Dos atores franceses revelados nos últimos 20 anos, Romain Duris é provavelmente o mais talentoso. Em “A Nossa Espera”, ele tem uma performance tão notável, sentida, que é uma lástima que a fotografia seja tão escura; seria entusiasmante poder verificar com mais clareza as expressões faciais e as bem elaboradas nuances no rosto do ator.
Mas a opção do cineasta belga Guillaume Senez por imagens pouco iluminadas faz sentido: é um filme sobre um período tenso, tenebroso, na vida de um homem.
Duris é Olivier, operário em uma grande fábrica, pai de duas crianças, mas que mal consegue ter vida fora do ambiente profissional. Quando sua mulher abandona repentinamente o lar, sem explicações, força-o a se desdobrar entre seu trabalho, os afazeres domésticos e a criação dos filhos. Olivier tenta se adaptar à nova rotina.
Em tempos de valorização da mulher, pode soar inoportuno um filme que mostre uma personagem feminina abandonando duas crianças, sem dar satisfação à família. E em que o homem consegue heroicamente se manter trabalhando e acumular papeis tradicionalmente femininos.
Mas o longa já está um passo adiante: para começar, diz que o homem precisa dedicar tempo aos filhos. Mas, além disso, simplesmente entende que a mulher, enquanto ser humano (e ser socialmente oprimido), tem direito a ter dúvidas, vulnerabilidade, hesitações. Se ela foi embora, não o fez sem motivo: estava de fato mal, precisando de ajuda.
Que fique claro: “A Nossa Espera” não defende o abandono ao lar, assim como outro filme famoso de mesmo tema, “Kramer vs. Kramer” (1979), também não o fazia: apenas fala de uma mulher em tal nível de fragilidade que precisa de um tempo para recuperar forças, para só depois voltar a atender às necessidades dos que dela dependem.
Não é o caso de exaltar o “pai herói” ou de demonizar a mãe ausente; assume-se que o mundo ultracapitalista de hoje é capaz de deixar qualquer um à beira de um colapso.
Senez sacrifica qualquer virtuosismo estético em nome da história que narra. Sente-se falta de algum arrojo narrativo, mas o filme tem tanta humanidade, e os personagens são tão ternos e compreensivos que a mensagem se sobrepõe ao estilo. Lida com um tema complexo com sobriedade para evitar que o longa vire um mero drama lacrimoso (a recusa à trilha sonora é um acerto). O que já é muita coisa.
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