“Aspirantes”, longa de estreia de Ives Rosenfeld, esteve no Festival do Rio de 2015, mas só agora chega ao circuito comercial. E não há nada no filme que justifique esse atraso.
Temos dois amigos da pequena Saquarema (RJ) que buscam um lugar ao sol no futebol profissional.
Bento (Sérgio Malheiros) é obviamente talentoso, e já está com um futuro armado. Júnior (Ariclenes Barroso) atravessa uma crise com a gravidez da namorada Karine (Julia Bernat), o que atrapalha seu rendimento no time amador da cidade.
O longa nem sempre é bem-sucedido, mas há momentos em que uma verdade rara é alcançada. Nas cenas de futebol, por exemplo. Não é fácil filmar esse esporte traiçoeiro. O que Rosenfeld consegue, com o uso da câmera lenta e o ângulo aproximado, é um assombro.
São imagens que nos levam a perceber também a derrocada de Júnior a partir de seu medo do futuro e da frustração. O orgulho faz com que ele recuse a ajuda do amigo, cujo sucesso aumenta seu ciúme.
O entendimento da amizade entre os dois e das coisas que não controlamos, mas podem dominar nossa mente, é igualmente raro em um diretor jovem. Por isso relevamos a fragilidade de alguns diálogos.
Em determinado momento, Karine discute com a mãe (Karine Teles), depois com o padrasto, todos observados por Júnior, mais próximo da câmera e o único em foco. O diálogo não é grande coisa, mas o enquadramento o transforma.
No final da cena, Karine senta em frente a ele, dentro da área focal, denotando o interesse do diretor, a juventude, enquanto a geração mais velha permanece fora do foco.
É por essas soluções de encenação que os diálogos não incomodam tanto. E é pelas cenas impressionantes (e impressionistas) de futebol que o filme permanece conosco.
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