Famosa pelas estampas de bolinhas, Yayoi Kusama foi de camelô a balão em NY

Há quem atribua o atual sucesso da artista japonesa à geração Instagram

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Robin Pogrebin
Nova York | The New York Times

Em meio às estampas de bolinhas, espelhos e abóboras de suas obras de arte, Yayoi Kusama vem incorporando mensagens poéticas, como a  da exposição na galeria David Zwirner, em Nova York, que inclui a frase: “Com o desafio de criar arte nova, trabalho como se estivesse para morrer; essas obras são tudo para mim”.

E existe poesia —ou, quem sabe, justiça poética— inegável naquilo que está acontecendo com a carreira de Kusama. Quando jovem, a artista deixou sua terra natal, Matsumoto, no Japão, e foi morar em Nova York, e sempre enfrentou dificuldades para ser levada a sério pelo mundo da arte. 

Em 1966, ela vendia suas bolas espelhadas por US$ 2, diante da sede da Bienal de Veneza, trabalhando como camelô —o que representava tanto uma crítica à mercantilização da arte quanto um apelo.

Mas só neste ano, além da exposição na Zwirner, houve não menos de 18 versões da instalação “Infinity Mirror Room” em cartaz em todo o mundo. 

O Jardim Botânico de Nova York anunciou uma mostra de Kusama para maio de 2020, e em seu desfile de Dia de Ação de Graças, a loja Macy’s exibirá o primeiro balão de Kusama. O fenômeno é mundial. No ano que vem, três instituições de arte europeias vão apresentar uma retrospectiva coletiva da artista.

“É uma grande confirmação, uma grande validação”, diz Alexandra Munroe, curadora de arte asiática no Guggenheim.

Há quem atribua a mania de Kusama à geração Instagram, com jovens fazendo fila para tirar selfies nas salas “Infinity” de espelhos, cores e luzes.

Outros dizem que sua história pessoal envolvente, como uma mulher asiática que viajou sozinha aos Estados Unidos e batalhou contra seus demônios (ela vive em uma instituição psiquiátrica em Tóquio), ecoa as questões de política de identidade, imigração e saúde mental de hoje.

Qualquer que seja a razão para a popularidade, Kusama, agora está atingindo uma nova categoria de fãs entusiásticos da arte e colecionadores.

“Desde que começamos a exibir trabalhos de Kusama, nossa audiência se tornou mais jovem e mais diversa”, diz Zwirner. “Já não estamos falando de arte voltada a uma elite, mas a interessados em todas as formas de cultura”.

Kusama se diz satisfeita por seu trabalho estar causando algum impacto. “Produzo obras com meus pensamentos e as mensagens profundas que enviei sobre vida e morte, paz e amor, na esperança de que minha arte atinja muitas pessoas”, diz ela, por email.

Mas há quem encare o renome como uma manipulação. “É uma jogada dela”, diz Robert Storr, crítico e curador conhecido pelas opiniões francas. “Ela tem um ego enorme, embora danificado. É uma vida inteira de devoção à construção de seu próprio mito.”

Zwirner, no entanto, diz que os atrativos da artista para as massas não negam seu peso histórico. “Com suas obras iniciais, ela fincou uma bandeira no minimalismo antes que conhecêssemos o termo. [...] Não existe um grande museu que não tenha um Kusama, ou não queira ter.”

Trabalhos dela fazem parte do acervo dos museus Guggenheim e Whitney e da Tate Gallery, entre outros.

Mais de 4.700 pessoas contribuíram para uma campanha de financiamento coletivo para que a Galeria de Arte de Ontário adquirisse a primeira “Infinity Mirror Room” permanente do Canadá, aberta em maio. E dois anos atrás, Kusama abriu um museu pessoal em Tóquio.

Muita gente atribui a explosão de popularidade de Kusama a “Yayoi Kusama: Infinity Mirrors”, mostra do Museu e Jardim de Esculturas Hirshhorn de 2017, que viajou a cinco outras instituições.

​Kusama foi precursora de diversos movimentos históricos importantes para a arte. Ela produziu esculturas de materiais moles antes de Claes Oldenburg; arte pop no mesmo momento que Andy Warhol; salas espelhadas antes de Lucas Samaras; e arte performática em 1969, quando entrou nua na fonte do jardim de esculturas do Museu de Arte Moderna de Nova York.

Ela também se tornou um símbolo de perseverança. A despeito da vida pessoal sombria, Kusama continua a produzir arte quase todos os dias —as 45 pinturas na mostra da galeria Zwirner são novas.

Tradução de Paulo Migliacci

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