Nascido em uma família ligada ao cinema e diretor de duas dezenas de longas, Bruno Barreto não lança um filme há seis anos. Desde então, o cineasta vem se dedicando a projetos para a televisão.
Tem três minisséries prontas para estrear. Duas delas devem chegar à HBO em 2020: “O Hóspede Americano”, sobre a expedição que o ex-presidente Theodore Roosevelt fez à selva amazônica em 1913, com o marechal Rondon, e “A Escravidão no Século 21”, sua primeira incursão no documental.
A terceira série vai ao ar nesta sexta (25), pelo Canal Brasil. Em “Toda Forma de Amor”, quase todos os personagens se encaixam em alguma letra da sigla LGBT e seus derivados. Escritos por Marcelo
Pedreira e rodados em São Paulo durante apenas um mês, em 2017, os cinco episódios retratam relações afetivas que fogem ao padrão monogâmico e heteronormativo.
“Mas o assunto não é o universo gay”, diz Barreto. “A arte não pode ser militante ou engajada, tem de estar acima das ideologias. O tema da série é a condição humana. Como é que alguém que não se encaixa nas regras da sociedade consegue sobreviver?”
“Toda Forma de Amor” foi feita com recursos do Fundo Setorial do Audiovisual. Mas Barreto acredita que o cinema e a TV brasileiros dependerão cada vez menos desse tipo de financiamento público. “A Netflix e a Amazon estão produzindo conteúdo nacional sem nenhum incentivo estatal”, afirma.
Barreto relutou muito em participar da política do audiovisual —até porque seu pai, o produtor Luiz Carlos Barreto, sempre foi uma das vozes mais ativas do setor. Mas esteve na primeira reunião do Conselho Superior do Cinema sob o novo governo, realizada em Brasília no último dia 16, e saiu de lá confiante.
“Temos que tomar cuidado com essa coisa de ‘ah, está tendo censura’. Não está tendo censura. Eu vivi a censura. Censura é você ter seu filme cortado. Isso [o ‘filtro’, como classifica Bolsonaro] também existia nos governos do PT. Só que o PT não saía falando por aí, não tinha essa ingenuidade.”
Seu filme “Última Parada 174”, que tentou uma vaga para o Brasil no Oscar de 2008, não obteve financiamento de empresas estatais.
“Uma pessoa que eu conheço e que estava em um comitê me contou que ali diziam que o Brasil não precisava de mais um filme de favela.”
“Toda Forma de Amor” marca a estreia profissional da atriz transexual Gabrielle Joie. Atualmente ela integra o elenco da novela “Bom Sucesso” (Globo), mas a série foi gravada antes do folhetim.
“Ela fez um ótimo teste e ganhou o papel, mas eu nunca me senti obrigado a usar uma atriz trans para fazer um personagem trans”, diz Barreto. “A realidade pode se dar ao luxo de ser inverossímil. A ficção, não.”
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