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Mostra imperdível no IMS se debruça sobre cineastas portugueses

Não há figura mais importante que António Reis, representante do segundo momento de cinema moderno de Portugal

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No cinema moderno português, alguns nomes são incontornáveis: Paulo Rocha, Fernando Lopes, João César Monteiro e Manoel de Oliveira, veterano adotado pelo grupo, são cineastas de grande importância para a renovação cinematográfica dos anos 1960 e 1970.

Não há, contudo, figura mais importante que António Reis (1927-1991), representante do segundo momento de cinema moderno português, aquele que se inicia com o regime de abertura relativa de Marcello Caetano (1906-1980), após a morte de António Salazar (1889-1970).

O cinema de António Reis e de sua esposa, Margarida Cordeiro, é tema de uma retrospectiva imperdível no IMS – São Paulo, a partir de 8 de outubro.

Serão exibidos os três longas realizados pelo casal, mais dois curtas do início da carreira de Reis, o segundo longa de Paulo Rocha, "Mudar de Vida" (1967), no qual António Reis colaborou escrevendo os diálogos, e o média-metragem "Jaime" (1974).

O longa de 1967 surge num momento de dificuldade da primeira leva do Novo Cinema Português, em que os filmes eram elogiados pela maior parte da crítica, mas não conseguiam retorno nas bilheterias. Com o impasse, percebeu-se a necessidade de brigar por um sistema de subsídios, o que aconteceria só na década seguinte.

"Mudar de Vida" conta com o brasileiro Geraldo Del Rey no papel principal. Paulo Rocha tornou-se grande amigo de Glauber Rocha e resolveu usar o mesmo ator de "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1963).

"Jaime" é referência (junto com o Boudu de Jean Renoir) para um dos mitos do cinema português: o iconoclasta João de Deus, protagonista de três filmes realizados por João César Monteiro (em que ele mesmo interpreta o personagem).

Jaime Fernandes, protagonista ausente, era paciente do Hospital Miguel Bombarda, onde ficavam as pessoas com problemas mentais. Aos 65 anos, começou a pintar, e prosseguiu até morrer, em 1969. A ausência, então, é relativa, já que seus sentimentos podem ser vistos por meio de sua arte.

Reis realiza assim um dos documentários essenciais da filmografia portuguesa, influenciando praticamente todos os futuros realizadores. Alguns, como Pedro Costa, foram alunos de Reis na Escola Superior de Teatro e Cinema.

Ainda em 1974, Reis começa a filmar com sua esposa, Margarida Cordeiro, "Trás-os-Montes" (1976), na região norte, a mais pobre do país. É o longa que ultrapassa o cinema etnográfico que se buscava em Portugal após o 25 de abril (a chamada Revolução dos Cravos de 1974), rumo a um cinema mais filosófico, de incrível força poética e estilo marcante.

Na segunda metade dos anos 1970, o cinema português entrava em uma nova fase, enquanto o país vivia um turbulento processo de redemocratização, após 48 anos de ditadura.

O cinema entrava em sua era de subsídios, via IPC (Instituto Português de Cinema), e começava a finalmente esboçar uma regularidade, embora nunca tenha sido fácil ser cineasta em Portugal.

Nesse contexto, Reis e Cordeiro realizam, de modo independente, "Ana" (1982), mais uma obra-prima de imagens inesquecíveis e construção riquíssima, que explora a memória pessoal e a essência de um país pequeno, mas cheio de mundos possíveis.

Filmado em 1981 e exibido pela primeira vez no festival de Figueira da Foz, "Ana" só estrearia em 1985, o que dá uma medida das dificuldades enfrentadas pelos cineastas portugueses.

Na mesma toada, filmam "Rosa de Areia" (1989), exemplo perfeito do cinema de poesia, encerrando um conjunto de obra singular e dos mais coerentes que essa arte já viu.

RETROSPECTIVA MARGARIDA CORDEIRO & ANTÓNIO REIS

  • Quando 8 a 16 de outubro
  • Onde IMS Paulista - av. Paulista, 2424
  • Preço de R$ 4 a R$ 8
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