Fascínio de arquiteto estrangeiro por SP gera livro e mostra, 'Biografia Gráfica'

Sem ignorar desafios, equatoriano Felipe Correa enxerga casos para serem reconhecidos como exemplares para outras cidades

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São Paulo

Um estrangeiro pode vislumbrar qualidades de um lugar que o morador não mais percebe de tão acostumado. O arquiteto Felipe Correa, um equatoriano naturalizado americano, reconhece que São Paulo tem muitos problemas, mas também nota uma série de lições de urbanismo aqui contidas.

O encantamento deste professor da Universidade da Virginia, Estados Unidos, pela capital paulista começou já no seu primeiro contato visual com a cidade. Sentado em um assento junto à janela do lado esquerdo do avião momentos antes de aterrissar no aeroporto de Guarulhos, Correa ficou impressionado ao enxergar o imenso conjunto de ruas com uma infinidade de construções de baixa altura, porém pontuadas com muitas torres espalhadas por todos os lados. Ficou fascinado por uma vista considerada, por tantos paulistanos, banal e até feia: “eu senti vontade de entender a mecânica que permitiu esse modo de urbanismo.”

Deste interesse surgiu o “São Paulo: uma Biografia Gráfica” em formato tanto de livro bilíngue de 336 páginas publicado pela editora da Universidade do Texas com a Romano Guerra, quanto de exposição aberta até o dia 15 de novembro na Galeria da Escola da Cidade. Ambos resultam de uma pesquisa de dois anos financiada pela fundação de Claudio Haddad, presidente do conselho do Insper.

Os estudos foram desenvolvidos por um grupo interdisciplinar que contou com professores, curadores e pesquisadores da Ásia, Europa e todo o continente americano. 

Como metodologia, Correa incita explicitamente o diálogo de moradores de São Paulo com pessoas vindas de fora com distintas referências culturais.

O título “Biografia Gráfica” é uma fidedigna síntese para o trabalho: uma demonstração dos processos de crescimento de São Paulo —em especial no século 20— por meio de mapas, diagramas, fotografias, desenhos de época ou produzidos para a publicação. Fazendo uso das imagens como linguagem, o objetivo é apresentar didaticamente a evolução das formas urbanas vivenciadas cotidianamente.

A análise das geometrias da cidade revela seu caráter caleidoscópico. Segundo Correa, por não ter tido um projeto urbano totalizante na gênese de sua expansão (como houve, por exemplo, a grelha de Manhattan), São Paulo tornou-se como “uma coleção de cidadelas”. 

Conforme ia incorporando uma gleba antes natural ou rural, adotavam-se distintos conjuntos de traçados de ruas. O resultado são “diversas formas de cidade dentro da cidade”, de modo que seja impossível encontrar uma imagem síntese do todo. A metrópole paulista é, portanto, vista pela equipe de pesquisa como um laboratório de experimentos urbanos.

Na exposição, tal característica fragmentária é enfatizada por meio de dezenas de maquetes com trechos da malha urbana sobre pedestais de madeira. A mostra também contém uma linha do tempo de projetos urbanísticos que idealizaram possíveis futuros para São Paulo —alguns realizados, outros parcialmente implementados e muitos que permaneceram no papel.

O professor defende que o porvir paulistano passa necessariamente por uma modificação do papel dos rios para a cidade. Ele utiliza recorrentemente a palavra “utilitário” para definir a relação que agentes públicos e planejadores urbanos visaram com a rede fluvial. O livro aponta que a bacia hidrográfica foi colocada a serviço de uma lógica produtiva por séculos, mas não se propunha que se estabelecesse uma relação próxima à vida cotidiana do cidadão.

Uma nova postura iniciou-se nos últimos quinze anos em virtude, em grande medida, das pesquisas capitaneadas pelo professor da USP Alexandre Delijaicov, autor de um dos artigos do livro. Em consonância, Correa defende “uma nova dimensão cívica e cultural” para o Tietê, Pinheiros, Tamanduateí e outros: passando pelas ideias de fruição, lazer e restauração ecológica de suas margens.

Sem ignorar desafios, o tom da fala e da escrita de Felipe Correa mantém uma boa dose de otimismo. E consegue enxergar, em casos como o Centro Cultural São Paulo e o Copan, projetos em São Paulo para serem reconhecidos como exemplares para outras cidades do mundo —o livro teve lançamentos em Londres, Lisboa, Nova York e, em breve, em Seul.

São Paulo: uma Biografia Gráfica

  • Preço R$ 130 (336 págs.)
  • Autor Felipe Correa
  • Editora Romano Guerra

São Paulo: uma Biografia Gráfica - Exposição

  • Quando Até 15/11
  • Onde Galeria da Cidade - r. General Jardim, 65
  • Preço Grátis
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