Um jogador de futebol talentoso, mas muito mimado, que troca de mulher como quem troca de camisa.
Participa de mais de dez campanhas de publicidade, o que lhe garante carros caríssimos na garagem. O corte de cabelo, sempre irreverente, é uma prioridade.
Não é Neymar, mas a vida do personagem italiano Christian Ferro (Andrea Carpenzano) pode ser vista como uma paródia à trajetória instável do atacante brasileiro do Paris Saint-Germain. É possível observar ainda outras referências. Como usa o número 24 na sua camisa do time da Roma, Ferro ostenta a marca CF24, como o português Cristiano Ronaldo faz com o CR7.
Diante de atos de indisciplina do seu principal jogador, dentro e fora de campo, o presidente da Roma decide contratar um professor (Stefano Accorsi) para orientar Ferro na busca do diploma do ensino médio.
Quem sabe assim o atleta se tornaria mais equilibrado, menos propenso às encrencas.
Primeiro longa dirigido por Leonardo D’Agostini, “Desafio de um Campeão” é, em suma, o retrato dessa convivência intensa entre homens de temperamentos, visões de mundo e idades tão diferentes.
Filmes de ficção em torno do futebol, em geral, investem em episódios do passado, na tentativa de recuperar um romantismo que não existe mais. O grande mérito de “Desafio de um Campeão” é justamente se arriscar num retrato contemporâneo de um jovem e badalado atacante.
Ferro despreza os compromissos assumidos com o professor, fica perplexo quando não é reconhecido como estrela e não gosta que as pessoas toquem nele. O filme se sai bem ao explorar o ridículo que há em todo esse esnobismo.
Outro acerto se revela quando as câmeras vão a campo. Ao contrário do boxe, por exemplo, é difícil encenar uma partida de futebol, já que são inúmeras e imprevisíveis as situações de jogo, com muita gente envolvida. D’Agostini opta, muitas vezes, pela fragmentação das imagens, alcançando um resultado satisfatório.
Além de carismático, o ator Andrea Carpenzano demonstra familiaridade com o esporte, o que também ajuda.
A certa altura do filme, os comentários irônicos e as cenas de futebol vão para segundo plano. Vem à tona uma narrativa adocicada, que provoca um efeito de banalização. O saldo é positivo, no entanto.
Sabemos que o cinema contemporâneo italiano está distante dos dias de glória. Nesse sentido, “Desafio de um Campeão” é uma boa surpresa. Ou um belo gol.
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