema visual que trabalha com um sentimento de estranheza”, define o autor. “Porque, se você não sabe onde está, também não tem para onde ir.”
Ou, como bem percebeu a jovem que interrompeu Jungle, se você não sabe onde está, pergunte ao Google.
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